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Até quando vamos engolir quem vende balinha pro cabelo usando mega hair?

Nós, mulheres, precisamos parar de nos enganar e acreditar em tudo o que vendem pra gente, porque muitas ainda acreditam no desserviço

Por Isabella Otto Atualizado em 6 dez 2021, 11h25 - Publicado em 5 dez 2021, 10h01

A melhor metáfora para mim hoje de sociedade é a história das influenciadoras que fazem publis de balinhas de goma que promovem o crescimento do cabelo usando um longuíssimo mega hair. É podre, é enganoso, é micão, mas tem gente que acredita. É tipo quando dizem para nós mulheres que as coisas estão melhorando, nos vendem um feminismo enlatado, que ainda segrega tantas de nós, mas disfarça um pouco as coisas. Parece que o mundo está evoluindo, e estamos mesmo dando passos importantes na luta por um dia a dia menos nocivo e misógino, mas daí nos deparamos com notícias como as a seguir, que automaticamente nos transportam para os assombrosos anos 2000, e a gente se dá conta de que, na verdade, tem muita situação que é só balinha pra crescer cabelo mesmo.

Print de duas matérias publicadas na internet: uma sobre a barriga chapada de Fernanda Paes Lemes e outra sobre a cintura PP de Bruna Marquezine
Reprodução/Reprodução

Veja bem, os anos 2000 foram musicalmente ótimos, com filmes icônicos e uma moda que, apesar de para muitos duvidosa, foi um marco – e tem até umas tendências voltando por aí. Mas, no quesito padrões de beleza, não deixam saudade. O negócio era ser tipo a Avril Lavigne (mais na aparência, menos na atitude sk8er grl): branca, loira, magra, com um cabelo lisíssimo e uma pele impecável. E haja escova progressiva, de chocolate, formol, relaxamento e química para quem não tinha os fios lisos por natureza, viu? Era, pra variar, tudo padronizado. Você olhava para os lados e era como se todas as mulheres tivessem entrado em máquinas e saído todas iguais. Não muito diferente do que acontece hoje, embora o padrão seja outro. Sempre é. Mas ele sempre existe.

É bem provável que a onda (uma daquelas bem bonitonas!) da transição capilar só tenha ocorrido por causa da exaustão causada pelos anos 2000 – mas não deveríamos ter que passar por esses traumas para nos reencontramos. E daí é uma droga, porque por mais que a discussão tenha alcançado os grandes veículos de comunicação, porque alcançou, em pleno 2021, quase 2022, continuamos nos deparando com matérias caça-cliques usando o corpo feminino como chamariz. Sério, se você acessar a matéria publicada sobre a “barriga sarada” de Fernanda Paes Lemes, vai notar que nem dá para ver a barriga da atriz nas imagens, porque a bermuda cobre. Aparece apenas uma faixa da cintura. Só.

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O mesmo caso com a tal “cinturinha PP” da Bruna Marquezine. É só uma cintura e mal dá para ver a barriga da atriz nas fotos. E mesmo se desse… Bem, ainda assim, é só uma barriga! Ou deveria ser, mas não é. Matérias do tipo reforçam a objetificação do corpo da mulher e contribuem para padrões de beleza que são nocivos tanto para as gordas quanto para as magras – porém, mais para gordas, vide sociedade em que vivemos, que exalta corpos magros mesmo que estes estejam longe de estarem saudáveis. E muito provavelmente essas matérias só continuam existindo porque a gente dá moral para elas: a gente clica, a gente quer cobiçar um corpo alheio que nada tem a ver com o nosso e com a nossa realidade, a gente quer se comparar, a gente acredita na famosa que vende produto “seca barriga” depois de fazer uma baita lipo LAD e na influenciadora que ostenta sua “nova barriga chapada” um mês após dar a luz. Cada um faz o que quer e pode da vida? Sim. Mas, de novo, tem muita gente por aí vendendo (em troca de comissão) balinha pro cabelo sem tirar o mega hair.

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Prints de matérias publicadas nas redes sociais sobre a irrealidade dos corpos femininos, como: corpos de praia, emagrecimento, publi pra cabelo usando aplique, etc
Reprodução/Reprodução

“Ah, mas precisa ter uma cabelo forte e saudável para colocar aplique” ou “o gel redutor é para manter a lipo”… Gente, tais justificativas só surgem após o pulo do gato ser descoberto. E antes que homens venham reivindicar seus lugares e suas dores em mais um espaço questionável, sim, o corpo masculino também é sexualizado e, fazendo o recorte de raça, a discussão se tornam ainda mais problemática. Contudo, não é na mesma intensidade e com o mesmo peso histórico. Será que um dia a gente finalmente vai ter um segundo de paz e parar de se enganar ou vamos sempre ser perseguidas pelo (o que já deveria ser ultrapassado) conceito de “corpo de praia”?

E o Verão está apenas começando, então, brace yourselves, mulherada! E para de acreditar em tudo o que te vendem. Na maioria das vezes, não é milagre nem primeira necessidade: é só mega hair. 😉

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