Vagas de emprego vetam mulheres gordas, negras e que usam óculos de grau
Casos de misoginia e racismo são disfarçados atrás de justificativas como "código de vestimenta" e "exigências de terceiros".
Na última semana, duas notícias denunciando comportamentos problemáticos da sociedade viralizaram. A mais recente dizia respeito a uma empresa brasileira de Minas Gerais, Leveza do Afeto, que trabalha com cuidadores de idosos. Fernanda Spadinger, responsável pela marca, estava compartilhando via WhatsApp uma vaga que fazia a seguinte restrição: “não podem [mulheres] negras, gordas e precisam de pelo menos três meses de experiência”.
Quem denunciou o anúncio foi a cuidadora Eliangela Carlos Lopes, que recebeu a vaga por mensagem no aplicativo. Indignada, ela respondeu: “mas que tamanho preconceito! Não pode ser negra nem gorda. Estou chocada”, ao que Fernanda respondeu: “exigência deles, não minha. Não posso fazer nada”.
Ao se referir ao “deles”, Spadinger falava sobre os possíveis novos patrões e também a Home Angels, que, segundo ela, estava cuidando da vaga a qual ela só estava repassando. A instituição, contudo, quando procurada após a denúncia de racismo feita por Eliangela, disse que Fernanda não possuía vínculo com a empresa e não tinha autorização de divulgar vagas em seu nome. O caso segue sendo apurado pela polícia.
Pouco tempo antes, outros anúncios de emprego direcionados a mulheres causaram choque. Profissionais estavam relatando nas redes sociais que certas empresas no Japão não estavam contratando funcionárias que usassem óculos. A proibição foi pauta em diversos noticiários locais e gerou uma polêmica: e homens de óculos, eles estavam sendo contratados? A resposta é sim.
Apesar de algumas empresas alegarem que essa exigência faz parte de um código interno e que beneficia a própria mulher, já que, em casos de profissionais que trabalham com vendas, os óculos podem “passar uma impressão de frieza”, especialistas e ativistas garantem que a especificação não é nada além de discriminatória. “É tudo sobre gênero(…) Práticas ultrapassadas”, declarou Kumiko Nemoto, professora de sociologia da Universidade de Quioto.
Há um tempo, a hashtag #KuToo, inspirada na #MeeToo, também ganhou a web. A junção das palavras “kutsu” (sapatos) e “kutsuu” (dor) diziam respeito ao Governo Japonês que ficou ao lado dessas empresas e concordou que códigos de vestimenta são necessários, principalmente aqueles direcionados a profissionais do sexo feminino. Sapatos de salto alto, por exemplo, deveriam ser visto como uma obrigatoriedade por todos, já que “deixam as mulheres mais elegantes”. Tais alegações tiraram muitas pessoas do sexo feminino sério, e com razão, que compartilharam online os abusos que já haviam sofrido no ambiente corporativo. “As mulheres são avaliadas principalmente por sua aparência. Essa é a mensagem que essas políticas estão passando”, disse a socióloga Kumiko Nemoto.
Motivada pelos compartilhamentos das japonesas, a empresa Unseen Japan fez um levantamento que mostra como é a questão de igualdade de gênero no país. Sabe-se que, dos 149 países ranqueados, o Japão ocupada a longínqua 110ª posição. 79% das japonesas analisadas ainda declararam que sentem que a sociedade é a favor dos homens – sendo que 68% dos homens consultados concordaram com isso – e que 61% delas já sofreram discriminação sexual na escola. Veja mais dados da pesquisa abaixo:
Em contrapartida, empresas com códigos de vestimenta do tipo garantem que exigências também são feitas para os contratados do sexo masculino, mas a gente sabe que são discriminações muito menores e motivadas por questões que, na maioria das vezes, não são relacionadas às problemáticas de gênero. Se um homem é desaconselhado a trabalhar de bermuda, nunca é porque tira a concentração das mulheres, mas por uma questão de ética e formalidade. No caso da mulher, se ela decide ir ao trabalho com uma roupa curta, é chamada a atenção por estar sendo provocativa e desconcentrando os homens, que deveriam estar mais focados em apresentar resultados à sexualizar o corpo feminino.