“Nenhuma das vezes fui ouvida”, diz mãe de menina de 11 anos sobre Justiça

Responsável pela criança, que teve aborto legal impedido de ser realizado por mais de um mês, fala pela primeira vez sobre o caso

Por Isabella Otto Atualizado em 30 out 2024, 15h50 - Publicado em 27 jun 2022, 15h15
Print de entrevista dada ao Fantástico. Mulher está com o rosto borrado e fala sobre ter sido desrespeitada pela Justiça
TV Globo/Reprodução

Na noite deste domingo (26), a mãe da criança de 11 anos que foi impedida pela Justiça por mais de um mês de realizar o aborto legal, após ser vítima de um estupro, falou pela primeira vez sobre o caso.

Em entrevista para o Fantástico, da TV Globo, ela disse ter se sentido um nada e relatou não ter sido ouvida pelas autoridades em nenhuma das vezes. “Eu me sentia um nada [durante as audiências], porque eu não podia tomar nenhuma decisão pela vida da minha filha, pela ida dela para casa. Então, para mim, foi muito difícil. Chorei, me desesperei, gritei dentro do fórum. Até chamada de desequilibrada eu fui“, relembrou.

A mulher, que assim como sua filha tem a idendidade preservada, seguiu com o desabafo: “Nenhuma das vezes que a gente foi a nenhuma das instâncias eu fui ouvia”, afirmou. Ela também disse que ver a filha ir para um abrigo foi bastante cruel. “Foi uma das partes mais difíceis(…) Não poder ter um controle sobre a vida da minha filha(…) Isso doía muito. Quando eu chegava em casa, eu chorava mais ainda por não poder tomar uma posição na vida da minha filha”, contou.

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A garota foi mantida em uma instituição por mais de um mês, a pedido da promotora Mirela Dutra Alberton. Inicialmente, foi dito que a medida visava a segurança da criança, para mantê-la afastada do suspeito do crime. Contudo, o tempo foi passando e começaram a desconfiar que, na verdade, a decisão não passava de uma manobra para impedir que o aborto legal ocorresse – e assim a menina seguisse com a gestação, mesmo ela sendo de risco e contrária à vontade da vítima, para que o bebê fosse encaminhado para a adoção assim que nascesse.

 

Após o caso ter sido divulgado pelo The Intercept Brasil, ele ganhou grande repercussão. Foi só então que a Justiça enfim concedeu o direito ao aborto humanitário, que aconteceu na última semana. “Correu tudo bem, sim. Estou grata pela saúde da minha filha, que está bem por um pouco de justiça, porque ela é uma criança. Não vou falar para a senhora que eu estou feliz. Não estou feliz. A gente está passando por um processo bem complicado ainda“, desabafou a mãe para a repórter Renata Capucci, do Fantástico.

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O caso segue sendo investigado pela delegacia de Tijucas, em Santa Catarina. Por ora, o suspeito é um menino de 13 anos de idade, embora ainda não tenha sido possível comprovar a ligação dele com o crime.

Por lei, o aborto legal não requer autorização judicial ou comunicação policial no Brasil. Além disso, segundo a legislação, não há limites relacionados à idade gestacional ou ao peso do feto. Lembrando que, assim que procuraram o Hospital Universitário de Florianópolis, para realizar o procedimento, mãe e filha tiveram o pedido negado, pois a instituição disse que só realizava o aborto legal sem autorização da Justiça até a 20ª de gravidez – a criança estava de 22 semanas.

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