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Sem BTS na disputa, Grammy mostra que teme a potência do K-pop

Mesmo com inúmeros feitos e recordes, nenhum ato sul-coreano foi indicado à premiação de 2020

Por Gustavo Balducci Atualizado em 23 nov 2019, 11h00 - Publicado em 23 nov 2019, 10h00

Em 2019, o BTS completou uma das turnês mais rentáveis do ano. Depois de passar pela Europa, pela Ásia e pela América do Norte e do Sul – que incluiu dois shows poderosos no Brasil –, a turnê mundial Love Yourself: Speak Yourself arrecadou cerca de 117 milhões de dólares e vendeu quase 1 milhão de ingressos. Em abril, Map of the Soul: Persona se tornou o álbum mais vendido da história sul-coreana e estreou em primeiro lugar na Billboard 200 – essa foi a terceira vez que um disco do grupo abocanhou a posição, feito que somente os Beatles conseguiram realizar em 1996. A lista de conquistas fica ainda mais extensa se analisarmos singles, visualizações, entre outros prêmios. Mas nada disso foi suficiente para chamar atenção dos eleitores da The Recording Academy. Mesmo solidificando seu status como um supergrupo global, o Bangtan ficou de fora da lista de indicados ao Grammy 2020. Para a surpresa da grande maioria, nenhum grupo ou artista de K-pop pintou entre as dezenas de categorias.

Não faltaram tweets revelando o descontentamento por parte dos fãs. O desconforto também foi sentido pela cantora Halsey, que estrelou o single Boy With Luv ao lado dos meninos. Ela escreveu: “O BTS merecia muitas indicações. No entanto, não estou surpresa que eles não tenham sido reconhecidos. Os Estados Unidos estão bem atrasados em todo esse movimento”, e concluiu: “O tempo virá.”

O incômodo se tornou ainda maior uma vez que Jin, Suga, J-Hope, RM, Jimin, V e Jungkook marcaram presença no red carpet da edição de 2019 do Grammy, no qual concorreram a Melhor Pacote de Álbum pelo disco Love Yourself: Tear, lançado em 2018. No palco, o líder Namjoon se emocionou na hora de entregar a estatueta para o Melhor Álbum de R&B. “Crescendo na Coreia do Sul, nós sempre sonhamos em estar no palco do Grammy. Obrigado a todos os nossos fãs por fazerem este sonho se tornar realidade”, disse, avisando no final que eles voltariam à premiação.

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Não é novidade que o evento enfrenta uma série de críticas e problemas de inclusão. Apesar da tentativa de inovar e incorporar gêneros e artistas, o Grammy falha há muito tempo quando o assunto é diversidade. Em 61 anos de história, apenas 10 artistas negros levaram o prêmio de Álbum do Ano. O mesmo problema se repetiu em outras premiações: em julho, o VMA foi acusado de segregar o ritmo asiático de suas demais categorias ao lançar o prêmio de Melhor K-pop, evitando assim que os grupos pudessem levar a maior parte dos prêmios principais para casa. No começo do mês de outubro, o BTS também concorreu a Melhor Grupo, Melhor Clipe e Melhor Turnê no People’s Choice Awards. O septeto não pode comparecer ao evento e também acabou não levando nenhuma estatueta para a casa – o que deixou o fandom chateado, já que a votação era online.

Gif/Reprodução

É tendência que as premiações norte americanas estejam caindo em audiência nos últimos anos, dado que o formato de premiação anual já não cabe mais na era do streaming, onde novos artistas surgem todos os dias. Com isso, o K-pop – com seus números estrondosos de vendas e views – se tornou uma boa ferramenta na tentativa de engajar os telespectadores novamente. A sacada tem dado certo, mas o público já sentiu que, no fundo, o K-pop ainda precisa lutar contra o racismo e a xenofobia por aqui. Um exemplo? Recentemente, o executivo mundialmente conhecido Simon Cowell anunciou que estará a procura de novos grupos de artistas a partir de dezembro, mas em sua fala, o jurado do X-Factor usou a seguinte frase: “O K-Pop atualmente está dominando o mundo. Agora é a hora do UKPop”, se referindo ao gênero pop britânico. A fala, com tom imperialista, irritou os fãs e sinalizou uma visão problemática de que a indústria da música ocidental parece ter medo de perder sua relevância para outros estilos – o mesmo vale para os ritmos latinos, que quase sempre são discriminados por grandes premiações.

Apesar da decepção, o fandom demonstrou todo o seu amor através da tag #ThisIsBTS, que rodou a internet e rapidamente fez a discografia coreana do grupo entrar de volta na parada de álbuns do iTunes nos Estados Unidos. Na semana passada, o fandom já havia feito a mesma atividade, reunindo esforços e provando que a trajetória de sucesso do BTS é muito maior do que qualquer premiação.

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Num cenário onde artistas americanos sonham por um feat. com astros de K-pop, o septeto continuará usando seu talento para criar novas pontes entre o público global e a música pop de seu país. O próximo Grammy poderia celebrar a pluralidade de sons que o mundo tem a oferecer, contudo, os americanos optaram outra vez por não dividir o palco com mais ninguém.

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