#CadeOsYanomami: entenda o caso dos indígenas desaparecidos em Roraima
Nesta sexta-feira (6), foi divulgado que os indígenas foram encontrados e que alguns estavam acompanhados de garimpeiros
Na manhã desta sexta-feira (6), Júnior Hekurari, presidente do Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana), relatou que os indígenas yanomami que estavam desaparecidos desde a última semana de abril foram encontrados.
De acordo com o líder, eles estavam longe da região de Aracaçá, onde moravam, e alguns estavam acompanhados de garimpeiros. A notícia foi dada pela Folha de S. Paulo e confirmada pelo G1. Por ora, nenhuma outra informação foi divulgada.
Na última quinta-feira (5), a hashtag #CadeOsYanomami tomou conta das redes sociais. Potencializada por celebridades, políticos e ativistas pelos direitos dos povos indígenas, ela denuncia o sumiço da comunidade Aracaçá, na área de Waikás, em Roraima, após ação de garimpeiros ilegais na região.
Organizações de povos indígenas trabalham com a hipótese de que a comunidade inteira foi vítima de um incêndio criminoso na região. O caso se tornou público após denúncia de que uma menina Yanomami, de 12 anos, foi estuprada até a morte por garimpeiros que exploram ilegalmente a região. Durante investigação, comunidade não foi encontrada e há rastros de fogo.
Celebridades como a cantora Ludmilla usaram a movimentação para questionar a atenção das autoridades para o caso – assim como a da grande imprensa. “Isso é um absurdo! Uma comunidade indígena inteira sumiu. Por que a Mídia não está falando sobre isso?”, escreveu no Twitter.
Isso é um absurdo! Uma comunidade indígena inteira sumiu. Porque a mídia não está falando sobre isso? Onde estão os 25 Yanomami? https://t.co/qNC1b2Fvlp
— LUDMILLA 🏍 (@Ludmilla) May 3, 2022
Uma das lideranças indígenas mais importantes do país, Daniel Munduruku, também usou suas redes sociais para denunciar o caso e pedir por justiça.
Indignado com o silêncio da grande imprensa e do (des)governo sobre esse caso estarrecedor. Uma criança de 12 anos estuprada até a morte e uma comunidade inteira desaparecida. Exigimos respostas, exigimos justiça. Não esqueceremos, e vamos achar os responsáveis. #cadeosyanomami
— Daniel Munduruku 🏹🇧🇷 (@DMunduruku) May 4, 2022
Mas o que aconteceu?
Em abril, Júnior Hekurari publicou um vídeo denunciando crimes de sequestro, estupro e feminicídio praticados por garimpeiros ilegais na comunidade Aracaçá. Após a denúncia, equipes especializadas chegaram à região, mas a comunidade já não ocupava mais o mesmo lugar.
De acordo com a denúncia do líder indígena, uma criança de 12 anos foi sequestrada na aldeia quando a maioria dos homens da comunidade estava fora, caçando. A vítima foi estuprada até a morte e seu corpo só foi encontrado alguns dias depois por moradores.
Hekurari ainda conta que os garimpeiros levaram também uma mulher adulta e uma criança de 4 anos. Ambas foram jogadas no Rio Uraricoera. A mulher conseguiu fugir, mas a menor de idade veio a óbito. O corpo ficou desaparecido no rio por alguns dias até ser encontrado.
“É muito triste que esteja acontecendo isso com o meu povo”, desabafou o líder Yanomami no vídeo. Assista:
Conforme vídeo, recebi a informação hoje (25/04) as20h que uma adolescente de 12 anos foi violentada brutalmente por garimpeiros na região do Palimiú e, que uma criança de 4 anos que estava com a mesma caiu do barco em que estavam.Amanhã estarei indo no primeiro horário p/comuni. pic.twitter.com/KOhCuxpXy3
— Júnior Hekurari Yanomami (@JYanomami) April 26, 2022
O que dizem as autoridades sobre o ‘sumiço’ dos indígenas?
