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Cleópatra branca? O whitewashing é um problema no cinema e na literatura

Quantos personagens originalmente de etnias minoritárias já foram embranquecidos pela arte? Por que só quando acontece o contrário é que rola polêmica?

Por Roberta Gurriti 12 nov 2022, 10h01
Imagem do filme Cleopatra, de 1963
Em 1963, a icônica atriz Elizabeth Taylor interpreotou a personagem histórica Cleópatra nos cinemas, que por diversas vezes é retratada como uma mulher branca Divulgação/Divulgação

Você sabe o que significa whitewashing? Este termo se refere ao embranquecimento de personagens negros, asiáticos e de outras etnias minoritárias. É quando personagens e até mesmo figuras históricas passam a ser interpretados por pessoas brancas em filmes e séries, por exemplo, apagando a representação e a vivência desses povos.

E não é diferente nos livros, viu? O whitewashing é superproblemático no meio literário. Seja porque as características físicas de um personagem se perderam na tradução por parte da editora seja por falta do próprio autor ter deixado especificado a etnia e os traços do personagem em questão.

 

Toda vez que um autor deixa de especificar as características de seus personagens no livro, os leitores automaticamente o verão como uma pessoa branca, seja pelo racismo estrutural que vivemos diariamente na sociedade, seja pela descrição vazia e básica do autor.

Quer um exemplo? A protagonista de A Rainha Vermelha, Mare Barrow. Há quem diga que a personagem é negra, há quem diga que ela é hispânica. Uma coisa é certa: branca, como muitas fan arts e dreamcasts por aí a retratam, ela não é.

Ilustrações retratando Mare Barrow, do livro A Rainha Vermelha
Ilustrações retratando Mare Barrow, do livro A Rainha Vermelha Reprodução/Reprodução

Esse é o maior problema que enfrentamos: o de não poder enxergar e dar voz a uma personagem que tenha características diferentes de uma padrão e esteja em seu auge, seja forte, bonita, guerreira, protagonista de um dos mais famosos livros de fantasia. O whitewashing reforça a estrutura do racismo estrutural, quando se tira – ainda mais – as oportunidades dos personagens de outras etnias do foco, os embranquecendo e apagando toda sua representatividade da narrativa.

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Mas, Robs, tem personagens pretos que estão no lugar de personagens brancos nas adaptações, não?! Sim, e deveríamos estar muito felizes com isso! Não é uma questão sobre quem está tirando o lugar de quem. Mas, se formos olhar para séculos de história, em que até poucos anos atrás uma pessoa preta interpretava apenas o papel de empregado – e, às vezes, nem isso -, é de se agradecer essa mudança tão tardia, mas ainda em tempo. É dar a possibilidade de uma atriz preta ser princesa, guerreira, heroína e protagonista de uma comédia romântica.

Yanna McIntosh no papel de Hermione Granger e Halle Bailey no papel de Ariel
Yanna McIntosh no papel de Hermione Granger e Halle Bailey no papel de Ariel Kevin Berne e Disney/Divulgação

Machuca muito quando reclamam da troca de etnias de personagens que protagonizam, por exemplo, seres que não existem, como é o caso do live-action de A Pequena Sereia, em que Halle Bailey será a Ariel. Para que tanto hate? Sereia nem existe! Gênio da lâmpada (protagonizado por Will Smith em Aladdin) e Fada Sininho (que será a Yara Shahidi em live-action) também não. Poderiam ser azuis, vermelhos, verdes, mas nunca pretos, né? Tantas reclamações sem sentido e relevância…

Quantas sereias, princesas, heroínas, guerreiras e protagonistas de romances padrões brancas, cis e heterossexuais existem? Milhares! Se você reclama do minúsculo espaço que os artistas pretos estão tomando, tenho uma notícia para te dar – e tem a ver com o tal racismo estrutural.

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