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“Hoje, amo ser negra. Mas já quis ser branca só para ser tratada melhor”

Sabia que o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha foi celebrado na última quinta-feira, 25?

Por Ana Carolina Pinheiro Atualizado em 5 jun 2020, 18h42 - Publicado em 27 jul 2019, 10h00

Se a vida fosse um videogame e você pudesse escolher seu avatar para a próxima fase, o que mudaria nele? Bom, se alguém me perguntasse isso quando eu tinha uns 10 anos, escolheria ser uma mulher branca, com cabelo liso na cintura e nariz fino. Ou seja, o oposto das minhas características: negra, cabelo curto e crespo, e nariz largo. Sempre gostei de ser desse jeito e, no fundo, não queria mudar. Mas o jeito que era tratada por conta da minha aparência não deixava eu me amar.

Arquivo Pessoal/Reprodução

Comecei a pensar nisso para lembrar a primeira vez em que o mundo me viu como mulher negra. Poderia ter sido de outro jeito, sem dor e traumas. Infelizmente, não foi. E não é para a maioria das mulheres negras. O incômodo não para por aí: o respeito, a garantia dos direitos básicos, o acesso à educação, a oportunidade de emprego…. Para nós, mulheres negras, tudo isso é reduzido.

Esses são alguns dos motivos para o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, que aconteceu na última quinta-feira, 25, existir. No Brasil, também foi celebrado o Dia Nacional de Tereza de Benguela, uma das principais líderes dos negros escravizados no país e responsável pelo Quilombo do Quariterê, no Mato Grosso. Assim como Tereza, quando olhamos para as nossas ancestrais, bate um sopro de esperança e força para entender que ser mulher negra não é só caminhar no sofrimento.

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Ostentar seu cabelo natural, falar com pessoas com vivências parecidas com a sua, conectar-se com sua história e cultura, e cuidar da mente são coisas aparentemente pequenas, mas que fazem total diferença nesse processo de valorização de quem você é. Quando nos abastecemos de informação e autocuidado, temos a liberdade para escolher só o que realmente nos faz bem.

Hoje, se me perguntassem como seria o meu avatar na próxima fase do jogo, voltaria como uma mulher negra. Precisei de alguns anos para que o orgulho da minha etnia se tornasse maior que o medo de sofrer racismo. Algumas mulheres demoram décadas, outras já vão nascer com essa confiança. Só que nada disso impede de que tenhamos momentos de insegurança, medo e raiva. E está tudo bem, afinal não precisamos ser fortes e nem aguentar tudo o tempo inteiro.

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Agora, o que não precisamos nem vamos aguentar é falta de avanço. Por isso, além de ser uma oportunidade para refletirmos sobre nossa etnia, o Dia da Mulher Negra serve como um grito para os governantes, empresários e todas as pessoas entenderem que medidas precisam ser tomadas. Não é normal que mulheres afrodescendentes sejam as principais vítimas de violência doméstica, sejam mortas por falta de estrutura básica de saúde, tenham o menor nível de ensino e oportunidades de emprego minimizadas.

Quer compartilhar a sua experiência ao se descobrir ou entender como mulher negra ou como uma amiga sua lidou com isso? Então, conta aqui nos comentários, manda uma DM no Instagram ou envia um e-mail para anacarolipa16@gmail.com. Sugestões de temas para a coluna, “O Nosso Lado da História”, também são sempre bem-vindas!

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Beijos,
@anacarolipa

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