Jovem brasileira conta sensação de já ter tomado a vacina contra a Covid
"É como ter superpoderes e não poder usá-los", desabafa Luana Andrade, de 23 anos, que lamenta o movimento antivacina e os equívocos do governo
Aos 23 anos, Luana Andrade faz parte da pequena porcentagem de brasileiros vacinados contra a Covid – ainda mais na faixa etária em que ela se encontra. Por ser profissional da saúde e ter contato com amostras biológicas positivas para a doença, a biomédica recebeu a primeira dose da CoronaVac/Butantan em 18 de fevereiro e a segunda um mês depois. “Senti uma leve dor no local da aplicação nos primeiros dois dias, além disso não senti absolutamente nada! É importante lembrar que isso varia de pessoa para pessoa, mas todas as reações previstas na bula das vacinas não passam de mal-estares passageiros e simples”, explica.
O Brasil tem cerca de 20% da população vacinada, pelo menos, com a primeira dose de alguma das vacinas disponíveis no país. Um número pequeno rumo à tão sonhada imunidade de rebanho. “Seria hipocrisia da minha parte dizer que não me trouxe um certo alívio, principalmente por ter pegado o vírus ano passado e saber bem como é ruim passar por ele. Mas como um amigo definiu, é como ter superpoderes e não poder usá-los, já que enquanto uma boa porcentagem não se vacinar continuaremos com os mesmos protocolos de antes. Sinceramente, no momento, a tristeza de ver pessoas indo embora sem terem a chance de se vacinar ainda é maior do que a tranquilidade por estar imunizada“, lamenta a jovem.
Há algum tempo, Luana, que cria conteúdo para as redes sociais, publicou um IGTV esclarecendo algumas dúvidas sobre as vacinas contra a Covid, tendo como base tudo o que aprendeu durante a faculdade. Para ela, em pleno século XXI, a gente estar enfrentando uma onda antivacina, com pessoas acreditando em fake news teorias da conspiração sobre o assunto, é simplesmente assustador. É como se parte da população se recusasse a viver no presente e voltasse para uma época em que o povo tinha medo de vacinas por falta de informação, o que não é o caso nos dias atuais, especialmente levando em conta que vivemos no ápice da Era Digital. “Mas talvez, hoje em dia, por ter tanta informação sendo lançada nas pessoas, às vezes sem um background, sem uma explicação simples antes, acaba gerando todo esse medo e receio, mesmo sabendo que nos vacinamos a vida toda e não faz sentido termos esse medo só agora“, garante.
Quando questionada sobre a decisão tomada por alguns países, como Israel, de começar a vacinar àqueles que estavam saindo de casa e trabalhando ao invés de idosos, que podiam se resguardar um pouco mais, Luana acredita que em ambas as situações a gente cai numa de cobertor curto: “Puxa um lado e descobre o outro, sabe? Acho que vacinar quem está mais exposto na rua é uma saída muito boa, já que em teoria os mais vulneráveis e idosos estão guardadinhos em casa. Mas ao mesmo tempo, temos uma taxa de mortalidade maior em idosos, mesmo que hoje em dia a gente veja muita gente jovem falecendo. Acho que o que mais importa nessa hora é uma vacinação rápida, para abranger a maior parte de grupos em menor tempo, eventualmente algum grupo vai ter que ser priorizado infelizmente“.
Para a profissional da saúde, é importante que a campanha de vacinação não retroceda, pois o cenário pandêmico no país pode acabar durante mais do que deveria. Ainda que a passos lentos, ela está ocorrendo, mas Lu não vê uma mudança brusca até pelo menos o final deste ano. Depois, ela ainda explica que a melhora vai ser gradual. “A maior dificuldade está mais ligada à fase de identificar um novo vírus, isolar, estudar suas características e monitorá-lo, principalmente no que se trata da sua capacidade de sofrer mutação, pois de nada adiantaria uma vacina que não cobrisse todas suas variantes. A receita para uma vacina, a partir daí, nós já temos há muitos anos, a dificuldade depois vira mais para o lado burocrático e financeiro do que de produção em si, por isso as vezes demora mais do que gostaríamos”, esclarece. Sem contar todos os trâmites políticos, que acabam dificultando compras de vacinas de países “rivais”.
Por fim, Luana Andrade dá um conselho como cidadã e biomédica para os negacionistas de plantão: “Queria muito que as pessoas ouvissem mais os cientistas e profissionais da saúde envolvidos em todo o processo de vacinação e tratamento da Covid. Essas pessoas passaram anos da vida dedicadas a trabalhos semelhantes a esse, e são elas que podem nos dar resposta confiáveis sobre o assunto. Não há motivos para duvidar de algo tão corriqueiro para os cientistas, assim como não duvidamos da capacidade de um cirurgião de nos operar. Não se desesperem e não acreditem em notícias só porque elas passaram pelas suas redes sociais. Todo mundo tem a escolha de tomar ou não [a vacina], mas pensar no próximo é uma das maiores lições da vida, e optar por não se imunizar pode tirar de uma família uma mãe, um pai, um filho… Se conscientizem da situação e entendam que só poderemos sair dessa e voltar para a nossa rotina com a ajuda de todos. E mais uma vez, confie sempre na palavra e nas orientações de quem dedica a vida por outras vidas”.