Segundo investigação feita pela Polícia Civil do Ceará, a loja Zara do Shopping Iguatemi, em Fortaleza, criou uma espécie de código secreto para funcionários ficarem em alerta e acompanharem pessoas negras ou com roupas consideradas “simples” assim que entrassem no estabelecimento.
O tal aviso era anunciado pelo sistema de som da loja, através do código “Zara zerou”. “Testemunhas que trabalharam no local alegam que eram orientadas a identificar essas pessoas com estereótipos fora do padrão da loja. A partir dali, ela era tratada como uma pessoa nociva, que deveria ser acompanhada de perto. Isso geralmente ocorria com pessoas com roupas mais simplórias e pessoas de cor‘”, afirmou o delegado-geral da Polícia Civil do Ceará, Sérgio Pereira, para o UOL.
Ele ainda ressaltou que esse tipo de tratamento da loja já havia sido registrado diversas vezes não apenas aqui no Brasil, mas também fora do país. Um absurdo, né?
A investigação foi iniciada em setembro deste ano, quando a delegada Ana Paula Barroso fez um boletim de ocorrência contando ter sido vítima de racismo na Zara. Ela diz que foi impedida de entrar na loja por um segurança do local.
Em comunicado à imprensa, feito na época do ocorrido, a Zara alegou que Ana Paula foi impedida de permanecer na loja por estar sem máscara e tomando sorvete. Porém, segundo o G1, no mesmo dia, clientes brancos e sem máscara foram recebidos normalmente.
“O material visual obtido por meio do circuito interno da loja revela o tratamento diferenciado dado pelo funcionário da loja à vítima. Nas imagens, é possível ver quando a vítima é expulsa do local, quando minutos antes, o mesmo funcionário atendeu uma cliente que, mesmo não consumindo nenhum alimento, não fazia o uso correto da máscara. A cena foi observada em outras situações em que outros clientes também não foram retirados da loja ou abordados para que utilizassem a máscara de forma correta”, informou a Polícia Civil.
Na época, a polícia concluiu que quem a impediu de entrar no lugar foi o gerente da unidade, que foi indiciado pelo crime de racismo. Além disso, entidades do movimento negro entraram com um processo na Justiça do Ceará contra a rede de lojas Zara, pedindo R$ 40 milhões de indenização por dano moral coletivo.
Na tarde da última terça-feira (19/10), a Zara se pronunciou sobre as recentes acusações. “A Zara Brasil, que não teve acesso ao relatório da autoridade policial até sua divulgação nos meios de comunicação, quer manifestar que colaborará com as autoridades para esclarecer que a atuação da loja durante a pandemia Covid-19 se fundamenta na aplicação dos protocolos de proteção à saúde, já que o decreto governamental em vigor estabelece a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes públicos. Qualquer outra interpretação não somente se afasta da realidade como também não reflete a política da empresa. A Zara Brasil conta com mais de 1800 pessoas de diversas raças e etnias, identidades de gênero, orientação sexual, religião e cultura. Zara é uma empresa que não tolera nenhum tipo de discriminação e para a qual a diversidade, a multiculturalidade e o respeito são valores inerentes e inseparáveis da cultura corporativa. A Zara rechaça qualquer forma de racismo, que deve ser combatido com a máxima seriedade em todos os aspectos.”
Ainda na investigação, foram ouvidas oito testemunhas, além da vítima e do suspeito. Entre elas, uma mulher, também negra, que relatou em suas redes sociais ter passado por uma situação parecida com à da delegada em julho deste ano, e na mesma loja.