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Surto de coronavírus e BBB escancaram racismo contra amarelos

Ambos os casos acabam reforçando o estereótipo de que asiático é tudo igual, basta ter olho puxado.

Por Colaboração de Ellen Sayuri Atualizado em 27 fev 2020, 11h57 - Publicado em 10 fev 2020, 13h30

Em mais de uma ocasião, Pyong Lee foi chamado de “japorongo”,”japa” e até mesmo “japonês que rebola o rabo” no Big Brother Brasil 20, termos extremamente pejorativos, que se tornam ainda mais carregados de problemática quando sabemos que o mágico, na verdade, é brasileiro com ascendência coreana. Esses comentários normalmente são disfarçados de “piadinha” e vistos como “normal” por muitas pessoas. Mas, não, asiático não é tudo igual.

Reprodução/Reprodução

O preconceito contra amarelos não é um tema muito discutido, fazendo com que muitos desconheçam o assunto e achem que ele não existe. Ele é bastante discutido no âmbito acadêmico, mas não é muito divulgado pela mídia. Apesar de ser um assunto que está sendo falado agora, não significa também que surgiu recentemente. Ele sempre esteve lá.

O caso do Pyong não é isolado. Muitos descendentes de amarelos também ouvem esses comentários. É importante lembrar que asiáticos não se resumem a japoneses, chineses e coreanos. Na Ásia Ocidental, região do Oriente Médio, a maioria é asiática marrom. Na Ásia Central, no Sudeste Asiático e no Leste Asiático, temos os asiáticos amarelos. No Sul da Ásia, encontramos as duas etnias.

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Existem pessoas que não se importam de serem chamadas de “japa”, mas outras sim. Sempre pergunte se ela se sente confortável, ou simplesmente a chame pelo nome, afinal ele não existe só de enfeite, certo? Termos que foram usados para se referir ao participante do BBB20 generalizam a pessoa, ignoram sua identidade, sua individualidadem, e negam sua origem, porque basta ter olho puxado para ganhar esse apelido. Independente da ascendência, todo amarelo acaba sendo “japa”, “japinha” ou “japoronga”.

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Faz parte da realidade de muitos amarelos ouvir comentários desconfortáveis como: “abre o olho”, “você tem pênis pequeno?”, “sua vagina é na horizontal?”, dentre outros. Um caso recente é a maneira que a doença coronavírus têm sido associado a chineses. Isso acaba reforçando o estereótipo de que todos os são iguais, só por terem olhos puxados.

Além disso, muitos possuem o sentimento de não pertencimento, pois não são vistos como brasileiros, mesmo nascendo no Brasil. São vistos como estrangeiros e, muitas vezes, como se não fossem bem-vindos aqui. A expressão “volta pra sua terra” exemplifica muito bem essa situação, além de mostrar que muitas pessoas possuem uma visão xenófoba de mundo e sociedade.

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Muitos amarelos, por ouvirem coisas desse tipo ao longo da vida, acabam normalizando e aceitando. O racismo sofrido pelos asiáticos, tanto marrons quanto amarelos, é diferente do sofrido por negros e indígenas. Cada um possui seu próprio contexto histórico e culmina em diferentes tipos de agressão. Não dá pra comparar, não dá pra relevar.

Apesar do Pyong Lee ter sofrido esses preconceitos dentro da casa, isso não diminui as responsabilidades de suas atitudes. Durante a madrugada do domingo, 09, na Festa Guerra e Paz, ele foi acusado de assediar duas participantes do BBB20: a Marcela e a Flayslane.

REPRESENTAÇÃO NA MÍDIA
Observando os participantes do reality, não apenas a edição atual, mas de todas as outras anteriores, é possível contar nos dedos quem possui alguma ascendência amarela. A falta de representatividade não é apenas do programa, acontece muito mais do que se imagina. Existem poucos filmes e séries com personagens amarelos, quando se fala em protagonista então, o número é menor ainda.

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O whitewashing, termo usado quando atores brancos interpretam personagens de outras etnias, ocorre com personagens amarelos em várias produções cinematográficas. Em setembro de 2019, por exemplo, houve o anúncio do elenco da série live action Clube das Winx, na qual foi escalado uma atriz branca, Elisha Applebaum, para viver a Musa, que é retratada como amarela na animação.

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Um outro caso que também causou bastante repercussão na época foi a escalação de Scarlett Johansson para a protagonista da live action do anime Ghost In The Shell. Muitos se indignaram e reclamaram, porém nada mudou. Tilda Swinton também foi criticada por interpretar Ancião, uma personagem retratada sendo do Tibete nos quadrinhos, no filme do Doutor Estranho.

Todas os tipos de representações, não apenas de amarelos, são importantes para o público.. Não basta colocar apenas personagens e atores só para dizer que existe representatividade, criando uma espécie de cotas nas produções. É preciso tomar cuidado para não reproduzir estereótipo, procurando maneiras para que o telespectador se sinta de fato representado.

 

OUTRO PROBLEMA CHAMADO CORONAVÍRUS
Atualmente, muito se está falando sobre o coronavírus, que teve o primeiro caso registrado na China. Com a epidemia da doença ao redor do mundo, casos de xenofobia contra os chineses foram observados em vários países. Na França, por exemplo, a hashtag #JeNeSuisPasUnVirus (#EuNãoSouUmVírus) ficou em evidência no Twitter, devido aos inúmeros casos de discriminação.

No Brasil, apesar de não existir nenhum caso confirmado ainda da doença, há casos de pessoas que estão sendo discriminadas. Na cidade de Rio de Janeiro, uma mulher foi chamada de “chinesa porca” no metrô. Já em São Paulo, um edifício comercial colocou um comunicado de que funcionários chineses deveriam usar apenas o elevador privativo, depois da grande repercussão que teve na mídia, voltou atrás.

Muitas pessoas estão com medo da doença, já que o número de casos confirmados e mortes está subindo a cada dia que se passa. Porém, nada justifica usar o medo ou o vírus como pretexto para fazer comentários racistas e xenófobos. Em uma época sendo marcada por fake news, procurar se informar é a melhor maneira de evitar esses tipos de atitudes.

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