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12 vezes em que você fez política mesmo sem perceber

A política não é só feita por políticos nem faz parte do nosso cotidiano apenas em tempos de eleição. Por quê? Pois a vida, por si só, já é um ato político

Por Gabriela Junqueira Atualizado em 30 out 2024, 23h15 - Publicado em 11 nov 2020, 15h06
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CAPRICHO/Sestini/Reprodução

“O homem é um animal político”. Esta frase foi dita pelo filósofo grego Aristóteles, uma vez que a política foi criada para regular os conflitos da pólis, que é o lugar onde a vida pública acontece e é compartilhada. Afinal, nós vivemos em sociedade, certo? É por isso que precisamos desmistificar essa coisa de que quem faz políticas são apenas os políticos ou que ela só está presente em nossas vidas em épocas de eleição. Todos nós fazemos política, todos os dias, em casa, na rua, na escola, faça chuva ou faça sol. Isto porque nossa existência, por si só, já é um ato político – e a de algumas pessoas é ainda mais!

Por exemplo, você sabia que o Brasil é um dos países mais racistas e LGBTfóbicos do globo? Pois é, são dados para ninguém sentir orgulho. Ser uma brasileira negra e lésbica é todo dia enfrentar uma sociedade patriarcal, que está mudando com a diária luta feminina (oi de novo, política!), mas que ainda é programada por e para uma maioria no poder de homens brancos e heterossexuais. Em 2018, a passista Gabriela Dias deu a seguinte declaração para a CAPRICHO, que tem tudo a ver com o assunto em questão: “Merecemos esse destaque porque esse lugar é historicamente nosso. Vou usar esse palco para provocar. Estar na avenida é um ato político”, disse quando questionada sobre o papel de destaque das mulheres negras no Carnaval. Ou seja, tirar o título de eleitor e votar é fazer política, mas todo o caminho que te levou até a urna, com suas escolhas, seus direitos e deveres, é tão político quanto.

Política sem perceber

Em parceria com o Politize!, uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos cuja missão é formar uma nova geração de cidadãos conscientes e comprometidos com a democracia, a CAPRICHO separou uma série de ações cotidianas que são atos políticos e talvez você nem saiba.

1. Ser quem você é, do jeitinho que é

Suas roupas podem significar muito mais do que um estilo. Afinal, a moda sempre esteve ligada à política e às formas de expressão! Uma peça que foi símbolo de transformações sociais nos anos 60 foi a minissaia, que se popularizou quando o mundo vivia a 2ª onda do movimento feminista, ao mesmo tempo em que a contracultura, como o movimento hippie, contestava os padrões pré-estabelecidos. Este período ficou conhecido nos Estados Unidos como Woman Liberation (“Libertação Feminina”, em português)

Mas essa peça de roupa é apenas um exemplo de como a moda não é só sobre seguir tendências ou fazer combinações. É sobre expressão! E tem coisa mais democrática e deliciosa que a liberdade de ser quem é? Apesar de isso ainda ser uma utopia para alguns grupos, por questões, em sua maioria, religiosas e sociais, a individualidade é um dos atos políticos mais poderosos que o ser humano pode exercer – e é um dever de todos respeitá-la.

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2. Começar um projeto social na sua escola

Sabe aquela proposta que você criou para debater assuntos importantes da pólis na escola, seja ela um grêmio estudantil, um coletivo feminista, um grupo de combate ao racismo ou até um clube do livro? Passar o conhecimento para frente e colaborar para que outros estudantes tenham mais possibilidades, em um país em que a desigualdade de ensino é gigante, é fazer política.

No Brasil, por causa da pandemia de coronavírus, o abismo já existente entre o ensino público e o privado cresceu e assim deve continuar nos próximos anos. Pensando em ajudar aqueles menos privilegiados, um grupo de seis alunos criou o Enem Solidário, uma apostila online e gratuita com conteúdos para se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio. Que tal se inspirar em ideias que transformam o seu mundo? Não precisa nem ser o mundo todo, não!

