Orgulho LGBTQI+: “Minha vida”, diz Rômolo Cricca sobre universo da beleza
Em entrevista à CH, o influenciador contou como a maquiagem foi um instrumento usado por ele para se expressar e mostrar quem realmente era
Muito além de produtos e tendências, o universo da beleza pode ser um portal de autoconhecimento. A maneira como nos expressamos através da maquiagem, dos cabelos e das roupas é também uma forma de mostrarmos ao mundo quem somos, o que está dentro de nós. Independentemente de “padrões” que há tempos deveriam ter desaparecido, a beleza pode ser um instrumento de comunicação e liberdade, e é assim que Rômolo Cricca sempre encarou esse mundo.
Aos 3 anos, o influenciador, que hoje está com 20, brincava com as maquiagens da mãe. “Desde muito pequeno eu já era fissurado pelo universo da beleza. Minha mãe sempre foi muito vaidosa e nós éramos muito próximos, então eu a acompanhava nesses momentos de se arrumar, e meu contato com a maquiagem começou daí. Ela conta várias histórias de que eu ficava apaixonado pelos produtos. Uma vez, ela disse que eu a vi passando batom vermelho e fiquei simplesmente encantado. Segundo ela, a minha cara de admiração ficou marcada na memória”, contou em entrevista à CAPRICHO.
Rômolo foi uma criança muito criativa, e o mundo da beleza era um instrumento usado por ele para viver e expressar isso. “Minha família sempre foi voltada para o universo artístico, meu pai é desenhista e tatuador, minhas tias também adoravam essa parte das artes, acho que está tudo um pouco ligado. Eu sempre fui muito bom em coisas manuais e a maquiagem tem 100% a ver com isso. Uso para mostrar como eu estou sentindo, como quero me sentir. Para mim, está tudo relacionado“, explica.
Descobrindo a sexualidade
Aos 12 anos, o influenciador já possuía alguns produtos e começou a maquiar amigas e a si mesmo. Foi aí que ele passou a entender melhor sua sexualidade. “Nessa época, eu estava me descobrindo. A minha família sempre soube que eu era gay, mas é diferente quando sai da sua própria boca. Aconteceram alguns episódios deles me perguntarem e eu negar. Mas, quando eu realmente me assumi, olha que engraçado, a maquiagem estava presente também nesse momento. No dia, eu estava com o meu pai e uma amiga. Eu tinha feito uma maquiagem nela e disse para o meu pai: ‘Olha como ela ficou bonita’. Ele perguntou por que eu não namorava ela, já que eu a achava linda. E eu respondi que éramos amigos e ela já tinha namorado. Então ele questionou se não seria porque eu não gostava de meninas. Eu apenas respondi: ‘Talvez’. Algumas horas depois, ele veio falar comigo novamente sobre essa conversa e eu contei que era gay”.
“Foi muito mais difícil me assumir para mim mesmo, me aceitar, aceitar que eu era gay, do que me assumir para o meu pai, por exemplo. Antes de eu ter a consciência de ‘sou gay’, eu já sabia que gostava de meninos, eu sempre soube. E isso sempre foi algo normal na minha cabeça. Mas aí começamos a crescer, a ouvir outras pessoas e entendemos que a realidade não é tão doce quanto a gente acha que é. Eu fiquei com medo e não me aceitava“, diz Rômolo.
Apesar de ter falado sobre sua sexualidade para a família bem jovem, o influenciador demorou alguns anos para revelar seu amor pelo universo da beleza. Foi só quando começou a compartilhar essa paixão na internet que decidiu tocar no assunto. “Teve uma época em que eu já fazia maquiagem para fora e também me maquiava. Eu tirava algumas fotos, mas guardava para mim. Então um dia comecei a mostrar para as pessoas e resolvi postar pela primeira vez. Foi muito louco esse momento porque, até então, eu não sabia se eu era transexual ou se eu era um garoto que gostava de se maquiar. A partir disso, decidi conversar com os meus pais, porque eles não sabiam que eu me maquiava. Contei para eles sobre isso, contei sobre as minhas dúvidas sobre ser trans e eles me apoiaram muito. Isso tudo me encorajou também a dar o próximo passo, que foi criar o canal no Youtube“, explica.
