Marília Mendonça é acusada de transfobia e diz que não justificará erro

"Aceito que fui errada", se pronunciou cantora após reproduzir falas que naturalizam a transfobia durante live; "É muito duro", lamenta fã da cantora

Por Isabella Otto Atualizado em 30 out 2024, 23h44 - Publicado em 10 ago 2020, 10h20

Durante a live “#LadoB”, realizada na noite do último sábado (8/8), assistida até então por mais de 4 milhões de pessoas, Marília Mendonça teve falas consideradas transfóbicas ao contar uma história sobre um amigo depois de cantar a música Sensível Demais, da dupla Chrystian & Ralf. Em tom de ironia, ela disse que o caso aconteceu na antiga boate Diesel, em Goiânia. “Não vou falar quem e nem vou falar o porquê, vou ficar calada. Quem lembra da boate Diesel, lembra da boate Diesel. (…) Foi lá o lugar que ele beijou a mulher mais bonita da vida dele. É só isso. O contexto vocês não vão saber”, falou, ao que um dos integrantes da banda debochou: “Será que era mulher mesmo?”

A Diesel era uma famosa balada LGBTQIA+ que existia na cidade, e o tom de ironia usado para falar sobre ela já não cabia. Típico humor de homem cis branco hétero preconceituoso que sentava no fundão no 6º ano. A influenciadora Bruna Andrade se pronunciou sobre o caso nas redes sociais: “Eu fiquei me perguntando onde estava a piada, onde estava toda a graça. (…) Quando o cara se relaciona com uma menina cis é palmas, é lindo, é família, mas quando o cara se relaciona com uma menina trans é chacota, é piada, é vergonha. (…) E isso é muito duro para mim. (…) Eu não sou digna de ser amada? De ter um relacionamento? Todo relacionamento que eu tiver vai ser chacota?”, questionou.

 

Bruna, que é fã da Marília Mendonça, admitiu ser muito triste ver um ídolo dando declarações transfóbicas, mesmo cenário amargo que muitos fãs de Harry Potter experimentam com frequência com relação à autora J.K. Rowling. Além de trazer um mal-estar pessoal, Bruna garante que a atitude da cantora tem um desdobramento muito pior perante a sociedade. Falas como a dela contribuem para a cultura da transfobia, que mata um número tão grande de transexuais e travestis por ano que faz com que o Brasil lidere o ranking de países mais LGBTfóbicos do globo. “Isso também se dobra na solidão da mulher trans. O afeto para nós é sempre negado. Se tem afeto, é sempre escondido. Se o cara se sentir ameaçado que alguém descubra [a relação], a gente ainda é assassinada”, lamenta.

No Twitter, Mendonça se pronunciou sobre as acusações: “Aceito que fui errada e que preciso melhorar. Mil perdões”, escreveu a cantora, que disse ainda que não tentará se justificar sobre as falas que teve durante a live.

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Os comentários na postagem de Mendonça mostram o quanto a transbofia está enraizada em nossa sociedade e é naturalizada. “Não achei nada de mais no que você falou”, “Fico cada vez mais chateada com as redes sociais. Não pode mais falar nada que é cancelada”, e “Fez uma piada só” são alguns dos depoimentos feitos por pessoas cis heterossexuais que nunca vão saber o que é ser vítima de LGBTfobia – e, desde o 6º ano do colégio, possivelmente reproduzem e riem de pessoas que reproduzem “piadinhas” do tipo, às vezes por maldade, às vezes por pura falta de conhecimento e empatia.

Abaixo, você confere a fala de Marília Mendonça e a explicação dada por Bruna Andrade sobre o caso:

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No vídeo eu mostro um exemplo claro de como a transfobia é naturalizada na nossa sociedade.

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