Pesquisas eleitorais não ‘preveem o futuro’ e têm base na ciência
Elas vão muito além de só perguntar a intenção de voto para seus tios, pais, amigos ou irmãos em um ano eleitoral.
Todo ano de eleição é a mesma conversa: quando vai chegando a hora de irmos às urnas, começam a pipocar as famosas pesquisas eleitorais, que sempre mostram qual candidato está à frente na preferência dos cidadãos. Essas pesquisas são bem importantes, mas também podem ser polêmicas e gerar algumas dúvidas. Vamos entender o porquê?
Vamos lá. Pensa com a gente: o Brasil é um país gigantesco, com mais de 200 milhões de habitantes e, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quase 148 milhões de pessoas aptas a votar (é muita gente, concorda?). E, sim, é praticamente impossível saber o que todo mundo pensa sobre as eleições e quais candidatos cada um vai escolher. É aí que entram as pesquisas. Elas funcionam como um recorte da opinião dos brasileiros sobre determinado assunto.
“O propósito de uma pesquisa eleitoral é fornecer à sociedade, aos eleitores, à imprensa, aos atores políticos, informações, daquele momento, que lhes permitam entender o que ocorre e tomar decisões – por exemplo, a decisão do voto”, explica Cláudio Couto, cientista político e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas). “Eleições dependem de informações, e pesquisas eleitorais são informações importantes para tomar decisões eleitorais.”
Para Patricia Pavanelli, diretora de inteligência e insights do Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), esses documentos também revelam objetivos, atitudes e desejos dos cidadãos em relação aos candidatos, governos e partidos políticos, e dão elementos que contribuem para uma melhor relação entre representantes governamentais e representados.
Mas, então, como é que esses dados são coletados?
Ao contrário do que dizem por aí, essas pesquisas são feitas seguindo métodos comprovados cientificamente, mas, considerando o tamanho do país, é mesmo difícil você conhecer alguém que respondeu a essas pesquisas – porque elas são pensadas considerando um público muito maior e mais diverso do que o seu entorno.
Ou seja, pesquisa eleitoral não é o mesmo que perguntar para os parentes ou amigos próximos em quem eles vão voltar na próxima eleição, mas considerar todo o cenário demográfico brasileiro e escolher um recorte de pessoas que representem o país para, de fato, responder essas perguntas.
O propósito de uma pesquisa eleitoral é fornecer à sociedade informações que lhes permitam tomar decisões – por exemplo, a decisão do voto.
Claudio Couto
Cada pesquisa costuma conversar com cerca de 2.500 pessoas, a chamada “amostragem”, e quanto mais gente for entrevistada, menor a taxa de erro e mais preciso é o resultado. Isso significa que teremos mais certeza sobre quem está à frente da corrida eleitoral, por exemplo.
Mas não só de dados vive uma pesquisa eleitoral. Elas são publicadas por um motivo: tanto para informar o público do status das eleições, quanto também estimular estratégias e mudanças de campanha por parte dos partidos – afinal, se um candidato está atrás nessa disputa, algo precisa ser feito para tentar virar o jogo, certo?
Elas também podem influenciar e interferir diretamente na opinião das pessoas sobre as eleições. “Pesquisas ajudam as pessoas a não decidirem no escuro. E elas podem mudar o que seria a sua decisão de voto se decidissem sem informações de como está a disputa eleitoral”, continua Couto. “É muito importante que as pesquisas sejam mantidas, feitas e que sejam divulgadas o tempo todo, sem qualquer tipo de limitação a respeito do tempo.”
“A pesquisa eleitoral é uma informação a mais no conjunto de tantas outras que o eleitor recebe durante uma campanha eleitoral”, complementa Pavanelli. “É direito do eleitor querer usar as informações de uma pesquisa de intenção de voto para decidir se faz um voto útil ou não, se escolhe entre aqueles que têm mais chances, se vota branco ou nulo, se vota em quem está na frente.”
Por que as pesquisas eleitorais são importantes?
Você já deve ter percebido que essas pesquisas são feitas com certa periodicidade até o dia da eleição. “A pesquisa é um instrumento democrático. Ela dá chances para que a população expresse o que pensa e a divulgação permite que o eleitor tenha acesso à informação. Conhecer para decidir”, explica Pavanelli.
Essa é uma das suas principais vantagens. Afinal, com mais informações, o eleitor consegue decidir melhor em quem votar. Isso, no entanto, não significa que a gente pode creditar a opção de voto de alguém a uma pesquisa eleitoral – para a especialista, isso seria subestimar a capacidade do eleitor.
“A pesquisa é uma radiografia do momento em que foi feita”, reflete a especialista. “Ela dá oportunidades de entendermos o país, os vários perfis de brasileiros, incluindo o que os próprios jovens pensam.”
As pesquisas podem também envolver mais o jovem em assuntos relacionados à política, impulsionando o debate e a mobilização a respeito de causas e temas que são importantes para a juventude
Patrícia Pavanelli
O que estamos querendo dizer é: todo eleitor recebe uma série de estímulos (como campanhas eleitorais, debates, sabatinas, até mesmo posts nas redes sociais), antes de decidir em qual candidato vai votar. As pesquisas são apenas mais um estímulo, que podem ajudá-lo a mudar o voto ou manter a sua escolha inicial – assim como todos esses outros elementos.
Outro ponto importante a ser reforçado, segundo os especialistas, é que a pesquisa eleitoral é feita a partir de um recorte da população. É preciso considerar quem foram as pessoas entrevistadas nessa pesquisa: qual a sua faixa etária, em que estado do moram, quando essa pesquisa foi feita, qual é a raça e gênero dos entrevistados, por exemplo. Estes elementos definem a amostragem e indicam se aquele público representa os seus interesses ou não e em qual momento da disputa ela foi medida.
É por isso que cada pesquisa é diferente e cada uma apresenta um resultado diferente. Nem sempre o mesmo público é entrevistado e é preciso considerar ainda que, em uma corrida eleitoral, o cenário muda muito rápido. O resultado de hoje com certeza não será o mesmo de amanhã.
Elas podem ajudar você a votar consciente, sim
Você lembra quando a gente falou sobre uso consciente das redes sociais em ano de eleição? Então, entra aqui o seu discernimento de valor: nada de ler a manchete de uma pesquisa eleitoral e aceitar aquela chamada como a verdade absoluta. Entender porque aquela pesquisa deu aquele resultado é mais um passo na construção de um voto consciente.
Por isso, a pesquisa funciona como mais uma ferramenta no desenvolvimento da nossa consciência política. A partir dela, podemos perceber um desejo de compreender melhor um candidato ou outro, valorizar o nosso voto e, até mesmo, sentirmos ainda mais vontade de participar da eleição.
“As pesquisas podem também envolver mais o jovem em assuntos relacionados à política, impulsionando o debate e a mobilização a respeito de causas e temas que são importantes para a juventude (e não só ela). Quem sabe até despertar o interesse em se tornar um candidato no futuro”, finaliza a diretora de inteligência.