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No Brasil, estereótipo de gênero distancia meninas de exatas e tecnologia

Levantamento pela plataforma 'Força Meninas' mostrou que meninas veem matemática como a disciplina mais difícil

Por NAIARA ALBUQUERQUE Atualizado em 16 fev 2023, 15h30 - Publicado em 16 fev 2023, 14h24
Engenheira trabalhando na estrutura de um avião
No Brasil, apenas 13% das vagas em computação e tecnologia são ocupadas por mulheres. No mundo, são 28% Hinterhaus Productions/Getty Images

Ainda existe um forte estereótipo de gênero quando o assunto é inserção de meninas brasileiras em STEM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática), segundo o levantamento  ”Meninas brasileiras e a inserção em STEM: um abismo no presente e horizonte para o futuro” divulgado nesta semana pela plataforma ‘Força Meninas’. 

No Brasil, apenas 13% das vagas em computação e tecnologia são ocupadas por mulheres. No mundo, 28% ocupam esses espaços. Quando olhamos para a ocupação feminina de vagas em engenharia e produção industrial o percentual é menos díspar: 21,6% no Brasil, e, 27% ao redor do mundo (mesmo assim, bem distante do ideal, né?).

É sabido que as áreas de Tecnologia, Matemática e Engenharia como um todo serão as principais no futuro (bem mais próximo do que a gente imagina, viu?). Até 2025, estima-se que serão gerados 797 mil empregos em TI, segundo dados da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom). Por isso, a necessidade de formar mais e mais mulheres que possam ocupar essas vagas.

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Meu pai sempre falava que eu tinha que parar de jogar bola porque era para meninos e eu tinha que ficar dentro de casa, limpar. Não só ele mas alguns amigos meus também falava que eu ia virar homem por causa disso e eu não gostava. Eu já falei pra ele (o pai) falar o que quiser. Eu não vou mais ficar triste porque ele acha isso. Eu não acho. Eu tenho que seguir em frente

Estudante de 11 anos de escola pública em Guarulhos, SP

Ao serem perguntadas sobre as profissões que sonham para o futuro, as meninas que estudam em escola pública destacaram carreiras militares. Segundo o levantamento, essa escolha se deve por serem profissões relacionadas às experiências de violência, necessidade de estabilidade econômica e até proteção de si mesmo e da família. Em primeiro lugar apareceu Médica, seguido por Policial/ Delegada, Veterinária, Advogada e Juíza.

Na escola particular, a escolha tende a ser influenciada por uma decisão familiar, ou, por uma busca de maior status social: Médica aparece em primeiro lugar, seguido por Empresária/ Administradora, Engenharia, Empreendedora e, por último, Profissional da Educação/ Professora.

Pessoa cientista entre bancadas de laboratório
Até 2025, estima-se que serão gerados 797 mil empregos em TI Hinterhaus Productions/Getty Images

Mas afinal, o que as distancia?

Segundo o levantamento, as meninas enfrentam dificuldades ainda crianças, para adentrar esse universo. Não à toa, 44% delas consideram a Matemática a matéria mais difícil, enquanto apenas 28% dos meninos dizem o mesmo. 

Apesar disso, elas consideram Matemática como uma das disciplinas mais importantes de todo o currículo estudantil. Educação financeira, Defesa pessoal/ Primeiros socorros, Português e Ciências aparecem logo na sequência.

A pesquisa identificou que há cinco passos que precisam ser melhor trabalhados para que, cada vez mais, as mulheres consigam ocupar esses espaços:

  • Combater estereótipos e violências de gênero;
  • Promover ambientes educacionais que incentivem o desenvolvimento de novas habilidades;
  • Desenvolver a mentalidade estimulando a curiosidade, a prática e a ampliação de interesses;
  • Criar ações que reconheçam as suas conquistas nessas áreas;
  • Ajudar meninas a enxergar/ utilizar essas áreas como ferramentas para mudarem seus mundos;

Além disso, a necessidade de melhoria na estrutura das escolas e cidades, com maior cobertura de internet, por exemplo, também foi apontada como algo que ainda dificulta o acesso de meninas a áreas mais tecnológicas.

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No estudo, foram conduzidas 230 entrevistas com meninas, entre 10 e 18 anos, de 17 escolas espalhadas em todas as regiões brasileiras – 10 escolas públicas e 7 particulares. Também foi conduzido um questionário quantitativo que angariou 1.232 respostas entre meninas e meninos de 10 e 17 anos entre escolas públicas do Sudeste e Nordeste do país.

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