Em 2016, após conversar com a família, Rômolo começou a fazer terapia para entender suas dúvidas sobre ser trans. “Eu fui ao psicólogo, mas não me identifiquei. Percebi que estava confortável comigo daquele jeito. Na época, participei de um quadro do Fantástico, da Rede Globo, o Click Esperança, e lá eu vi muito quem eu era, a minha personalidade, e me identifiquei como Rômolo Cricca, um camaleão. Percebi que não queria necessariamente fazer a transição. Hoje, às vezes eu ainda penso: ‘Será que sou trans?’, mas não sei, não quero lidar com isso dessa forma, eu só vou vivendo a minha vida e fazendo o que eu tenho vontade. Não preciso me rotular. Às vezes, as pessoas ficam confusas, porque me veem com as pernas peludas e unhas compridas, por exemplo. Mas eu sempre falei isso: tem horas que estou de um jeito, em outras, de outro. Eu me sinto muito livre para usar a roupa que eu quiser, o cabelo que eu quiser…“.
Se expressando através do universo da beleza
Além das maquiagens, Rômolo também é apaixonado por laces e possui uma coleção de perucas de diferentes estilos. “É engraçado, porque eu me lembro até hoje da minha primeira peruca. Minha avó me levou para comprá-la porque eu iria participar de uma gincana da escola e eu escolhi um modelo chanel cor-de-rosa. Sempre fui uma pessoa que amava o mundo da imaginação, então acho que minha vida toda foi um sonho assim. Eu sempre sonhei com esse tipo de coisa. Maquiagem, peruca, roupa… Há pouco tempo, minha mãe voltou para a nossa casa antiga e achou essa peruca que eu usava pra brincar. Era a única coisa que eu tinha para colocar na cabeça e imaginar, sonhar e ter forças para ir atrás, porque a gente sabe que é complicado“, conta.
Ele completa lembrando de episódios divertidos da infância, em que passava horas brincando de trocar de roupa: “Eu estudava no período da manhã e minha mãe e meu padrasto trabalhavam à tarde. Então eu ficava sozinho e amava, era o meu momento. Eu colocava músicas e vestia as roupas da minha mãe. Quando ela chegava em casa, eu corria para tirar tudo antes que ela percebesse. Logo que contei aos meus pais sobre essa paixão, lembro que cheguei em casa e coloquei todos os meus sapatos para fora do armário. Minha mãe até brincou na época, perguntando se eu precisava deixar tudo exposto assim. E eu disse: ‘Mas é claro que eu vou deixar.”
Apesar de sempre ter tido uma ótima relação com a família, na escola Rômolo afirma que sofreu bullying desde pequeno. “Eu sempre fui muito extrovertido, mas na escola eu acabava ficando mais na minha. Eu queria brincar com as meninas de boneca, mas elas não deixavam. E os meninos ficavam brincando de carrinho e fazendo piadas sobre mim. Eu vejo hoje, com 20 anos, o quanto isso me fez mais forte para estar aqui. Eu parei de ser zoado no colégio quando fui para o primeiro ano, não era mais uma coisa explícita. No segundo colegial, eu já estava na internet falando de maquiagem. Conforme eu fui ficando mais velho, fui criando a minha voz e aí você aprende a se impor, se posicionar“.
Beleza: quem eu sou
“Eu sempre fui uma pessoa que me expressava muito, e eu acho que a gente não deve ter uma pressão para fazer isso, tem que ser uma coisa leve. Se você tem vontade de usar uma maquiagem de um determinado estilo, testa, usa, se liberta e não fica presa a isso. Eu quebrei muitas barreiras na minha vida. Eu sempre tive muita vontade de usar short jeans, por exemplo, e eu achava que nunca conseguiria. Com o tempo, mudei isso e hoje uso muito e adoro. A mesma coisa com cropped, com iluminador“, conta Rômolo.
Foi aos 16 anos que o jovem começou a sair maquiado na rua. Dois anos depois, seu trabalho no Youtube passou a chamar a atenção de marcas de beleza e ele foi crescendo como influenciador. “Eu sempre recebi muito carinho dos meus seguidores, acho que essa conexão com as pessoas é o que faz as coisas acontecerem de verdade. Eu tento inspirar os outros para que eles acreditem em seus sonhos, porque estar aonde eu estou hoje é a conquista do meu“, fala Rômolo, que finaliza respondendo o que tudo isso significa para ele: “O universo da beleza é a minha vida, significa a minha vida“.
E para você, o que significa o universo da beleza?