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O caso de abuso sexual online em ‘Travessia’ é um superalerta para nós

77% das meninas entre 15 a 25 anos já foram assediadas na internet. E esse é um problema de todos

Por Bruna Nunes Atualizado em 29 out 2024, 18h47 - Publicado em 15 abr 2023, 11h07
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magine só: seu sonho é ser modelo e você faz uma amiga virtual que promete te ajudar. Você fala com ela por vídeo chamada todos os dias, aparece de lingerie, mostra seu corpo, manda fotos… até que você descobre que sua amiga, na verdade, é um homem bem mais velho que estava usando inteligência artificial para te enganar.

Essa é a trama vivenciada pela personagem Karina (Danielle Olímpia), da novela Travessia (TV Globo). As cenas de abuso sexual online, além de chocarem, acenderam um alerta nos telespectadores sobre um problema que também acontece na vida real e chega a atingir meninas e jovens mulheres.

“As pessoas estão se informando cada vez mais sobre como podem se proteger e proteger seus filhos com as redes sociais”, diz a atriz Danielle Olímpia, 25 anos, que interpreta a personagem na novela. Em um papo com a CAPRICHO, ela contou como está sendo interpretar uma trama tão tensa assim e com uma repercussão gigantesca.

Karina, a quem ela dá vida na novela, é uma adolescente ambiciosa e super antenada nas redes sociais, mas ainda assim caiu em um golpe. O grande sonho que ela tinha foi utilizado para manipular suas emoções com o uso de ferramentas online de edição: em nenhum momento ela ouviu a voz ou viu um rosto masculino, mas sim, de uma jovem como ela.

Precisamos de atenção redobrada, não só por parte dos pais, mas do estado, escolas e amigos

Danielle Olímpia, atriz em 'Travessia'
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A parte mais difícil para a atriz entrar em contato com pessoas que sofreram o mesmo tipo de violência que sua personagem. “Eu também me preenchi de informações vendo documentários, lendo matérias, falando com responsáveis da área de psicologia e da tecnologia para que eu pudesse compreender melhor como esses predadores sociais agem”, acrescenta.

Hoje em dia a internet faz parte da vida da maioria das pessoas. Quando se trata de crianças, precisamos de atenção redobrada, não só por parte dos pais, mas do estado, escolas e amigos”, conclui Danielle, reforçando a importância da responsabilidade digital. 

Fora da trama, a realidade também é muito preocupante

É preciso um alerta aqui: as cenas protagonizadas por Danielle são pesadas mas há uma avaliação de que a forma como o tema está sendo tratado pode gerar não só repulsa, mas empatia com  quem é vítima desse tipo de crime.

De acordo com a pesquisa Liberdade on-line? – Como meninas e jovens mulheres lidam com o assédio nas redes sociais, da organização Plan International Brasil, 77% das meninas entre 15 a 25 anos já foram assediadas na internet. O levantamento também mostrou que menos de 2% das meninas consideram a internet um lugar seguro.

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Na novela, após descobrir que foi vítima do crime, a vida de Karina mudou. Ela começou apresentar sintomas de depressão e a praticar automutilação – mostrando que os efeitos deste tipo de abuso não são só físicos, atingem a saúde mental de uma forma intensa.

Os dados do estudo Muito além do cyberbullyingrealizado pelo Instituto AVON em parceria com com a empresa digital Decode, mostram isso: 35% das vítimas deste tipo de crime desenvolveram medo de sair de casa, 30% apresentaram medo de contato social e ideação suicida e 21% acabam excluindo suas redes sociais.

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O que fazer se o golpe acontecer na vida real?

Antes de mais nada, é preciso frisar que: sim, uma pessoa má intencionada pode usar de inteligência artificial para enganar alguém. Sabe aqueles vídeos que circulam nas redes com propagandas de apps que mudam o rosto da pessoa em um vídeo? O nome dessa técnica é deep fake.

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Paula Rodrigues, advogada especialista em proteção de dadosregulamentar e fiscalizar o uso de novas tecnologias é um desafio a nível mundial.

“Aplicações de IA que alteram sons (vozes) ou imagens estão cada vez mais acessíveis ao público em geral e chamam a atenção porque alteram uma percepção da realidade”, pontua a especialista. Apesar de difícil e doloroso, se você cair em uma cilada dessa, o primeiro passo é contar para responsáveis e pedir ajuda para denunciar.

“A vítima e seu representante legal (no caso de menores de idade) poderão procurar a delegacia mais próxima de sua residência e abrir uma ocorrência. Em algumas cidades do país, há delegacias especializadas em crimes cibernéticos”, orienta a especialista, que também explica que o Ligue 180, canal oficial do governo para denúncia de violência contra mulher e meninas, também fica disponível 24 horas.

Você pode ver o endereço completo das delegacias focadas neste tema aqui

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Para combater esse tipo de violência, Paula afirma que a solução não está em uma postura punitiva. “A educação digital tem papel fundamental nesse diálogo: crianças e adolescentes mais bem informados se tornam pessoas mais atentas. Trabalhar a relação de confiança entre pais, familiares e educadores também é relevante.”

Bora tornar a internet um lugar mais seguro para todas nós?

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