12 conselhos de terapeutas sobre “corpo ideal”, autoestima e gordofobia

A adolescência tende a ser cheia de questões a respeito da aparência física, que começam na infância e podem durar uma vida toda

Por Isabella Otto Atualizado em 30 out 2024, 17h09 - Publicado em 20 set 2021, 16h02

Autoestima tem a ver com empoderamento, que tem a ver com a cultura da competitividade feminina, que tem a ver com machismo, que tem a ver com pressão e controle sobre os nossos corpos, que tem a ver com padrões estéticos, que tem a ver com indústria da beleza, que tem a ver com confiança, que tem a ver com julgamento, que tem a ver com autoestima.

Ilustração de uma mulher se olhando em um espelho de mão, redondo. Ela não está muito feliz.
Ponomariova_Maria/Getty Images

Nesta nossa 3ª sessão de terapia online, gratuita e express, contamos com a participação da: Cintia Seabra, Psicóloga Clínica com mais de 20 anos de experiência, especialista em compulsão alimentar e emagrecimento; Cris Linnares, psicóloga e terapeuta de mulheres há mais de 20 anos, palestrante e autora do best-seller Doidas no Divã; Heloise Mazzia, psicóloga no Zenklub e especialista em transtornos alimentares pelo Ambulim (USP); Jaina Scheffer Wojcicki, psicóloga especialista em inteligência espiritual e terapias complementares; Lara Ramos Xavier, psicóloga da Equipe de Psicologia do Hospital Santa Cruz (Curitiba/PR); Natália Lima, terapeuta holística e homeopata do Espaço Tatva; Regina Giannetti, autora do podcast Autoconsciente, sobre vida interior; e Thiago Guimarães, Psicoterapeuta Analítico e pós-graduando em Neurociência e Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica (PUC)

1. Reduzir a vida a um corpo ideal é reduzir demais quem você é

Conselho da Cintia: Já parou para pensar sobre os padrões estéticos estabelecidos? Já refletiu sobre o conceito de bonito e feio? Por que você precisa mudar o seu corpo? Já parou para pensar que o que você acha bonito ou feio foi exatamente o que você aprendeu na cultura e sociedade que você faz parte? Lembre-se de que muito mais que um corpo, tem uma vida neste corpo; e jovens com esta consciência tendem a não ficar na busca incessante e sofrida do corpo “perfeito e ideal”. Reconhecer suas escolhas, suas capacidades e conquistas, ao perceber sua vida como está, será sempre ótimo para nutrir uma melhor autoestima. Reduzir a vida a um corpo ideal é reduzir demais quem você é. Seja livre, viva em paz com seu corpo e compreenda que, muitos que podem te atormentar, por você não fazer parte de padrões estéticos, estão, geralmente, muito desconectados deles mesmos. São possivelmente inseguros e acreditam que, para serem felizes e aceitos, precisam seguir o coletivo. Respeitar a si mesmo e bancar suas escolhas pode trazer um sentimento incrível de mais segurança e até mesmo admiração por muitos que não conseguem (ainda) fazer o mesmo. Autenticidade também se admirar, e infelizmente é algo que muita gente não consegue ter.

2. Ganhamos uns likes aqui e acolá, mas, no fundo, nos achamos uma fraude

Conselho da Regina: Nosso cérebro coloca em evidência tudo que “não é como deveria ser”. É como se a gente enxergasse com uma lente de aumento o que consideramos “imperfeito” em nós. Agora, coloque as redes sociais nessa história e tudo fica ainda mais complicado. Nas fotos, é fácil esconder o que não gostamos e destacar o que temos de bom. O modo como nos mostramos nas redes só aumenta a rejeição das nossas “imperfeições” e a idealização de um corpo “perfeito”. Ganhamos uns likes aqui e acolá, mas, no fundo, nos achamos uma fraude… Sem contar que nos comparamos muito com todo mundo! Está na hora de repensar tudo isso. Querer parecer o que a gente não é e esconder partes de nós é uma ótima receita de infelicidade, faz a gente se preocupar demais em como somos percebidas e traz muita insegurança. O que nós queremos é nos sentir bem com nós mesmas, certo? Pois isso, passe a se aceitar do jeito que é, com as partes “imperfeitas” também! Autoaceitação não é algo que se adquire num estalar de dedos, é um processo, é um exercício diário de se olhar, de abraçar aquela nossa parte “imperfeita” assim como abraçamos quem a gente ama, com todos os seus “defeitos” e qualidades. A aprovação, aceitação e amor que a gente tanto busca fora de nós – nas redes, nas outras pessoas – pode vir de dentro, o nosso relacionamento com nós mesmas.

