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Antes de ser uma rainha notável, Elizabeth II foi uma mulher histórica

Lilibet cavalgou até os 96 anos, governou em tempos turbulentos de guerras, crises familiares e pandemia, e foi a monarca mulher mais longeva da História

Por Isabella Otto Atualizado em 8 set 2022, 18h27 - Publicado em 8 set 2022, 18h03
Rainha Elizabeth II ainda jovem, ao lado de seu cão corgi caramelo e rodeada de flores
Elizabeth II posa ao lado de um dos seus muitos corgis, no jardim do Castelo de Balmoral, em1952 Bettmann/Getty Images

Desde que os primeiros rumores a respeito da morte da Rainha Elizabeth II começaram a circular, na manhã desta quinta-feira (8), pessoas questionando a solidariedade dos brasileiros a respeito do tema surgiram aos montes nas redes sociais. Afinal, por que nós, que não temos nada a ver com a monarquia britânica, ficamos tão abalados com as notícias sobre o estado da saúde da monarca e, posteriormente, enlutados com a confirmação de sua morte?

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A resposta é simples: pela relevância histórica da Rainha e pela inúmeras memórias afetivas que temos relacionadas a ela.

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Muito além de ter se tornado um ícone do entretenimento, tendo alavancado a fama internacional da família real britânica e feito um regime ultrapassado seguir a passos suficientemente firmes, Elizabeth II foi a monarca mais longeva do Reino Unido. Foram 70 anos ocupando um trono que anteriormente fora dominado por homens – e vai continuar sendo, uma vez que, na linha direta de sucessão direta, temos Charles, William e George.

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Por pouco, Lilibet, como era carinhosamente chamada pelos familiares mais próximos, não quebrou o recorde mundial de Luis 14, o Rei Sol, que ocupou o trono francês por 72 anos. Se esperavam, como sempre revoltosamente ainda esperam, fraqueza de uma mulher, receberam uma majestosa firmeza, galochas e uma montaria de amazona.

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Elizabeth II cavalgando em Windsor, durante a pandemia, no auge de seus 94 anos
Elizabeth II cavalgando em Windsor, durante a pandemia, no auge de seus 94 anos Steve Parsons - WPA Pool/Getty Images

É preciso ressaltar também o fato de Elizabeth ter assumido a coroa aos 25 anos de idade, tendo seu tio renunciado ao trono e seu pai morrido após ocupá-lo por alguns anos.

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Além de assumir um peso que não estava esperando, pelo menos, não até receber a notícia da renúncia do tio, a Rainha se viu cercada de muitos primeiros-ministros homens, sendo que três pediram para sair, por não aguentarem o tranco, e mais recentemente um tendo sido deposto, após polêmicas envolvendo seu nome.

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Inclusive, nos dois últimos dias antes de sua morte, a Rainha Elizabeth II cumpriu respeitavelmente sua agenda de compromissos oficiais, tendo oficializado a entrada de Ms. Truss como a nova primeira-ministra do Reino Unido, no Castelo de Balmoral, e se pronunciado sobre o atentado que ocorreu em Saskatchewan, província do Canadá, em que dez pessoas foram esfaqueadas até a morte.

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Com seu corpo já mirradinho pela idade, seus cabelos brancos feito algodão e suas mãos roxas, que há muito chamavam a atenção da Imprensa, a Rainha cumpriu seu último simbólico dever: apertar a mão de Mary Truss, nova primeira-ministra, que curiosamente tem Elizabeth como nome do meio, e a terceira mulher a ocupar o cargo.

Talvez o sentimento de luto coletivo seja exatamente por isso: Bethinha, apelido carinhoso que ganhou dos brasileiros, não foi simplesmente – e já grandiosamente – parte da História; ela foi a História!

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Elizabeth II dançando com Kwame Nkrumah, no dia 20 de novembro de 1961. Ela, uma monarca branca; ele, um presidente negro.
Elizabeth II dançando com Kwame Nkrumah, no dia 20 de novembro de 1961 Central Press/Getty Images

Há tanto tempo no poder, ela quebrou protocolos reais, como escolher manter seu nome de batismo, mesmo após a coroação, algo desaconselhado pela Coroa; afrontou a elite racista ao dançar, em 1961, com Kwame Nkrumah, o então presidente de Gana, durante compromisso oficial; mandou tocar os sinos da Abadia de Westminster, que só soam quando alguém da família real morre, em solidariedade a outra mulher, Jackie Kennedy, após o assassinato do presidente dos EUA, John F. Kennedy; e participou não só de especiais, como o que teve em 2016 sobre Harry Potter, como serviu de inspiração para músicos como The Smiths, The Beatles, Elton John e Ed Sheeran, que fizeram referência à monarca em composições.

E há sete décadas no poder, é difícil imaginar que um dia a Rainha já tenha sido jovem, como a série The Crown, da Netflix, mostra, e tenha vindo para o Brasil, participado de um evento no Museu do Ipiranga e trocado mimos com o Pelé. Para muita gente, ela sempre foi aquela simpática senhorinha reptiliana que ainda viveria muitos e muitos anos – ou, quem sabe, pelo menos até os cem.

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Em qualquer cenário seria triste pensar que a frase “God save the Queen” não seria mais pronunciada pelas três próximas gerações, uma vez que homens voltariam a monopolizar o trono, mas tudo fica ainda mais sofrido por se tratar de Elizabeth Alexandra Mary.

Aos 96 anos, esperamos que a passagem tenha sido realmente tranquila, rodeada de familiares e de seus adorados corgis, e que ela tenha sido recebida no outro plano ao som de Dancing Queen, do Abba, sua música favorita.

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“London Bridge is down”, mas para nós, dada sua relevância, competência, seu carisma e humor ácido, a Rainha Elizabeth II sempre será nossa eterna “dancing queen, young and sweet, only seventeen”.

God welcome the Queen!

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