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Aluna sobre coletivo feminista: ‘quero dar a ajuda que não tive’

No colégio E. E. Augusto de Oliveira Jordão, alunas e professoras criaram um grupo feminista para ensinar sobre empoderamento feminino.

Por Amanda Oliveira Atualizado em 18 jun 2018, 15h38 - Publicado em 9 mar 2018, 15h15

Desconstruir o machismo tão enraizado na sociedade é um processo demorado. Muitas vezes, a tarefa de ensinar sobre empoderamento feminino para meninas mais novas acaba se tornando um grande desafio para pessoas mais velhas e, por isso, talvez o resultado seja mais efetivo quando as palestrantes também são adolescentes.

No colégio E. E. Augusto de Oliveira Jordão, em Diadema, um coletivo feminino formado por 8 alunas, entre 14 a 16 anos, debate temas importantes e incentiva outras meninas a entenderem mais sobre o feminismo.

Da esquerda para a direita: Natielle de Jesus, Elizangela Beatriz, Kauane Andrielly, Ariane Rocha, Manoela Ramos e Rebeca Kathellyn. Amanda Oliveira/Reprodução

A ideia de criar o grupo surgiu em uma conversa entre a dirigente e a diretora da escola, com uma lista de alunas que poderiam ajudar outras meninas de alguma forma. A proposta das estudantes é fazer reuniões uma ou duas vezes por mês com garotas de todas as séries, nos períodos da manhã e da tarde. Como o grupo foi criado recentemente, as ideias ainda estão sendo elaboradas e a participação dos alunos também é bem-vinda, através de uma caixinha de sugestões disponibilizada pelas meninas.

A primeira reunião foi sobre autoestima, um tema que as integrantes do coletivo se identificam e consideram importante. “Eu sofri muito com isso. Imagina você ter um padrão de beleza imposto e ser totalmente diferente dele? Estou começando a lidar com isso agora”, conta Natielle de Jesus, de 15 anos. “Na escola, as pessoas falam muito que isso mudou, mas a gente percebe que há um outro padrão sendo imposto. Elas se sentem menores por causa disso e não são. É isso que eu quero mostrar para elas. Eu quero dar a ajuda que não tive“, diz. As próximas discussões serão sobre bullying, gravidez na adolescência e respeito.

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Algumas meninas do grupo tiveram o primeiro contato com o feminismo dentro de casa. Para Kauane Andrielly, de 14 anos, aconteceu quando tinha 10 anos e escutou um familiar dizendo que ela tinha que fazer uma determinada atividade porque “ela era mulher e mulheres serviam para isso“. Embora fosse muito nova, Kauane soube na hora que aquilo não estava certo. A líder do coletivo, Manoela Ramos, de 15 anos, passou por uma situação parecida ao perceber que a ajuda nas tarefas domésticas só era atribuída a ela, não ao irmão. “Eu ficava pensando: ‘por que ele não pode fazer também? Por que só eu tenho que fazer?’. Aí eu sentei e conversei com meus pais para explicar tudo e eles entenderam”, conta.

O primeiro encontro do grupo aconteceu no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Amanda Oliveira/Reprodução

O maior obstáculo que o grupo enfrenta é lidar com as opiniões das meninas durante as reuniões. “Imagina lidar com pessoas que ainda não têm a mente formada? Muitas seguem coisas que escutam dos próprios pais e a gente chega para falar que isso é errado. É bem difícil”, explica Natielle. De acordo com as integrantes do coletivo, a maioria das meninas que participam dos encontros não tem uma boa reação com a discussão dos temas, principalmente porque aprenderam outras coisas desde cedo e, às vezes, porque a religião praticada não concorda. Mas, de forma pacífica, as alunas aceitam as opiniões das colegas e fazem o possível para mudá-las da maneira que conseguirem.

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Embora ainda esteja começando, o grupo feminino do Jordão planeja seguir com o projeto e, possivelmente, abordar os temas em palestras maiores. Outra meta do coletivo é conseguir instrução de uma especialista no assunto para guiá-las melhor nas discussões, já que fazer com que as alunas da escola prestem atenção em adolescentes como elas também é um grande desafio. Mas, enquanto não encontram alguém com formação para ajudá-las a falar dos temas com mais credibilidade, elas seguem fazendo as próprias pesquisas e contando com a ajuda de professoras para mover o projeto.

A decoração do evento do Dia da Mulher foi inspirada na Mulher Maravilha. Amanda Oliveira/Reprodução

A iniciativa das alunas, professoras e diretoria do Augusto de Oliveira Jordão deve ser parabenizada e servir de exemplo para outras escolas. Se cada vez mais meninas levantarem para lutar por igualdade e respeito, talvez fiquemos um pouco mais perto de alcançar todos os nossos direitos!

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