+: Já passou da hora de você desintoxicar esse seu feed do Instagram 

3. Quem fica reparando demais nos outros, corre o grave risco de nunca reconhecer

Conselho da Cintia: Quanto mais olharmos para fora, mais nos compararmos, pior ficará a nossa segurança e autoestima. Portanto, invista no seu autocuidado, fazendo coisas para você, se tratando bem ao invés de ficar achando que a vida do outro é bem melhor que a sua. Quem fica reparando demais nos outros, corre o grave risco de nunca reconhecer o que tem. Ou pior! Ter dificuldade de saber o que quer e correr atrás disso. Consequentemente, se abandona e tem autocrítica severa. Este não é um bom caminho para ninguém. É importante demais que seu diálogo interno seja mais gentil, amoroso e compreensivo, ao invés de ser duro, crítico e cruel.

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4. A competividade pode ser bastante tóxica, dependendo do contexto

Conselho da Jaina: Foque em suas habilidades e não se compare com os outros. Cada um é único! Você vai se sentir menos pressionado, se focar apenas em suas próprias habilidades. Sabemos que o mundo é competitivo, mas não podemos esquecer que somos incapazes de controlar o esforço alheio. Tenha sempre isso em mente! A competitividade nos encoraja a ser melhor do que os outros, porém, como troca, sofremos uma pressão constante (muitas vezes, de nós mesmos) em sermos o melhor naquilo que fazemos, gerando às vezes uma expectativa fora da realidade. Ao focar em si, você se toma total controle do próprio destino, aumentando a sensação de confiança, ao invés da ansiedade e sofrimento por pressão.

Ilustração de mulheres de mãos dadas, numa subida, uma puxando a outra rumo ao topo
Ponomariova_Maria/Getty Images

5. A autoestima tem relação com responsabilidade, sonhos e metas

Conselho da Cintia: A autoestima melhora, consideravelmente, quando o jovem passa a ser mais responsável pelo que ele quer. Ao invés de carregar o sentimento de culpa, e muitas vezes até medo ou preguiça de correr atrás do que deseja, ele arregaça as mangas e mesmo lidando com dificuldades, ele se atreve, arrisca, cai, levanta, mas batalha por aquilo que vai fazê-lo mais feliz e realizado. Ser responsável é um bom tempero para dar sabor à autoestima de qualquer jovem.

6. O que o outro pensa e diz ao nosso respeito tem mais a ver com o outro do que com a gente mesmo

Conselho da Heloise: É necessário fazer um filtro das páginas e dos conteúdos que estão sendo acessados nas redes, deixando de seguir perfis que promovem a pressão estética ou que utilizam padrões físicos e de comportamento incompatíveis com a vida real. Busque perfis que mostram corpos reais e hábitos de vida alcançáveis. Pessoas irão gostar de nós pelo que somos, pela nossa personalidade, por aquela característica que faz de nós únicos, não só pelo nosso corpo. O que o outro pensa e diz ao nosso respeito tem mais a ver com o outro do que com a gente mesmo. Assim, é importante continuar trabalhando em sua autoconfiança e amor próprio até que essa necessidade de provar algo para alguém não exista mais. Invista emocionalmente em você, se observe por dentro e saiba com clareza quais as suas qualidades e potencialidades, saiba que dentro de um corpo existe um humano e isso transcende qualquer aparência. Cuide de você de forma completa e amorosa: tenha um hobby que te traga bem estar, esteja rodeado de pessoas que te façam bem, mantenha relações que contribuem para sua boa autoestima e repense as que não agregam em nada.

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7. A satisfação vira temporária e o desejo para fazer algo a mais só aumenta

Conselho da Lara: Quem nunca tentou aprender aquela make que afina o rosto e empina o nariz? Buscou o truque do cabelo sem frizz, o corte de roupa que afina a cintura, o valor da harmonização facial, e por aí vai? A indústria da beleza oferece infinitas formas de “corrigir nossas imperfeições”. As estratégias para alcançar estes objetivos, em massa, geram pressões e desejos “corpo ideal”. Mas até que ponto isso é saudável? Afinal, é importante entender que a vida real é muito diferente dos filtros das redes sociais. Quando paramos para observar, até já atingimos aquela sensação de insuficiência: “Está bom assim, mas se eu pudesse ou tivesse dinheiro, faria novas mudanças”. E aí vão inúmeras pequenas intervenções que parecem fazer a diferença. No fim, a satisfação vira temporária e o desejo para fazer algo a mais só aumenta. Enquanto a autovalorização e a autoestima viram picos de sentimentos, interferindo nossa identidade e aceitação.

