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O Oscar ainda é um prêmio feito por homens brancos para homens brancos?

Em 90 anos, só cinco mulheres foram indicadas na categoria Melhor Direção. "Parasita" foi o 1º longa não falado em inglês a vencer como Melhor Filme

Por Gabriela Junqueira Atualizado em 12 fev 2020, 19h09 - Publicado em 12 fev 2020, 12h00

A primeira edição do Oscar aconteceu em 1929. De lá pra cá, em mais de 90 anos de história, apenas cinco mulheres foram indicadas na categoria de Melhor Direção. Até hoje, Kathryn Bigelow foi a única mulher premiada, em 2010, pelo longa Guerra ao Terror. Neste ano, apesar de muitas mulheres terem concorrido na lista de maneira geral, nenhuma foi indicada ao prêmio de direção. A ausência de indicações de atores e atrizes negros também marcou o Oscar 2020. Apenas uma atriz negra foi indicada: Cynthia Erivo, que concorreu na premiação por sua atuação em Harriet.

Cynthia Erivo no tapete vermelho da 92º premiação do Oscar que aconteceu no último dia 9 Amy Sussman / Equipe/Getty Images

Se, em 2019, filmes dirigidos por mulheres se destacaram e chegaram a render mais de US$ 1,7 bilhões, por que elas então não foram indicadas? Após ter recebido críticas em 2016, por privilegiar homens e pessoas brancas, na mesma época em que as hashtags #MeToo e #OscarSoWhite foram postadas pelos internautas, a Academia de Arte e Ciências Cinematográficas anunciou algumas mudanças: 774 pessoas, de 57 países, foram convidadas para serem membros da associação. Na momento em que a decisão foi tomada, mais de 75% das pessoas que compunham a famosa academia que escolhe os indicados do Oscar eram homens cis brancos.

 

Apesar de ter apresentado algumas mudanças nas indicações em 2017, a edição deste ano mostrou que, no fundo, as transformações não foram tão transformadoras assim. Apesar de novos membros terem sido aceitos nos últimos anos, principalmente no fim de 2019, a composição do grupo que vota o Oscar continua quase a mesma: 68% das pessoas ainda são homens e 84% se identificam como brancos.

Por trás da falta de representatividade nas indicações, está uma indústria que ainda dá mais destaque e valor aos homens e às narrativas masculinas. Para o New York Times, Amy Pascal, ex-presidente da Sony Pictures e um dos nomes por trás de Adoráveis Mulheres, disse que “existe uma crença sistêmica de que histórias sobre homens importam mais do que histórias sobre mulheres(…) Eu não acredito que isso seja verdade. E não acredito que isso torne algo mais comercial”.

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We want more films: ✍️written by women 🎬directed by women 📽️produced by women 👩‍🎤featuring women 🎞️about women. We want a gender-equal media industry! #Oscars #AcademyAwards #GenerationEquality

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Segundo a UN Women, apenas 31% dos papéis com falas são feitos por mulheres. Recentemente, Quentin Tarantino foi questionado sobre qual seria a razão para Margot Robbie ter poucas falas em Era uma vez em… Hollywood. O diretor não respondeu. “É claro que Hollywood tem um problema. Existe uma sensação predominante de que as histórias masculinas são universais, para todos, e que as histórias femininas são apenas para mulheres”, escreveu Melissa Silverstein para um especial da CNN.

Apesar de premiações como o Oscar, o Globo de Ouro e o Bafta não darem o destaque merecido para as mulheres, elas estão, sim, no audiovisual e não vão se calar nem esperar a mudança inativas. Petra Costa, indicada pelo documentário Democracia em Vertigem, exemplifica muito bem isso. A diretora almoçou antes da premiação com outros nomes femininos que também estavam concorrendo e, segundo a Marie Claire, disparou: “O tsunami das mulheres está apenas começando”.

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