Por que o ouro da ginasta Sunisa Lee tem gostinho de reparação histórica
Aos 18 anos, a norte-americana Sunisa Lee se tornou a primeira atleta pertencente ao povo asiático Hmong a conquistar uma medalha olímpica
A americana Sunisa Lee, de 18 anos, ganhou uma medalha de ouro por seu desempenho no individual geral da ginástica nesta quinta-feira, 29, em Tóquio. A jovem pertence à comunidade Hmong, um dos 56 grupos étnicos oficialmente reconhecidos pela República Popular da China. Originários do Sul da China, do norte do Vietnã e de Laos, os hmongs são popularmente conhecidos como “os indígenas das montanhas de arroz”, por dedicarem suas vidas ao plantio do alimento. Além disso, são bastante conhecidos por serem um povo nômade.
O ouro de Sunisa garantiu a ela o posto de primeira atleta hmong da história a se tornar uma medalhista olímpica defendendo os Estados Unidos, que carregam um dívida antiga com a comunidade asiática, conforme lembra o narrador e apresentador esportivo da CBN, Vinícius Moura. “O exército americano recrutou homens dessa etnia em Laos para lutar contra o avanço do Vietnã. Após a guerra, os EUA abandonaram a etnia hmong, que se viu perseguida pelos vietnamitas”, recordou o jornalista nas redes sociais.
O ouro de Sunisa Lee é dos Estados Unidos e da comunidade hmong, um grupo étnico de origem chinesa que foi perseguido no Vietnã após a guerra deste país com os EUA
Sunisa Lee é a primeira atleta hmong a defender a bandeira americana em Olimpíadas pic.twitter.com/7nWYsPOOw3
— Vinícius Moura (@vinicius_moura) July 29, 2021
Após o abandono em massa, e numa tentativa de fugir da perseguição, alguns hmongs foram para a Guiana, após recrutamento da França, onde ainda hoje vivem como refugiados. Para preservar as tradições, o casamento entre pessoas da mesma etnia faz parte da cultura, o que faz com que eles sofram preconceito e xenofobia por parte dos locais, que dizem que eles não querem se misturar.
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A representação na mídia do povo Hmong também costuma ser bastante criticada. No episódio 5 da 2ª temporada de Grey’s Anatomy, “Bring the Pain”, uma jovem hmong precisa ser operada de um grave tumor na coluna, mas é proibida pelo pai, por questões culturais. Mais tarde, Meretidh e Shepherd descobrem que, na verdade, a paciente não poderia fazer a cirurgia sem antes passar por um ritual com um xamã, que encontraria e salvaria sua alma da intervenção médica. O episódio gerou polêmica, primeiro por pintar os hmongs como sendo maus, segundo alguns próprios membros da comunidade, depois pela falta de representatividade e conhecimento histórico, já que os atores escalados não eram hmongs, o termo foi pronunciado de forma errada várias vezes e a série trouxe informações imprecisas sobre costumes que apenas contribuem para o aumento de estereótipos negativos sobre o grupo étnico.
Em entrevista a Elle, concedida antes das Olimpíadas, John Lee, pai da ginasta, disse que, se a filha ganhasse uma medalha, “seria o maior feito já realizado por qualquer hmong na história do povo nos EUA”. John ainda contou que toda a comunidade hmong do Minnesota, onde vivem, estava na torcida. Após a vitória histórica, Sunisa Lee dedicou o prêmio ao seu povo: “As pessoas pelas quais eu faço tudo. Amo vocês”, escreveu no Twitter.
the people i do it all for 😭 I LOVE YOU ALL🤍 https://t.co/ofp9znzQ1j
— Sunisa lee (@sunisalee_) July 29, 2021
A seguir, você confere alguns vídeos para assistir e conhecer mais a fundo os hmongs: