Edição 2020 da SPFW teve a maior inclusão racial da história do evento
A organização da semana de moda instituiu uma cota racial de 50% para os desfiles e o resultado foram apresentações diversas e com muita representatividade
Alguns dias antes da São Paulo Fashion Week 2020 começar, a organização da semana de moda emitiu um comunicado às marcas participantes informando uma cota obrigatória de 50% de modelos “negros, afrodescendentes ou indígenas” em todas as apresentações. O documento dizia também que quem descumprisse a norma ficaria de fora da próxima temporada do evento. Até o ano passado, existia apenas uma recomendação sobre o assunto e ela era bem menor do que metade do casting, com a sugestão de que um quinto dos profissionais que desfilassem nas passarelas fossem negros, afrodescendente ou indígenas.
Em meio à movimentos cada vez maiores que demandam inclusão e lutam pelo fim do racismo – inclusive no mercado de moda -, o evento (que já foi muito criticado por não trazer paridade racial nas passarelas e também em sua produção) correu atrás para estar a par das mudanças sociais e evoluir com elas. O resultado dessa ação foi a edição com maior equidade racial da história da SPFW.
Completando 25 anos de existência em 2020, a semana de moda ocorreu entre os dias 4 e 8 de novembro de maneira diferente, trazendo apresentações digitais e sem platéia como medida de segurança contra o coronavírus. A instauração da cota racial no evento aconteceu após uma longa conversa com o coletivo Pretos na Moda, grupo formado em junho deste ano para discutir o racismo na indústria.
“Não posso fazer leis, mas no ambiente que fomentamos é possível haver regras, sim. Uma das coisas que prometi de partida era que não era mais possível recomendar coisas. Quando se fala em equidade racial, isso foi entendido por todo mundo“, disse Paulo Borges, diretor da SPFW, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo sobre a decisão de implementar as cotas.
Há tempos o mercado de moda como um todo – tanto nacional como internacional – é criticado por excluir pessoas negras e reforçar o padrão de beleza eurocêntrico, com os traços caucasianos hipervalorizados. Não é possível apagar o passado, mas é preciso e necessário aprender com ele para evoluir. Nos últimos meses, a sociedade mostrou que, daqui por diante, só serão tolerados aqueles profissionais e marcas que pensarem com representatividade. As pessoas querem se ver em todas as áreas e ocupar os espaços que por muito tempo lhes foram negados de maneira injusta e até violenta.
Os debates entre a SPFW e o coletivo Pretos na Moda também abordaram um tratamento mais justo para os modelos em outras áreas além da inclusão racial, como a estipulação de valores mínimos de cachês e orientação de comportamento para criar um ambiente saudável e de respeito para todos. As conversas entre as instituições resultou em um documento chamado “Tratado Moral”, que deve ser atualizado com demandas e diretrizes a cada temporada. “Todas as partes presentes concordaram sobre a importância dos valores aqui pregados, servindo então como bússola de melhorias que visa um mercado mais diverso”, escreveu o coletivo em seu Instagram ao divulgar o conteúdo.
Esperamos que a equidade racial esteja cada vez mais presente na SPFW e em diversos outros eventos – não só na área da moda, mas da sociedade como um todo!