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Chuvas no Litoral Norte de SP: 5 alertas que não podemos mais ignorar

Sobre moradia, que em tese é um direito básico, ao racismo ambiental: como diz o BaianaSystem, o mundo é uma "máquina de louco" e o povo não passa de lucro

Por Isabella Otto Atualizado em 29 out 2024, 18h56 - Publicado em 24 fev 2023, 10h36

Mais um evento extremo deixa vítimas no Brasil. Um ano após a tragédia climática de Petrópolis, chuvas fortes causaram deslizamentos de terra e inundações no Litoral Norte de São Paulo, principalmente na cidade de São Sebastião. Até o momento, 54 pessoas morreram, dezenas seguem desaparecidas e mais de 2 mil ficaram desalojadas. O corpo de outras tantas, incluindo de crianças, continuam sem identificação no IML. Não é a primeira vez que algo do tipo acontece e, definitivamente, não será a última. Aonde estamos errando?

1. Eventos extremos são tragédias anunciadas

A Defesa Civil, a Prefeitura de São Sebastião e o Governo de São Paulo foram alertados pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais sobre a possibilidade de chuvas estrondosas no Litoral Norte do estado. O aviso foi dado dois dias antes da fatídica madrugada de sábado (18). A popualação garante que não recebeu nenhum comunicado.

“Nós conseguimos fazer a previsão com 48 horas de antecedência, inclusive, dando a localização do desastre”, disse Osvaldo Moraes, diretor do Cemaden, ao portal g1.

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Em 2022, a Defesa Civil de Petrópolis também foi avisada da possibilidade de temporais e deslizamentos de terra na região. “O governo do Rio de Janeiro deveria ter evacuado [as áreas de alto risco] quando recebeu o alerta de risco de desastre”, disse Paulo Artaxo, professor titular do Instituto de Física da USP e vice-presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo.

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Um ano depois, as áreas mais afetadas da cidade serrana (aquelas mais vulneráveis a desastres do tipo, ocupadas por pessoas mais pobres) seguem intactas e debaixo de lama. Nenhum plano de contenção de novas tragédias foi traçado.

2. É impossível falar de mudanças climáticas sem abordar o racismo ambiental

Garrafas de água sendo vendidas a R$ 90, empresários desembolsando até R$ 40 mil para deixar o Litoral Norte em táxis aéreos, funcionários não conseguindo chegar ao trabalho por causa dos deslizamentos e ao menos 30 mortos somente na Vila Sahy, em São Sebastião. Reparou como a maioria dos afetados pelas chuvas é pobre? E sabe quem faz parte da população pobre no Brasil? Em sua maioria, mulheres, negros, pessoas com baixa escolaridade e trabalhos precários, segundo levantamento do IBGE realizado em 2019. É a população pobre que está mais vulnerável e já sente hoje as consequências do aquecimento global – não é o morador do condomínio de luxo que agride profissionais da Imprensa ou o bonzão que consegue fretar um helicóptero para fugir da zona de perigo.

3. Crise climática é caso de saúde pública

E caso de saúde pública é política. Nos últimos cinco anos, desde o governo de Michel Temer, a verba destinada para investimentos que visam justamente conter essas tragédias causadas por eventos extremos foi reduzida de R$ 3 bilhões para R$ 1 bilhão. Fora todas as antipolíticas públicas ambientais que presenciamos nos últimos anos, que compactuam com o aquecimento global, e a forte onda negacionista, que também impacta questões climáticas.

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4. É sobre moradia, que é um direito básico

A encosta da Vila Sahy, em São Sebastião, foi uma das áreas mais afetadas pelas chuvas. Em 2009, o local foi “congelado”, ou seja, foi acordado entre a Prefeitura de São Sebastião e o Ministério Público de São Paulo que não seria mais possível construir novas casas no lugar – uma vez que ele é uma região de alto risco, em plena Serra do Mar.

Contudo, nenhum tipo de fiscalização ou regulamentação da área foi feito e, em 2021, o MPSP entrou com uma ação. Mais uma vez, nada saiu do papel.

 

A questão fundiária é muito séria no Brasil. Na teoria, moradia é um direito assegurado pela Constituição. Na prática, tivemos um aumento de 31% de moradores de rua em SP durante a pandemia. O desemprego foi a maior causa.

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Para aqueles que não querem virar sem-tetos, uma saída é se instalar em regiões periféricas, onde o custo de vida é mais baixo. Essas regiões, entretanto, são as mais vulneráveis e, mais uma vez, é a população pobre que está mais suscetível a desastres ambientais.

Em cidades turísticas, normalmente, os moradores vivem em áreas de risco e há um crescimento de moradias nessas regiões, uma vez que as pessoas vão em busca de ofertas de emprego. As casas de veraneio, na maioria das vezes, são construídas em áreas mais nobres e seguras – quando não avançam sobre o mar, o que causa um desequilíbrio daquele ecosistema.

Quando falamos de indígenas, principalmente de povos que vivem em comunidades mais afastadas, a vulnerabilidade também vem da falta de fiscalização e regulamentação de território. Ou seja, de políticas públicas pensadas para aquela parcela da população, que fica também mais suscetível a doenças até então erradicadas, trazidas por pessoas de fora, como garimpeiros, e pela destruição da terra.

5. Já passou da hora de agirmos

Discurtir o tema é muito importante – e é justamente o que estamos fazendo aqui -, mas é preciso sair do campo das ideias e usar essas discussões para cobrar atitudes daqueles que estão no poder. Não dá mais para ficar falando para convertidos ou achar que somente palavras vão mudar alguma coisa.

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A seguir, você confere um vídeo que gravei abordando todas essas questões levantadas aqui na coluna Ecos da Terra. Se gostar do conteúdo, não deixe de curtir e compartilhar nas suas redes sociais. É muito importante! ✨

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