O que acontece quando garotas constroem um governo do zero
Novo documentário da Apple TV+, 'Girls State', mostra a política a partir da perspectiva de jovens que querem ter voz e direitos garantidos
magina um governo formado só por jovens mulheres? E uma suprema corte totalmente feminina? Já pensou se as garotas estivessem à frente de discussões que as afetam diretamente? Esse cenário que parece irreal demais, diante da disparidade de gênero na política, vira realidade no documentário americano ‘Girls State’.
O novo longa da Apple TV+, dirigido por Jesse Moss e Amanda McBaine, acompanha 500 meninas de todo o estado do Missouri durante um programa de uma semana para adolescentes aprenderem sobre democracia. No começo do acampamento, as jovens são divididas em dois partidos políticos: Federalistas e Nacionalistas. A partir daí, elas precisam criar uma plataforma de propostas, eleger as lideranças, buscar aliados, pensar em estratégias, fazer discursos e disputar votos. Ao final, uma das jovens se elege como governadora e um grupo de meninas são escolhidas para formar a suprema corte.
Nós conversamos com os diretores da produção e te contamos a seguir o que esperar dessa história protagonizada por jovens como vocês, leitoras da CAPRICHO.
Esse programa, realizado pela The American Legion e The American Legion Auxiliary, acontece desde 1930 nos Estados Unidos. Todos os 50 estados têm programas separados para meninas e meninos. Em 2020, os produtores e diretores Jesse e Amanda lançaram o documentário ‘Boys State’, que mostrou garotos de Austin, no Texas, construindo um governo representativo do zero. O filme, gravado em 2018, venceu o Grande Prêmio do Júri da Competição na categoria de melhor documentário dos Estados Unidos.
Em entrevista à CAPRICHO, Jesse Moss conta que a intenção não era fazer uma sequência do primeiro documentário, mas contar uma história capaz de se sustentar sozinha, mostrando um outro ponto de vista e contexto.“Como pais de duas adolescentes, que estão amadurecendo politicamente nos Estados Unidos de agora, nós achamos importante ter essa conversa sobre garotas, suas políticas e identidades”, diz. Uma das filhas dos diretores, de 16 anos, inclusive, trabalhou no documentário como assistente de produção.
Os pais também consultaram a outra filha de 14 anos sobre o que ela achou do filme. “Eu perguntei se ela tinha algum comentário e ela falou: ‘Cadê a Taylor Swift? Você disse que as meninas sempre cantavam as músicas dela’”, conta o diretor que acatou a sugestão da filha. “Eu tenho mais de 14 anos, mas quando assisto o filme as vejo nele e acho que tem garotas muito diferentes no filme e cada jovem pode encontrar aquela que fala com ela”, acrescenta.
Meninas no poder
O documentário acompanha, especialmente, a trajetória de oito jovens dentro do programa. Emily, uma das grandes protagonistas, é apaixonada por política e jornalismo político e quer concorrer à presidência em 2040, com a campanha “America is Worthmore” (em tradução, a América vale mais). Filha de pastor, a jovem deixa claro que os preceitos religiosos têm uma papel fundamental nas suas decisões políticas e se posiciona de uma forma mais conservadora como candidata ao governo.
Já Cecilia é progressista e foi voluntária das campanhas políticas democratas no Missouri e tem a juíza Ruth Bader Ginsburg como sua heroína. Brook também tem opiniões socialmente liberais, apesar de ter nascido em uma pequena cidade de comunidade conservadora. Faith é centrista de família conservadora também. No início da vida, ela se identificou como “visceralmente conservadora”, mas suas posições mudaram para a esquerda. Maddie é uma ativista liberal dos direitos da comunidade LGBTQ+, que participou de protestos desde criança.
Ainda acompanhamos Tochi, filha de pais imigrantes nigerianos e fã de Angela Davis, que não tem medo de expor suas opiniões políticas e debater sobre raça; a jovem estudiosa, Nicha, que coloca a reforma da justiça criminal no centro do debate político; e Anna, que é presidente de uma organização estudantil e atua em eventos para outros jovens discutirem política.
A partir desses diferentes contextos e posições políticas, cada garota vai traçando sua trajetória no programa. Jesse destaca que “mesmo que o espectador não compartilhe das mesmas visões políticas de personagens, como a Emily, ainda assim é interessante acompanhar a jornada dela” e perceber seu desenvolvimento. “A beleza da narrativa de não ficção é que você conhece uma pessoa em um momento de transformação na vida dela e espera para ver o que vai acontecer”, diz o diretor.
Ao longo do documentário, as garotas precisam aprender a conversar com quem pensa diferente e acomodar divergências para um bem maior. Por meio de rivalidades políticas saudáveis e amizades criadas nos bastidores, elas mostram boas nuances do jogo político. Ao lidar com derrotas que fazem parte do jogo também, as jovens exemplificam que a política e defesa da democracia podem ser feitas de diversas formas – que vão além de assumir o cargo de maior relevância.
Como já falamos aqui na CH, dá para fazer política até em casa, na escola, no bairro ou em qualquer lugar. “É uma mensagem muito poderosa de resiliência e para as meninas adolescentes e brasileiras”, afirma Jesse, convidando a nossa galera para assistir seu novo documentário em breve.
‘Girls State’ estreia em 5 de abril no Apple TV+.