Equipes integradas e especializadas da Polícia Federal, do Ministério Público Federal (MPF), da Funai (Fundação Nacional do Índio) e Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) viajaram até a região de Waikás para investigar as denúncias. A Força Aérea Brasileira também participou da operação, segundo informações do Governo Federal.
As versões das equipes, no entanto, são divergentes. Em nota oficial, o MPF afirmou que “não foram encontrados indícios materiais da prática dos crimes de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento” mas que continuavam “em diligência em busca de esclarecimentos”.
Já o Condisi diz o contrário. Júnior Hekurari, que acompanhou as buscas, informou que, na realidade, quando chegaram à aldeia, ela não mais existia. Além do povo ter sumido, havia marcas de que um incêndio ocorrera. A denúncia suscitou uma onda de comoção na internet com a campanha “Cadê os Yanomami”.
“A Colonização acabou.”
2022: “Comunidade indígena Yanomami desaparecida após ataques de garimpeiros que estuprou uma criança”.
— Iago Gomes (@profinfluencer) May 1, 2022
“Alguns lideres Indígenas se reuniram e analisaram as imagens da comunidade queimada e relataram que, conforme costume e tradições, após a morte de um ente querido a comunidade em que ele residia é queimada e todos vão para outro local“, informou o Condisi para a CNN.
A organização ainda afirma que algumas testemunhas relataram ter sido coagidas por garimpeiros e que ouro foi oferecido em troca do silêncio. Por isso, a entidade não descarta hipótese de um incêndio criminoso. Para Hekurari, os moradores estão vagando pela floresta até encontrarem um local mais seguro para se estabelecerem novamente.
O que é o garimpo ilegal?
Durante as buscas das equipes na área de Waikás, em Roraima, foram encontrados um entreposto e um posto de gasolina clandestinos, que foram incendiados na tentativa de dispersar os garimpeiros ilegais da região – só que essa história toda não é de hoje.
De acordo com a Hutukara Associação Yanomami, o garimpo ilegal ocorre em terras Yanomami desde os anos 80; esta prática é uma das principais causas do desmatamento.
Só em 2020, ele destruiu 73% de áreas protegidas, segundo estudo realizado pelo Greenpeace. Hoje, estima-se que mais de 20 mil garimpeiros ilegais atuem em terras Yanomami, que corresponde à maior reserva indígena do Brasil.
O que está sendo feito?
Nesta quarta-feira (4), uma equipe de parlamentares do Senado e da Câmara dos Deputados viajará para Boa Vista (RO), para apurar as denúncias. “Essa é uma resposta do Parlamento. A todos os instantes nós vemos, nos noticiários, cada vez mais se tornar grave a violência nas terras indígenas. Existe um apelo da sociedade brasileira para que responda as denúncias recentes de #CadeOsYanomami?”, disse a deputada Joênia Wapichana (Rede-RR).
Ou vocês acharam mesmo que não existe manipulação da mídia e a compra do silêncio pelo que acontece nas aldeias ?!
— Alice Pataxó🏹Cadê os Yanomami? (@alice_pataxo) May 3, 2022
A Polícia Federal também divulgou que vai instalar uma base no local cujo principal intuito é fiscalizar e frear as atividades de garimpo ilegal. A Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou um pedido do senador Humberto Costa (PT-PE) para que haja a realização de diligências externas para apurar as denúncias sobre o garimpo ilegal em reservas indígenas.
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É interessante destacar que nem todo garimpo é ilegal. Entretanto, o praticado em Roraima, por exemplo, ocorre 100% na ilegalidade, pois é realizado dentro de terras indígenas. A falta de fiscalização e os projetos de lei que defendem a legalização da atividade em áreas protegidas estimulam não só as invasões e o desmatamento, como todos os crimes e as violências já citados anteriormente.