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Just Dance: campeã brasileira lamenta racismo sofrido na final do torneio

Aos 14 anos, Aynne Allana ouviu de algumas pessoas que só ganhou porque é negra. "Nem consegui comemorar no dia", conta, mas sem abaixar a cabeça.

Por Isabella Otto Atualizado em 14 dez 2019, 11h01 - Publicado em 14 dez 2019, 10h01

No último dia 7, sábado, na CCXP19, rolou a final do torneio brasileiro de Just Dance. Foram 8 candidatos: três do Rio de Janeiro (Diego San, Luciana Nunes e Murilo Furtado), dois de São Paulo (Murilo Futado e Aynne Allana), um de Fortaleza (Luana Oliveira), um de Brasília (Tiago Silva) e um da Venezuela (Dora Mora). Apesar de o Diego San ser um dos favoritos, por ser bicampeão mundial do game, os vencedores foram Aynne Allana, na categoria feminina, e Tiago Silva, na masculina.

Aynne e Tiago são os que estão com o cabelo pintado de azul. Será que esse é o segredo? (risos) CAPRICHO/Reprodução

A final, contudo, acirrada e cheia de energia, foi marcada por um episódio gravíssimo: a competidora Aynne, de 14 anos, que mora atualmente em Belo Horizonte, Minas Gerais, foi vítima de comentários racistas que recebeu após o parecer final de uma das juradas. A maquiadora Fabiana Gomes, da MAC, patrocinadora do concurso, disse que a batalha final entre Aynne e Luciana estava acirradíssima e que seu critério de desempate seria outro: ela daria um voto político. “Eu sempre vou primar por um voto por pessoas que estejam de alguma maneira em situação de desigualdade na sociedade(…) Sempre que eu tiver que decidir entre uma pessoa branca e uma negra, eu vou decidir entre uma pessoa negra“, disse.

Como a final estava sendo transmitida online, não demorou para começar a chover comentários de pessoas dizendo que a adolescente havia sido favorecida por sua cor de pele. “Muitos falaram que só ganhei porque sou negra e muitas outras coisas horríveis. Fiquei bem mal, nem consegui comemorar minha vitoria no dia“, lembra a candidata, que havia conversado com a CAPRICHO momentos antes de entrar no palco e se emocionado ao lado da mãe, que, orgulhosa, disse que a filha está realizando um sonho dela também.

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Dançar é algo que mãe e filha compartilham, e o Just Dance as uniu ainda mais. “A gente dança muito juntas. Minha mãe é minha melhor amiga, eu conto tudo pra ela, e ela ficou superfeliz com a minha vitória. Choramos bastante! Foi um momento especial”, conta a jovem, que diz ter entendido o posicionamento da maquiadora, mas que ele, infelizmente, externalizou o racismo estrutural que existe em muita gente. “Na hora, [o comentário] não me incomodou, porque eu entendi o que ela quis dizer, mesmo não tendo feito o menor sentido na situação. Ela não deveria ter dito aquilo…”, desabafa.

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Em um vídeo postado no YouTube, em que o autor erroneamente diz que Aynne Allana é transsexual (ela é uma mulher cis e hétero), internautas comentaram o caso e a fala da maquiadora: “esse discurso tem que ser dito no lugar certo. Dá até uma vergonha de ouvir um discurso tão certo no lugar errado”, escreveu uma pessoa. Outras concordaram: “militou errado”, disseram. O pai de Aynne também se pronunciou: “procurarei um advogado para poder resolver esses comentários desnecessários. Tiago e Aynne ganharam pelo talento, não pela cor. Parem de querer se promover em cima dos outros“.

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Antes de entrar no palco, Tiago Silva também conversou com a CAPRICHO e contou que investiria no carisma, um dos seus segredinhos para se destacar no torneio. E se destacou! “A energia que o competidor passa para os jurados e a plateia tem que ser boa. Se ele começa uma música lá no alto e termina desanimado, o jurado vai ficar esperando mais”, explicou sobre sua tática e as exigências de um torneio de Just Dance.

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Apesar de ter ficado triste com comentários que recebeu, Aynne, de 14 anos, não se deixa abater. “O pessoal da Ubisoft falou que eu ganharia de qualquer forma, pela pontuação que acumulei, e que era para eu não ligar. O apoio dado foi ótimo!”, conta. A jovem campeã também garante que não vai parar de dançar, nem na sala de casa nem nos torneios, mas não pensa em seguir a carreira de Just Dancer como profissão: “eu tenho vontade de ser policial ou ser neurocirurgiã, mas a dança vai ser uma coisa que vou levar para a vida toda”, celebra.

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