Ilustração de uma mulher dentro de uma flor, regando o balde de planta em que está florescendo
Ponomariova_Maria/Getty Images

8. Ninguém deveria se achar no direito de fiscalizar o corpo alheio, muito menos rotular como este corpo deveria ser

Conselho da Cintia: Se isto ocorrer, divida o seu sentimento com seus pais ou com amigos de confiança. Tenha uma rede de apoio, gente que você gosta, se sente bem e pode te auxiliar a lidar com estas questões. Além disso, se o bullying ocorrer na escola, comunique seu professor ou coordenação. Falar sobre o assunto, com quem você se sente bem e confia, pode ser bem importante para você descobrir maneiras diferentes de lidar com os comentários e brincadeiras inconvenientes. Quando você compartilha, se sente mais leve, põe para fora e percebe, com a ajuda de outros, como lidar com estas situações desconfortáveis relacionadas ao seu peso, até mesmo terá o apoio para que isto cesse. Quem são as pessoas que te machucam com brincadeiras, falas e ofensas sobre o seu corpo? Perceba que podem ser pessoas cruéis, indelicadas e desrespeitosas, o comportamento delas diz mais sobre elas do que sobre você. Se afaste se for possível, evite contato e reconheça que, provavelmente, não é uma boa pessoa para se ter por perto. Viva, portanto, em paz com o seu Entenda que quem faz piadas, críticas ou condena como você lida com o seu, pode não ser tão corajoso como você. Pode ser alguém que tem dificuldades para respeitar as próprias vontades e viver como bem quiser, não se importando, portanto, com o que os outros possam falar.

9. Quando uma mulher brilha, ela ilumina e inspira todos que estão a sua volta

Conselho da Cris: Durante a adolescência, temos o hábito de viver em “tribos”: mesmos penteados, mesmas roupas, mesmas cores de esmaltes, seguindo um padrão para se encaixar em padrões de aceitação. Como dica eu recomendo: se conheça! Tudo o que que conhecemos, aceitamos e, por consequência, respeitamos e valorizamos enquanto indivíduo. Costumo sempre dizer em minhas palestras e também no meu livro Doidas no Divã que, quando uma mulher brilha, ela ilumina e inspira a todos que estão a sua volta. O mundo precisa disso e você também! Se você está bem com as suas formas, não deixe a opinião dos outros te afetar e, ao menor sinal de gordofobia, sinalize. As pessoas precisam entender às vezes a famosa frase “Você tem um rosto tão bonito, por que não emagrece?” está repleta de preconceito. Você não precisa caber em nenhum padrão para se sentir bem, sua autoestima vale mais. Se permita brilhar, aceite quem você é e também os seus talentos. O que é belo para o outro, pode não ser para você, e está tudo bem!

10. Não existe uma fórmula mágica para ganhar autoestima

Conselho do Thi: A insegurança faz com que a gente se sinta inferior aos outros. Geralmente, isso começa lá na nossa infância e pode se arrastar por muito tempo. Infelizmente, não existe uma fórmula mágica para ganhar autoestima. Neste caso, o ideal é que você busque ajuda de terapia. O processo terapêutico vai colaborar com seu crescimento emocional e isso vai fazer com que você se sinta mais confiante.

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11. O espelho é o grande responsável por aumentar ou diminuir a nossa autoestima

Conselho da Natalia: Por isso, a nossa imagem pessoal depende muito da forma como nos enxergarmos. É algo inconsciente, mas é fácil entender que uma pessoa insatisfeita cuidará menos do corpo, da saúde, da imagem, do que alguém de bem com a vida. No Brasil, essa pressão, principalmente por um corpo perfeito, tem conduzido muitas brasileiras a desenvolveram transtornos comportamentais, como baixa autoestima, ansiedade e até mesmo depressão. Para melhorar sua autoestima, cuida da sua casa física e mental, e não apenas da aparência dela: alimente-se e durma bem, dê prioridade para o café da manhã, mexa o corpo, pratique atividades físicas, troque o elevador pela escada, caminhe duas paradas até o ponto de ônibus e invista na acupressão [terapia alternativa da tradicional medicina chinesa, a acupressão é um tipo de massagem que pode se auto aplicar usando os polegares e indicadores em pontos do corpo que estimulam a diminuir ansiedade, stress, melhorar o metabolismo e valorizar o autocuidado].

12. Quando somos jovens, é comum que nos preocupemos demais com a nossa aparência física

Conselho do Thi: Nós somos seres únicos, cada um de nós tem um jeitinho especial de ser e é exatamente aí que está a magia em ser humano. Quando somos jovens, é comum que nos preocupemos demais com a nossa aparência física. Porém, com o passar do tempo, vamos amadurecendo e percebendo que são outros valores que importam. Faça uma atividade: olhe o seu corpo no espelho, preste atenção em cada detalhe. Toque seu corpo e sinta sua própria pele. Faça as pazes com a sua aparência, vai valer a pena.

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