Ibama paralisa operação contra queimadas no Brasil por falta de recursos
Agentes do órgão ambiental que estavam em bases no Pantanal e na Amazônia receberam ordem de voltar para suas casas
Quando o relógio bateu meia noite desta quinta-feira, 22, os agentes do Ibama, que trabalhavam no combate aos incêndios no Brasil, incluindo nas regiões amazônica e pantaneira, retornaram para suas residências, cumprindo ordens da Diretoria de Proteção Ambiental, que opera o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais.
De acordo com representantes do Ibama, eles estão sofrendo de falta de recursos e também de financiamento do governo, problemas que dificultam e até mesmo impossibilitam a realização do trabalho dos brigadistas. “O recolhimento de todas as Brigadas de Incêndio Florestal do IBAMA para as suas respectivas Bases de origem, a partir das zero hora do dia 22 de outubro de 2020, onde deverão permanecer aguardando ordens para atuação operacional em campo”, informou Ricardo Vianna Barreto, chefe do Centro Especializado Prevfogo, em nota oficial.
Desde sua posse como presidente da República, Jair Bolsonaro deixou claro que questões ambientais não eram prioridade em seu governo, tendo, por exemplo, nomeado um advogado da bancada ruralista, Ricardo Salles, como ministro do Meio Ambiente. Além disso, logo no início do mandato, rolou uma polêmica envolvendo o Ministério do Meio Ambiente, que Bolsonaro queria colocar fim, fundindo-o com o Ministério da Agricultura. O presidente voltou atrás, mas esvaziou a pasta desse ministério, o que significa que ele praticamente acabou com os recursos necessários para seu funcionando digno.
Depois desses episódios, vieram outros, como a afirmação de Jair Bolsonaro de que ele desconfiava que ONGs estavam colocando fogo de propósito na Amazônia para incriminá-lo, e que caboclos e indígenas são os responsáveis pelas queimadas no Pantanal, a maior de todos os tempos. Recentemente, durante a inauguração de uma usina de biogás no interior de São Paulo, o presidente deu mais uma declaração que deixa claro seu posicionamento anti-ambientalista: “Nosso Ministério do Meio Ambiente realmente não atrapalha a vida de vocês [representantes do agronegócio]. Muito pelo contrário! Ajuda-os e muito! Relembrem há algum tempo como o Ibama e o ICMBio tratavam vocês e como esse tratamento hoje em dia é dispensado”, disse em mais uma prova de que ele e Ricardo Salles estão mancomunados para deixar “a boiada passar”.
Em setembro deste ano, o governo Bolsonaro anunciou cortes de verbas para órgãos ambientais em 2021, sendo que, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo, no próximo ano, o Ibama terá uma redução de 4% já aprovada pelo Congresso. A redução do ICMBio, de 12,8%, ainda precisa ser aprovada no Senado. Mais uma vez, o presidente foi criticado e Hamilton Mourão, seu vice, chegou a declarar numa tentativa de esfriar os ânimos que Bolsonaro havia se precipitado em sua fala e que nenhum corte havia sido oficializado. Questão de tempo? Muito provavelmente, vide decisão do Ibama de precisar paralisar suas brigadas nacionais de combate aos incêndios – a maioria deles causada por ações humanas ligadas à pecuária – por falta de recursos e investimentos.
Cabe aqui ressaltar que Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, chegou a insinuar que faltava verbas em seu ministério para conseguir “salvar a Amazônia”, sendo que havia usado em um ano apenas 0,4% do valor liberado pelo governo, segundo levantamento do Observatório do Clima. Importante dizer que Salles estava ciente da tentativa de fundir o Ministério do Meio Ambiente ao da Agricultura, que levou a um esvaziamento de sua pasta. É tudo uma tentativa de paralisar a agenda ambiental do país, ato que, para os poderosos, parece ser prioridade. Paralisar as queimadas? Pra que, se elas são naturais e tratadas com sensacionalismo? Não é o que vocês dizem, Bolsonaro e Salles?