Mudanças em edital de livros são anuladas e governo culpa gestão anterior
'A referida medida foi feita pelo governo anterior', escreveu Jair Bolsonaro do Twitter. Ministro de governo Temer, contudo, nega acusações de gestão atual.
Se você acha sua vida bagunçada, é porque ainda não deu uma boa olhada no atual Governo. A bomba estourou na última quarta-feira, 9, quando começou a ser divulgado que a gestão de Jair Bolsonaro havia feito algumas alterações no edital de livros didáticos do ensino fundamental das escolas da rede pública. No PNLD 2020, obrigatoriedades como referências bibliográficas, preocupação com a agenda da não violência contra a mulher e contra os quilombolas e trabalhadores do campo foram excluídas. Além disso, o trecho que especificava que publicidades estavam terminantemente proibidas em livros didáticos também foi retirado.
As alterações foram publicadas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação no dia 2 de janeiro, mas só ontem tomaram grandes proporções. As críticas nas redes sociais não foram poucas, já que as mudanças abririam margens para que temas como feminismo, feminicídio, racismo e respeito à diversidade fossem completamente deixados de lado. A não obrigatoriedade das referências bibliográficas também preocupou muitos educadores. Afinal, como saber sobre as fontes da informação e se elas são confiáveis e não tendenciosas?
Aparentemente, a gestão Bolsonaro se viu em (mais) uma arapuca e, poucas horas após a notícia ser amplamente repercutida, voltou atrás. No Twitter, o ministro da Educação Ricardo Vélez disse que as alterações foram devidamente anuladas já que haviam sido feitas pela gestão anterior, se eximindo da culpa e dando a entender que elas foram publicadas sem o conhecimento do Governo atual.
O Presidente também usou as redes sociais para se manifestar sobre o “mal-entendido”, reforçando mais uma vez que as mudanças foram feitas durante o mandato de Michel Temer. “A referida medida foi feita pelo governo anterior e corrigida por nós”, escreveu.
Rossieli Soares Silva, ex-ministro da Educação, contudo, negou que tenha sido o responsável pelas alterações e pela aprovação do edital 2020. Em entrevista à Folha, ele disse: “nossa gestão nunca discutiu essas questões. Na verdade, em retificações anteriores deixamos mais claras questões como as relacionadas às mulheres”. O ex-ministro ainda garantiu que “todos os atos a partir do dia 1º de janeiro são de responsabilidade do novo governo”.
Essa não é a primeira vez que possivelmente o governo atual, que participa de reuniões de transição desde o dia 3 de dezembro, volta atrás, mesmo o Presidente tweetando que eles “corrigiram” uma mudança do edital e não a aprovaram de fato. Bolsonaro havia se mostrado aberto à instalação de uma base militar dos EUA no Brasil. A gestão recuou e disse que “fizeram um auê” sobre o assunto. Na primeira semana do ano, ele ainda assinou um decreto que aumentava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que foi descartado no mesmo dia pelo secretário especial da Receita Federal.