Os Prós e Contras de Nunca Esquecer é um livro sensível e inesperado
Conversamos com Val Emmich, o autor da obra sobre uma garota capaz de lembrar de absolutamente tudo
Já pensou nunca poder se esquecer de nada do que você viveu? Essa condição existe e se chama Memória Autobiográfica Altamente Superior. Caracterizada pelo fato de seus portadores se lembrarem de praticamente cada minuciosidade de seus dias, incluindo datas, nomes, rostos e outros detalhes de forma impressionante, ela é retratada no livro Os Prós e Contras de Nunca Esquecer, de Val Emmich, lançado pela editora Intrínseca em fevereiro deste ano.
Na trama a gente conhece Joan, uma garota de 10 anos portadora da Síndrome, cujo maior medo é ser esquecida. Para tentar eternizar seu nome, ela se inscreve em um concurso de composição, pois acredita que se fizer uma música capaz de tocar o coração das pessoas, será lembrada para sempre, assim como os Beatles. Durante esse processo em que tenta criar uma canção inesquecível, ela conhece Gavin, um amigo de seus pais que está tendo grandes dificuldades de seguir a vida após perder repentinamente o marido. De seus traumas pessoais surge uma amizade bastante improvável e capaz de te emocionar.
A CAPRICHO conversou com o autor da obra sobre o processo de criação do livro e seus próximos planos. Dá uma olhada!
CH: De onde veio a ideia de escrever um livro sobre uma garota que não consegue esquecer nada? Você já conheceu alguém como a Joan?
VAL EMMICH: Eu nunca conheci alguém com uma memória como a da Joan. Essa história surgiu depois que tive um acidente com a minha filha. Ela tinha dois anos e caiu de um carrinhos de compras, batendo a cabeça no chão. No fim ela ficou bem, mas esse evento me deixou abalado. Eu era um pai de primeira viagem e não fazia ideia do que era ser pai. Mas a inspiração veio. Escrevi um conto da perspectiva de uma garotinha – que representava minha filha – e na história a menina contava ao seu pai que aquele erro que ele cometeu era ok. Eu pensei que a trama poderia se expandir para um livro, mas não sabia bem como fazer isso. Até que uma noite estava assistindo a um programa de TV sobre pessoas com Memória Autobiográfica Altamente Superior e decidi dar essa condição à menininha da história.
CH: Esse livro é uma homenagem aos Beatles. Qual é a sua relação com a banda e o que ela representa para você?
VAL: Eu não conhecia os Beatles até fazer 16 anos. Uma namorada gravou para mim uma fita cassete com algumas músicas deles e eu fiquei muito impressionado. Desde então, comecei a explorar tudo o que eles já tinham feito. O documentário The Anthology solidificou minha obsessão pela banda. Eles alcançaram tanto em tão pouco tempo. E a mitologia deles funcionou para o meu livro, porque eles são um exemplo raro de artistas mais atuais que se mantiveram na memória do público. Para a Joan, eles são o símbolo da imortalidade.
CH: Você acredita que adultos e crianças podem ser amigos de verdade?
VAL: Essa é uma boa pergunta. Acho que sim. É uma relação complicada, porque os adultos têm certas responsabilidades que crianças não têm. Eles com certeza não são iguais. Mas Joan e Gavin se ajudam. Eles criam algo juntos. E eles se entendem de uma forma que as outras pessoas não entendem. Isso soa como amizade para mim.
CH: Você também é músico e fez parte de uma banda chamada Awake Asleep, que é o nome do grupo de Gavin com o pai de Joan. O quanto da sua vida pessoal você colocou nesse livro?
VAL: Sim, eu estive nessa banda quando era mais jovem e era péssima, mas eu gostava do nome. (risos) Gosto de inserir detalhes da minha vida nos meus trabalhos. Como eu disse, tem muito de mim nesse livro. Além dos personagens, tem o local onde a cidade se passa: vivo em Jersey City, como no livro. A minha esposa é professora, como a mãe de Joan, e coisas assim…
CH: Existe algum plano de transformar esse livro em um filme?
VAL: Estamos trabalhando nisso, mas ainda estamos em estágio inicial. Não sei exatamente quando vai sair e não posso dizer mais nada.