+ LEIA TAMBÉM: Não, nós nunca tivemos um governo feminista

3. Escolher demonstrar carinho em público (sim, estamos falando de andar de mãos dadas e beijar!)

Dar as mãos, abraçar e beijar são formas de expressar carinho. Até aí nenhuma novidade, certo? Entretanto, na sociedade machista, racista e homofóbica em que vivemos, nem todas as formas de amor (ainda) são aceitas. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Grupo Gay da Bahia, em 2018, a cada 20h uma pessoa morre vítima de LGBTfobia no Brasil, país que lidera o ranking mundial de crimes contra minorias sexuais.

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Ser um casal LGBTQIA+ ou interracial e demonstrar amor em público neste cenário é enfrentar riscos que outros casais não enfrentam e, por isso, escolher ter essas demonstrações de afeto em lugares não seguros se torna um ato político de resistência.

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4. Diminuir o consumo de carne

Se você decidiu parar de comer, saiba que essa decisão tem impactos que vão muito além do seu cardápio. Revisar o consumo de carne, além de ser uma questão ligada à saúde e à preservação da vida animal, é também deixar de apoiar uma das indústrias que mais degradam o meio ambiente: a do agronegócio.

Além do desmatamento e dos gases emitidos, que são um dos maiores causadores do efeito estufa, a indústria da carne também polui, gasta água e energia de maneiras não sustentáveis. Para se ter uma ideia, segundo a Embrapa, mais de 15.000L de água são utilizados na produção de 1kg de carne bovina. Sendo assim, escolher comer, comer menos ou não comer é fazer política.

Política sem perceber

5. Praticar um esporte

Desde cedo é possível perceber que os meninos são mais incentivados a praticar esportes que as meninas. E não estamos falando apenas de modalidades ainda vistas erroneamente como “masculinas”, como o futebol. A falta de estímulo que essas garotas recebem as influenciam por toda a vida. Segundo o relatório Movimento é Vida, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, no Brasil, a prática esportiva feminina é 40% menor que a masculina.

No país, até os anos 80, as mulheres sequer podiam jogar futebol e praticar outros esportes, como rugby e qualquer tipo de luta, sendo proibidas por lei. Além da proibição do Estado, as que se arriscavam no futebol, por exemplo, precisavam lidar com os olhares e comentários machistas vindo de homens e mulheres. Hoje, apesar de a lei em questão ter sido abolida, o sexo feminino precisa quebrar barreiras todos os dias para estar em campo, na pista de skate, na quadra, no tatame… Ser atleta é desafiar um sistema que não mais pode ganhar.

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6. Fazer trabalho voluntário

Ao fazer trabalho voluntário, como explica o Politize!, você faz parte da construção de um mundo novo, conhece uma rede de pessoas que também está buscando mudar a realidade, exerce sua cidadania e age de forma ativa em uma determinada causa para a transformação da sociedade.

A lei brasileira considera trabalho voluntário ações que têm objetivos recreativos, culturais, cívicos, educacionais, assistenciais e científicos. Entre os principais tipos, estão ações como ajudar idosos, amparar animais, distribuir alimentos e agasalhos para moradores de rua, e dar aulas em cursinhos gratuitos. Mas a lista é muito mais extensa, viu? E é possível realizar um voluntariado sem sair de casa. Basta entrar em contato com a ONG de sua preferência. Rola dar aula online de reforço escolar, ler para crianças, conversar e fazer companhia para idosos, promover arrecadações, etc.

7. Usar as redes sociais para lutar por causas sociais

Ouvimos muito falar sobre o lado ruim das redes sociais – e com razão -, mas não podemos ignorar que elas podem ser usadas como ferramentas para ajudar o próximo e defender causas em que acreditamos. Através das redes, é possível compartilhar informações (nada de fake news, hein?), fazer com que mensagens cheguem a mais pessoas e cobrar governantes.

Um exemplo recente foi o do movimento #BlackLivesMatter, que luta contra a desigualdade e a discriminação racial, e a violência policial. Ele nasceu em 2013 e tomou força após a morte de George Floyd, homem negro que foi estrangulado por um policial branco no Minnesota, EUA.  Ao compartilhar o caso, o movimento conseguiu chamar a atenção de mais pessoas e paralisar as redes com um onda de protestos políticos – e, se você fez parte deles de alguma forma, você ajudou a fazer política!

