Alisha Boe e Brandon Flynn
Especial começa com Alisha e Brandon Flynn contando o que acontecerá com Jessica e Justin
No dia 18 de maio, estreia na Netflix a segunda temporada de 13 Reasons Why e finalmente poderemos ver as consequências do suicídio de Hannah Baker (Katherine Langford), mas principalmente como ficará a vida de Jessica (Alisha Boe), após ela ter revelado aos pais que foi estuprada.
Quem assistiu a série sabe que o estuprador de Jessica (e Hannah) foi Bryce Walker (Justin Prentice). No caso da personagem de Alisha, a violência sexual teve o consentimento do namorado, Justin (Brandon Flynn), personagem que também terá que se recuperar e estará ainda mais afundado nas drogas.
No final do ano passado, a CAPRICHO foi até o set de filmagens da segunda temporada de 13 Reasons Why nos estúdios da Paramount, em Vallejo, na Califórnia, para conversar com o elenco e ver algumas cenas serem gravadas. E a primeira série de entrevistas começa com Alisha Boe e Brandon Flynn.
CAPRICHO: Vocês são alguns dos personagens mais fascinantes da primeira temporada. Pela forma como começaram e se transformaram no final, com muitos dramas e camadas. Quanto mais de vocês poderemos ver na segunda temporada?
Brandon Flynn: Tem muito mais! Acho que nesta temporada vai ser mais uma recuperação, e cada um de nós está lidando com a própria forma de recuperação. Nesse processo nós vamos descobrir que somos muito mais fortes do que pensamos. Estar em recuperação é muito mais difícil do que estar na merda, entende? Porque você primeiro tem que tomar a decisão de se recuperar, o que é muito difícil. Você acaba trazendo à tona todos os seus demônios durante esse processo. Isso vai ser explorado bastante por todos os personagens durante a segunda temporada, mas muito mais com a Jessica e o Justin.
Alisha Boe: Sinto que a Jessica é um pessoa totalmente diferente do que era no começo, porque na primeira temporada ela está lutando, mas não sabe direito o que está acontecendo com ela. Aí, no final da temporada, como vocês viram, ela vai até o pai e diz, ‘isso foi o que aconteceu comigo’. A segunda temporada já começa com ela indo para a terapia, achando que está pronta para retornar ao colégio, meio que voltando para a vida, para o mundo real, e tendo que ir pra escola junto com seu estuprador. Como ela está tentando se recuperar emocionalmente, e isso é como uma jornada, tem os altos e baixos. Quando Jessica pensa que as coisas estão dando certo, elas acabam dando terrivelmente errado.
Justin é o produto do ambiente familiar que ele tem, de tudo que o namorado da mãe dele fez com ele na primeira temporada. Como isso será desenvolvido agora?
BF: Essa temporada começa cinco meses depois dos acontecimentos da primeira. Se você for pensar, cinco meses não é muito tempo, mas as coisas que podem acontecer são infinitas. Justin tem algumas mudanças bem obscuras, outras positivas, mas por questões dramáticas, acho que as pessoas estão esperando muito mais pelas coisas negativas. Na segunda temporada, nós encontramos o Justin morando na rua, realmente virando um produto daquele lar em que ele estava morando, se é que dá pra chamar aquilo de lar. O Justin morando na rua parece ser até mais um lar comparado com o que ele tinha. As drogas são uma grande parte do Justin agora, ele está bem perdido no começo da segunda temporada.
Você acha que ele é mais uma vítima agora do que um vilão? Porque muita gente o considerava um vilão pelo que tinha feito, mas agora ele se parece mais como uma vítima do próprio meio em que vivia, certo?
BF: Sim, 100%. Acho que ele é uma vítima em vários aspectos, e um que eu considero muito importante é que ele é uma vítima dele mesmo. O que é algo com que muita gente está familiarizada.
Nós vimos tudo que aconteceu com a Hannah e com a Jessica na primeira temporada. Como foi feita essa preparação? Você conhece pessoas que passaram pelo que vocês passaram na escola?
AB: Especialmente durante o High School, muitas amigas minhas foram abusadas sexualmente.
Sério?
AB: Sim. Principalmente porque vivemos na era dos celulares, então muitas delas tiveram fotos nuas vazadas na escola. O que é quase que uma epidemia, algo normal, infelizmente. Mas, quando eu tinha 16 anos, não tinha a noção de que aquilo era um abuso sexual. Então, interpretar esse papel, pude realmente entender o que era o abuso sexual. Nós conversamos com muitos psicólogos que são especialistas no tema. Comecei a falar com algumas pessoas da minha família e descobri que o que aconteceu com a Jessica é mais comum do que deveria ser. Aconteceu com pessoas da minha família, com minhas amigas, com todas essas mulheres que nunca falaram sobre o assunto, porque elas nunca acharam que alguém quisesse as ouvir, e também não queriam ser culpadas por serem vítimas. Após a série sair, muitas garotas me procuraram para falar que a série as fez perceber que o que aconteceu com elas era um abuso sexual, e que agora elas finalmente podem falar sobre o assunto, porque elas agora têm uma plataforma para jovens garotas entenderem o que é certo e o que é errado, e que é OK falar sobre o assunto.
Após a série sair, muitas garotas me procuraram para falar que a série as fez perceber que o que aconteceu com elas era um abuso sexual.
Alisha Boe
Você se sente de alguma forma pressionada por ser essa voz pra elas? Por que deve ser difícil pra você também, certo?
AB: É difícil, mas não me sinto pressionada. Sinto que a história precisa ser contada, ainda mais com tudo que tem sido publicado na mídia, com os casos do Harvey Weinstein. É uma epidemia nojenta, especialmente em Hollywood, onde homens são tão poderosos que acham que podem se aproveitar de jovens garotas e de mulheres. É errado, e não sinto que é uma pressão, e sim mais uma responsabilidade, ainda mais por ter a plataforma para falar sobre isso.
Todos vocês interpretam personagens muito intensos, como foi voltar a vivê-los? Como foi o primeiro dia no set da segunda temporada?
AB: É muito difícil definir isso em palavras. Estava muito ansiosa em poder contar a história de recuperação da Jéssica. Porque acho que é a coisa mais interessante de se mostrar. Quando uma garota é estuprada, toda sua vida muda, todo seu psicológico muda e, poder explorar isso. Principalmente se os garotos entenderem que, quando uma coisa dessas acontece, a vida da garota irá mudar para sempre. O estrago é permanente para elas.
Qual foi a história mais marcante que vocês receberam de fãs?
BF: Pra mim, as melhores histórias que recebi são aquelas em que os fãs falaram que puderam ajudar alguém. Acho que isso é muito legal. Porque no High School é muito desafiador, você ter que decidir se você vai ser aquele aluno mais quieto, ou o cara mais legal, ou o que é mais alternativo. Você ter que ser forte o tempo inteiro é muito difícil, assim como a vida.
* A CAPRICHO viajou à Califórnia a convite da Netflix.