E você, já sentiu raiva sem culpa hoje?
"Quando bem usado, esse sentimento nos ajuda a progredir", garantiu a ativista do movimento negro Angela Davis em evento em SP. Você concorda?
Dar uma topada na cama, ver uma situação de injustiça ou esquecer um compromisso importante. Escolhi esses exemplos, porque, vire e mexe, eles me causam raiva, seja de alguém ou de mim mesma. Mas, com certeza, cada um tem os seus gatilhos para despertar e intensificar esse sentimento natural do ser humano.
Mesmo sendo algo normal, a raiva parece receber um selo de tolerância dependendo do gênero e da etnia. Se uma garota tem uma fala séria ou simplesmente prática, especialistas em achismo já podem relacionar o comportamento dela com TPM, por exemplo. O que pode até ser real, mas não é uma regra. Se formos parar para pensar, ninguém fica tentando generalizar a raiva de um homem, não é mesmo?
Para os negros, principalmente para as mulheres negras, também rola um estereótipo de ser “raivoso”. Escravidão, racismo e silenciamento podem, sim, impactar o jeito que nos expressamos, mas julgar essas reações não é algo legal. Não é difícil encontrar pessoas brancas, até as mais desconstruídas, apontando exageros em atitudes de mulheres negras, seja por “enxergar racismo em tudo” ou por situações afetivas entre homens negros e mulheres brancas, também conhecida como palmitagem. Ah! Se esse termo é estranho pra você, já falei sobre o assunto aqui na coluna.
Já ouvi muita gente falar do meu jeito calmo para falar sobre assuntos espinhosos, mas questionando o porquê de outras pessoas não serem assim. E a resposta é óbvia: cada um tem um jeito e vivências diferentes. Por isso, é importante respeitar as escolhas dos outros, mesmo que a sua opinião seja diferente.
Os desdobramentos do racismo, do machismo, da lgbtfobia e de outras formas de repressão não servem como passe livre para ninguém ofender alguém ou coisa do tipo, mas explicam muita coisa. Por isso, o melhor mesmo é tentar entender os motivos que levaram essa pessoa a não estar confortável em alguma situação do que simplesmente julgar.
Durante uma conferência em São Paulo na semana passada, Angela Davis, um dos principais nomes do movimento negro mundial, recebeu à pergunta: “como não ser um negro raivoso?”, que inclusive, me fez escolher esse tema para conversarmos aqui. A professora e filósofa respondeu que não há nada de errado com a raiva. Para a ativista, a raiva só é ruim quando é mal direcionada. “Quando bem usado, esse sentimento nos ajuda a progredir”, comentou.
Ou seja, tá tudo bem sentir raiva. E, mais do que isso, suprir esse sentimento por medo do que vão achar não é saudável. Porém, é importante ficar de olho para que você não fique de lado. Será que vale a pena gastar tanta energia em algo que vai te deixar pior depois? Tento me fazer essa pergunta quando a raiva chega e costuma funcionar para pelo menos ter uma noção do quão fora da casinha eu estou.
E você, como lida com esse sentimento aí dentro? Já parou para pensar se já julgou a raiva do próximo? Conta nos comentários ou manda um e-mail para anacarolipa16@gmail.com. Sugestões de temas para a coluna O Nosso Lado da História também são sempre bem-vindas!
Beijos,
@anacarolipa