Escola faz prova com conteúdo homofóbico e ultrapassado, e causa revolta

"Homossexualismo tem perdão?" foi uma das questões dissertativas que caiu na avaliação.

Por Isabella Otto Atualizado em 31 out 2024, 01h05 - Publicado em 25 nov 2019, 14h00

Na última semana, uma denúncia feita pelo irmão de uma aluna que estuda em um dos colégios da rede particular da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Belém, no Pará, viralizou. Herisson Lopes, de 26 anos, postou nas redes sociais sua indignação ao ver algumas questões que caiu na prova de Língua Portuguesa da irmã, de 14. “A bíblia condena a relação homossexual?” e “Homossexualismo tem perdão?” foram algumas das perguntas feitas na avaliação.

Herisson Lopes/Reprodução

O homem disse que não entende como esse tipo de conteúdo pode contribuir para o desenvolvimento dos alunos, principalmente àqueles que, como sua irmã, estão na fase pré-vestibular. “Pasmem que essa matéria não se trata de Ensino Religioso, e sim língua portuguesa brasileira. Eu não consigo achar conveniente esse tipo de ensinamento para uma turma, principalmente a quem está prestes a fazer seu processo seletivo”, disse em entrevista ao G1. A Escola Adventista de Belém relatou em nota, após ver parte da prova viralizar na internet, que “busca formar um cidadão que respeita opiniões diversas e todos os indivíduos, sem qualquer tipo de discriminação sexual, racial, religiosa ou de outra natureza”.

 

Não é o que parece. Além de fazer perguntas tendenciosas, já que a prova foi inspirada no conteúdo que os alunos leram em sala de aula, retirado do livro De Bem Com Você, da autora Sueli Nunes Ferreria, publicado em 2004, ela também era homofóbica e ultrapassada, já que usou um termo que deixou de ser reconhecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em 1990. Desde então, não se usa mais “homossexualismo” e sim “homossexualidade”, já que o sufixo “ismo” remete a algo relacionado à doença, o que não é o caso.

A Ordem dos Advogados do Brasil do Pará (OAB-PA) se pronunciou sobre a denúncia e disse que a escola cometeu um crime de homofobia e foi contra o que determina o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Em resposta, a Escola Adventista disse que “apresenta uma proposta educacional de alta qualidade pautada em valores da Bíblia” e que “as questões contidas no questionário tinham como objetivo colher as diversas opiniões e sentimentos sobre a temática em estudo e davam a cada estudante a oportunidade de expressar livremente sua opinião”.

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Reprodução/Reprodução

Muitos preconceitos vêm justificados com a desculpa da religião, e o debate é enorme e delicado. Contudo, por mais que não pareça em muitos momentos, e que o colégio em questão seja da Igreja Adventista, o Estado é laico e professores deveriam tomar mais cuidado ao elaborar provas para não cometer erros de usar expressões que não mais fazem parte do nosso vocabulário, principalmente os que Língua Portuguesa, né?

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