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5 mentiras nas quais os padrões de beleza te fizeram ou te fazem acreditar

Qualquer padrão existe para te fazer acreditar que você vai ser bem mais feliz seguindo ele, mas isso, pra começo de conversa, já é a maior mentira de todas

Por Isabella Otto 7 set 2020, 10h03

Falar de Setembro Amarelo e combate à depressão e ao suicídio é falar sobre padrões de beleza que, há décadas, fazem vítimas na sociedade. Apesar de homens serem afetados por eles, é sobre as mulheres que a cobrança recai de maneira mais feroz. Por vivermos em uma sociedade patriarcal em que os padrões foram ditados pelo sexo masculino, muitas vezes e em muitos lugares a figura feminina ainda é vista como aquela que precisa viver em função de agradar os homens e atingir certos padrões de beleza e comportamento para serem aceitas num mundo em que a aparência ainda conta muito. E, nessa busca tantas vezes desenfreada por uma perfeição inatingível, a competição feminina é reforçada, assim como algumas mentiras nas quais você pode ter acreditado por um tempão. Não mais!

1. O corpo perfeito existe
Se durante o Renascimento as mulheres com curvas eram exaltadas por pintores, bastou o século XVIII dar as caras para que um novo padrão fosse imposto: o das cinturas finas desenhadas por espartilhos. Nos anos 50, quem ditava o corpo ideal era Marilyn Monroe, e as curvas voltaram a ser sinônimo de beleza. Alguns anos mais trade, nos 80 e 90, a moda já era ter “perfil de modelo”: mulheres altas e magras – mas o padrão europeu continuava ditando o que era bonito e feio. Nos anos 2000, apesar de as revistas continuarem reforçando o biotipo branco, alto e magro, programas de TV ditaram uma nova estética: o corpo sarado de academia, com peitão, bundão, coxão, bem vibe Panicat. Mulheres gordas nunca se sentiram representadas, nem mesmo na Idade Média. Afinal, ter um corpo curvilíneo era considerado diferente de ter um corpo gordo. Qualquer outro padrão que fugisse do europeu também era descartado: mulheres negras, amarelas, de cabelos afro, de nariz grande… Um corpo “perfeito” sempre é colocado para que então seja alcançado. Hoje, com as redes sociais, pessoas já recorrem a procedimentos estéticos para ficarem parecidas com filtros do Instagram. É a prova máxima de que o tal corpo perfeito é uma mentira. Filtros são responsáveis por retratar uma realidade que nem mesmo existe. É irreal. O corpo perfeito realmente existe, mas não nessas definições. O corpo perfeito é um corpo livre e saudável, casa de uma pessoa com autoestima e saúde mental em dia.

Em 2006, a cantora P!nk criticou fortemente os padrões de beleza e quem os segue no clipe da música “Stupid Girls” YouTube/P!nk/Reprodução

2. Só é bonito aquilo que se vê na revista, na televisão ou nas redes sociais
Beleza é algo relativo. O que é bonito para mim pode ser feio para você, mas é difícil acreditar nisso quando você vê estampado por aí os mesmos tipos de rostos e corpos. Ou então, trazendo a conversa para um contexto mais atual, quando você entra no Instagram ou TikTok e percebe que uma infinidade assustadora de “famosos da internet” têm o mesmo biotipo, parecendo versões de uma mesma pessoa. E aqueles que não se encaixam nesse padrão? Movimentos como o do Body Positivity e do Corpo Livre chegaram para questionar esse “monopólio da beleza”, e mais representatividade está sendo vista. Contudo, o “topo” ainda é dominado por padrões estéticos que variam do europeu, alto e magro ou europeu, sarado e com bocão. É preciso continuar questionando isso e parar de uma vez por todas de acreditar que só são bonitos aqueles que você protagonizando séries, estampando capas de revistas e ganhando milhões de curtidas no feed.

3.  Todo mundo pode alcançar o corpo ideal, é preciso apenas se esforçar
Ah, a meritocracia dentro dos padrões de beleza… Quantas vezes você já não ouviu que fulana só é gorda porque quer ou então porque não consegue fechar a boca? Ou que ciclana deveria alisar o cabelo, pois ficaria muito mais bonita? Existe uma falsa ideia de que toda mulher consegue conquistar uma versão de si mais aceita pela sociedade, basta querer. Mas e se ela não tiver um biotipo que torne isso possível? E se ela ser do jeito que é hoje é uma espécie de luta contra todo um sistema? Uma forma de libertação? E se, o que é mais importante, ela não quiser? Essa ideia de que “basta se esforçar” pode causar uma frustração muito grande, que poe acabar desencadeando quadros de depressão e distúrbios alimentários seríssimos. Mas vale tudo na busca pelo “corpo perfeito”, né? Vale nada. Primeiro que ele nem existe do jeito que nos foi ensinado.

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4. A aparência é só um detalhe
Mentira, não é. Mas os mesmos padrões que tentam te convencer disso são aqueles que não contratam uma mulher negra capacitada para a vaga de emprego por causa do black power ou dispensam aquela mulher gorda incrível porque, bem, ela é gorda. E daí os próprios padrões estéticos, que causam uma frustração danada em tantos, usam essa desculpinha de que não foi pela aparência, foi por outro motivo, para encobrir o fato de que vivemos em uma sociedade machista, racista e gordofóbica. “Padrões são uma mentira, uma ilusão bem planejada que faz boa parte da sociedade crer, religiosamente, em tudo o que lhe é imposto, menos em si mesma, seguindo perdida em busca de alguma satisfação pouco duradoura que lhes conduza”, mandou a real a rapper Issa Paz, integrante do duo Rap Plus Size, ao portal Hysteria.

5. Você vai ser mais feliz quando “entrar na moda”
Em entrevista à jornalista Giovanna Mazzeo, do site Vix, a influenciadora Ju Romano contou como se tornou uma pessoa bem mais feliz quando conseguiu aceitar seu corpo gordo e parou de lutar contra ele: “Me sentia muito mal [antes da autoaceitação], fazia 550 mil regimes, tive um monte de distúrbios alimentares. Achava que, para me encaixar na moda, eu tinha que ser magra, alta e eu nunca vou ser magra e alta, não faz parte do meu biotipo, então eu sofri muito”. Qualquer padrão te faz acreditar que você vai ter uma vida muito melhor e fazer muito mais sucesso se se encaixar nele. Esse é o papel deles, é só assim que eles existem. Afinal, se a sociedade não os alimentasse, eles perderiam força. A felicidade depende de você, não de terceiros e padrões estéticos e comportamentais. É claro que eles não são proibidos. Muitas mulheres procuram serviços de personal trainer e procedimentos estéticos, e sentem-se mais contentes depois. Mas essa “busca pela felicidade” deve vir de você, não da imposição alheia, e não pode se tornar uma ilusão. Você vai ser muito mais feliz quando se sentir que, enfim, é uma mulher livre.

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