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Como as redes sociais podem deixar as pessoas mais ansiosas nas férias

Em um momento que deveria ser de descanso da mente, quando não saímos do celular, nossa saúde mental é afetada por um transtorno chamado ansiedade social.

Por Isabella Otto Atualizado em 31 out 2024, 00h54 - Publicado em 4 jan 2020, 10h03

Você sabe o que significa a expressão “FOMO”? Em inglês, ela quer dizer “fear of missing out”, ou seja, medo de perder coisas, de ficar de fora. Essa sensação de não pertencimento causa no jovem o que é cientificamente conhecido como ansiedade social, que se agrava com o uso das redes sociais. Além da constante necessidade de se manter conectado, o adolescente sente também a necessidade de fazer o que aquelas pessoas que ele admira estão fazendo. Na maioria das vezes, esses @s são influenciadores e levam “a vida perfeita da internet”: viagens, recebidos, jantares… É claro que tudo isso faz parte do trabalho, mas, quando se é muito novo, fica mais difícil perceber a sutileza do que é montado para parecer orgânico, natural, casual.

Stephen Simpson/Getty Images

A instituição britânica Royal Society for Public Health realizou em 2017 um estudo para analisar o comportamento dos usuários nas redes e o quanto elas podem ser maléficas para a saúde mental. A primeira conclusão não espanta ninguém: a maioria dos internautas ativos tem entre 14 e 24 anos. A segunda é a de que, das 1.479 pessoas analisadas, a maioria elegeu o Instagram como a plataforma mais tóxica. Não é preciso ser nenhum cientista ou o próprio Sheldon Cooper para entender o que acontece: o compartilhamento de fotos online, principalmente imagens da “vida perfeita”, contribui com o “FOMO”, aumenta os níveis de ansiedade e, consequentemente, afeta tarefas do dia a dia importantíssimas para a saúde, inclusive a mental, como o sono e o cuidado com a autoestima.

 

Esse quadro se torna ainda mais grave durante as férias. Imagina só um adolescente de 15 anos, que está de férias escolares mas não viajou, passando as tardes ociosas no Instagram, dando scroll no feed e vendo as pessoas que segue e os amigos de colégio visitando lugares novos e saindo de casa? A sensação de frustração é muito grande. Mesmo que os viajantes sejam exceção, a impressão que esse jovem tem é a de que todo mundo está viajando e se divertindo nas férias, menos ele – que faz viagens do quarto para a cozinha, da cozinha para o banheiro, do banheiro para o quarto.

O ciclo vicioso das redes sociais: dificuldade para dormir -> cansaço -> dificuldade para lidar com a vida real -> baixa autoestima -> sensação de preocupação, estresse e inquietação. Reprodução/Reprodução

Cada um lida com essa frustração de uma maneira, sendo mais ou menos afetado. É impossível, entretanto, se sentir indiferente. Todos somos atingidos pela onda de não pertencimento em algum momento e, quando não sentimos mais nada, talvez estejamos no quadro mais preocupante de todos causado pela ansiedade: o da indiferença com relação aos outros e à própria vida. É inevitável deixar de relacionar esses pontos ao fato de que, nos últimos dez anos, os casos de depressão e suicídio entre jovens aumentaram 24% no Brasil, segundo pesquisa da Unifesp publicada na Revista Brasileira de Psiquiatria. Durante a adolescência, a noção de isolamento, de “não encontrar sua turma”, causa danos maiores e mais graves à saúde mental. “Há outras possibilidades para interpretar essa situação? Se sim, quais são elas? Saber reconhecer emoções, relacionando-as com os pensamentos que as geram e entendendo como tudo isso influencia o comportamento permite que cada um compreenda melhor as próprias limitações e conheça suas fortalezas, o que aumenta a confiança, o otimismo e a autoestima”, dá a dica médico psiquiatra e educador Celso Lopes de Souza, fundador do Programa Semente.

Preocupado com a reputação do aplicativo, o Instagram passou a tomar algumas pequenas grandes atitudes para deixar de ser apenas um vilão – coisa que não há; acontece muita coisa legal na rede! Recentemente, por exemplo, as contas brasileiras deixaram de mostrar a quantidade de curtidas das publicações. O teste, que começou no Canadá, tem o intuito de valorizar qualidade e não quantidade, e desestimular a competição virtual. A medida agradou muita gente, mas algumas pessoas já estão dando um jeitinho de divulgar seus likes, porque, aparentemente, eles são muito importantes. Há quem esteja editando a legenda do post sempre que rola uma atualização no número de curtidas recebidas e quem até esteja usando os Stories para atualizar os seguidores sobre essa informação, como é possível ver abaixo:

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O “Desafio dos Likes”ganhou novas proporções. Reprodução/Reprodução

Por que isso acontece? Em primeiro lugar, é preciso entender que as redes sociais são tão viciantes quanto álcool e nicotina, de acordo com o estudo da Royal Society for Public Health. Largar um vício e se acostumar com uma nova realidade que o afete não é uma tarefa simples. Além disso, as pessoas sentem que precisam de validação e aprovação o tempo todo. É do ser humano. Afinal, é através dessa aprovação que, na maioria das vezes, passamos a fazer parte de um grupo. A falta dela leva ao isolamento, mesmo que imaginário. É como se as curtidas determinassem quem você é, a importância que você tem, e apontassem uma flecha irreal para a sua cabeça com os dizeres: “olhem como eu sou legal, como tenho likes, como sou famoso e relevante. Me notem!”. Outras coisas, em contrapartida, deveriam ser notadas: como anda sua saúde mental, como aquilo que você vê na internet te afeta, como você é influenciado pelo conteúdo que aparece no feed e como essas postagens podem ser manipuladas.

 

O instituto britânico de saúde pública diz que passar mais de duas horas diárias nas redes sociais pode nos deixar mais estressados e infelizes, consequências da tal ansiedade social. É você que comanda sua vida virtual ou são as redes sociais que comandam sua vida real? Cuidado, pois essa linha divisória tende a ser muito tênue. Atenção redobrada no período de férias e de ócio. Você está matando o tempo na internet ou é a internet que está matando o seu tempo? É hora de ver, mas com outros olhos…

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