Vítima de abuso é condenada a 100 chibatadas e 7 anos de prisão no Catar

A economista Paola Schietekat transformou-se em réu em um caso de violência sexual e física que ganhou os noticiários

Por Isabella Otto Atualizado em 30 out 2024, 16h18 - Publicado em 23 fev 2022, 10h49

Uma mexicana de 27 anos chamada Paola Schietekat viu um de seus sonhos transformar-se em seu pior pesadelo. A economista havia conseguido um emprego no Comitê Supremo de Entrega e Legado, responsável pela organização da Copa do Mundo de 2022, no Catar, em Doha. Convertida ao islamismo durante a infância, a adaptação estava tranquila, até que, na noite de 6 de junho de 2021, um homem invadiu o apartamento onde ela morava e a violentou sexualmente, conforme relata o jornal EL PAÍS.

Jovem islâmica, com véu na cabela, posa com o punho cerrado para cima, em forma de protesto. Ela veste uma camisa amarela de time e usa óculos. Ela é uma mulher branca.
Na foto, Paola veste a camisa da Seleção de Futebol da Colômbia Facebook/Arquivo Pessoal/Reprodução

Na adolescência, Paola já havia sofrido um estupro, mas na época não teve coragem de denunciar. Deste vez, ela faria diferente! Com a ajuda de Luis Ancona, cônsul mexicano, eles foram até uma delegacia relatar o caso e a mexicana decidiu partir para a última Instância em busca de Justiça.

 

Pouco tempo após dar seu depoimento, a economista foi novamente chamada à delegacia. Chegando lá, deparou-se com seu agressor, que havia dito para os policiais que, na verdade, eles mantinham uma relação amorosa. Foi aí que o jogo virou e a vítima passou a ser considerada réu.

Segundo a Lei Sharia, que dita o machista sistema jurídico do Islã, as vítimas de violência sexual podem ser processadas por adultério. Paola Schietekat foi considerada culpada e recebeu recentemente a pena de 100 chibatadas e 7 anos de prisão.

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O braço de uma mulher branca, vítima de violência física, cheio de hematomas
Uma das fotos que Paola entregou para a polícia Facebook/Arquivo Pessoal/Reprodução

Com a ajuda do Comitê Supremo de Entrega e Legado, ela conseguiu deixar o Catar e retornar para o México antes de precisar cumprir a injusta pena. Ao EL PAÍS, ela relatou que, ao chegar no seu país natal, a adrenalina começou a baixou, mas o processo seguiu “complexo e doloroso” – ainda mais quando descobriu que seu agressor havia sido inocentado de vez. A razão? De acordo com a polícia do Catar, “não havia câmeras para verificar se o ataque ocorreu” na casa de Paola, mesmo a vítima tendo levado exames e fotos que comprovavam a violência sexual e física.

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Como o caso foi noticiado pela mídia mundial, Paola passou a ser amparada por autoridades, como Marcelo Ebrard, Secretário de Relações Exteriores do México, que está mexendo os pauzinhos para garantir que os direitos da vítima como cidadã mexicana em outro país sejam respeitados, uma vez que Paola não descarta a ideia de voltar para o Catar e seu antigo trabalho.

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