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8. Ter um canal no YouTube

Criar um canal no YouTube pode ser uma maneira de compartilhar ideias, dar voz ao que você acredita e ajudar outras pessoas com conteúdos que você domina. Em entrevista para a CAPRICHO, a YouTuber Nath Finanças contou que criou seu canal porque sentia que o conhecimento sobre o assunto [no caso, finanças] precisava ser passado de uma forma mais didática e real.

“Meu professor de matemática foi quem me motivou, porque ele explicava tudo de uma forma tão fácil, tão tranquila e tão didática, que pensei: ‘Isso tem que ser passado para mais pessoas, isso tem que ser disseminado'”, revelou Nath, que é uma influenciadora e faz política, assim como o Felipe Neto, a Alexandra Gurgel, a Gabi Oliveira… E, por que não, assim como você!

+ LEIA MAIS: Desmentindo 13 fake news que já foram espalhadas pelo atual governo

9. Escolher uma profissão

Política é tomar decisões, e isso inclui fazer escolhas sobre o caminho que iremos traçar, ainda mais quando ele afeta a vida de outras pessoas. Escolher qual profissão seguir, por exemplo, é fazer política, pois, de alguma maneira, durante sua carreira, essa decisão vai impactar de alguma forma a sociedade.

Por exemplo, uma pessoa que gosta de cuidar de pessoas e lidar com situações delicadas, pode colocar em prática as suas habilidades trabalhando como enfermeira. Alguém que se dá bem ajudando outras pessoas a se defenderem e lutarem pelos seus direitos, pode se encontrar e fazer a diferença no Direito. Então, saiba que ao escolher uma profissão você está tomando uma decisão que pode ter um impacto bem maior do que imagina!

10. Descartar seu lixo de maneira responsável

O descarte incorreto de lixo é um dos responsáveis pela poluição dos oceanos, contaminação do solo, além de contribuir para o surgimento de vetores que transmitem doenças, como mosquitos. Mais de 25 milhões de toneladas de lixo chegam aos oceanos todos os anos e, segundo um estudo realizado pela Universidade de Queensland, na Austrália, 100 mil animais marinhos morrem por ano por causa da poluição. Segundo um estudo realizado pelo Fundo Mundial para a Natureza, do WWF, em 2019, o Brasil é o 4º país do mundo que mais produz lixo. Das mais de 11 milhões de toneladas, apenas 1,28% é destinada para a reciclagem.

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Se você separa seu lixo, promove a reciclagem e a coleta seletiva no seu bairro, vota em políticos com propostas verdes e contribui com os catadores, você está usando a política para fazer do mundo um lugar melhor!

11. Usar máscara

Apesar de a Ciência mostrar que o uso de máscaras, além de te proteger e proteger os outros do coronavírus, pode ajudar a diminuir a carga viral da Sars-Cov 2, causando infecções mais leves ou até assintomáticas, há quem resista a essa altura do campeonato em usar o equipamento.

Política sem perceber

Usar a máscara, além de respeitar as recomendações de segurança Organização Mundial da Saúde, é uma maneira simples de não colocar em risco a vida do próximo. Adotar o equipamento de proteção individual é evitar a propagação do vírus e pensar na saúde como uma questão pública.

12. Acreditar na Ciência e não compartilhar fake news

Em O Dilema das Redes Sociais, novo documentário da Netflix, o ex-Google Tristan Harris explica como o compartilhamento de notícias falsas pode ser perigoso e já foi usado inclusive para alterar o rumo de eleições. Falando nisso, um estudo realizado pela Universidade de Cornell, em Nova York, analisou mais de 500 mil conteúdos com desinformação sobre o coronavírus e constatou que o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, apareceu em quase 40% dos casos.

Em um cenário como este, o compartilhamento de fake news e a negação da Ciência coloca vidas em risco. Ler, buscar e averiguar uma notícia antes de compartilhá-la é lutar contra a desinformação e, como você já deve imaginar, realizar um ato político.

E você, como já fez política hoje?

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