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Esta jovem de 19 anos é a 1ª amazonense a ser aprovada em química no MIT

Hana Gabriela subiu ao pódio da Olimpíada Internacional de Química e quer ser inspiração para muitas outras meninas

Por Maki de Mingo, especial para a CAPRICHO 27 mar 2023, 06h30

Imagine a seguinte cena: uma jovem e estudante de química enfrenta desafios acadêmicos e financeiros para participar de uma seletiva para a Olimpíada Internacional de Química (IChO). Ela não sabia que essa jornada seria tão longa e difícil, nem que precisaria estudar conteúdos de pós-graduação para chegar lá. Além disso, sua família estava passando por dificuldades financeiras e ela não poderia pagar por cursos ou livros de química. Parece uma missão impossível, né?

Mas Hana Gabriela Albuquerque De Souza é um nome cheio de força. E, não, não é só pelo tamanho dele, em si. É que ela, aos 19 anos, se tornou a primeira mulher amazonense a ocupar um espaço importantíssimo quando o assunto é a educação e tecnologia. Ela é um fenômeno da Química e foi aprovada no consagradíssimo Massachusetts Institute of Technology, o MIT – sim, uma das mais importantes universidades dos Estados Unidos e do mundo.

A trajetória da Hana, que é natural de Manaus (AM), ainda está muito longe de acabar, é claro, mas o que ela mais quer é ser vista como uma inspiração para outras meninas. Talvez você não saiba disso, mas se pegarmos uma área mais abrangente, como a tecnologia, ainda somos muito pouco representadas: o número de mulheres é baixíssimo – eles variam de 13 a 28%, dependendo da área.

hana lima
Acervo pessoal/Reprodução

E sabe o que fez ela se interessar pelo assunto? O conceito de átomo, aquelas partículas minúsculas que se juntam e formam o que os nossos olhos percebem. “O que me intrigava era entender como os cientistas sabiam que esses tais de átomos existiam e como eles conseguiam contar quantos átomos tinham em duas colheres de açúcar, por exemplo”, conta em entrevista à CAPRICHO. “Então, comecei a estudar química no 9º ano (2018) por meio de livros de Ensino Médio”, lembra.

O engajamento dela foi tanto, mas tanto, que ela se inscreveu na IChO, uma competição super prestigiada. Naquela época, o Brasil tinha duas medalhas de ouro, viu? “E ver aquilo, me deu ainda mais vontade de estudar química e um dia representar o Brasil, então, “devorei” a coleção de Ensino Médio durante o primeiro ano.”

Mas o que me intrigava era entender como os cientistas sabiam que esses tais de átomos existiam e como eles conseguiam contar quantos átomos tinham em duas colheres de açúcar, por exemplo

Hanna De Souza

Essas competições são como aquelas de filmes de high school norte-americanos em que alguns alunos estudiosos se dividem em equipe, sabe? “Eu nem sabia como fazia pra fazer parte da equipe, só estudava – no ônibus indo e voltando do colégio, durante os intervalos de aula, quando voltava pra casa, etc. No final de 2019, eu fui 2º lugar na Olimpíada Amazonense de Química e recebi uma proposta de bolsa integral para estudar em Fortaleza”, lembra.

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E participar do evento foi muito intenso. Mas a intensidade não parou por aí. Foi depois disso que ela participou de uma edição da IChO, em 2021 – que seria realizada no Japão, mas com a pandemia foi realizada aqui no Brasil, mesmo – e ganhou uma medalha de bronze. Aham, ficou em terceiro lugar em meio a muita, muita gente de todo o mundo, viu?

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Quem disse que medalhas de competições não são feitas pra estarem no pescoço de uma menina, hein? Acervo Pessoal/Reprodução

Hanna conta que, no centro em que a principal prova foi aplicada, ela e outros três integrantes da equipe ficaram em uma sala com 90 páginas para serem preenchidas em 5 horas: um desafio e tanto.

“Nos últimos 30min, ainda tinham muitos itens em branco e comecei a pensar ‘acabou, é melhor entregar a prova e voltar pra casa'”, conta. “Mas também, comecei a lembrar dos meus professores falando pra continuar a escrever, escrever até esgotar o tempo, escrever mesmo que não fizesse sentido, porque afinal, eram 2,5 anos até chegar na competição internacional.”

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A medalha foi só um símbolo pra todos os momentos que tinha vivido até lá: as incontáveis horas de aula online, mudar de cidade pra me dedicar àquilo, conhecer gente que me inspirou e continua inspirando

Quando o resultado foi anunciado, ela estava na escola na época assistindo à cerimônia de encerramento da competição e, assim que o resultado saiu, além de ficar emocionada, telefonou pra todo mundo que podia para comemorar.

“Mas acho que a emoção maior foi receber a medalha uns 3 meses depois, quando uma encomenda do Japão chegou em meu nome. A medalha foi só um símbolo pra todos os momentos que tinha vivido até lá: as incontáveis horas de aula online, mudar de cidade pra me dedicar àquilo, conhecer gente que me inspirou e continua inspirando.”

Da sensação de ‘não é pra mim’ até a grande conquista

“Até o terceiro ano do Ensino Médio, eu não queria admitir que queria estudar no exterior”. A frase de Hanna pode ser muito comum a várias meninas como ela que, de alguma forma, acreditam não pertencem à estes lugares.

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Tanto que, no Brasil, apenas 13% das vagas áreas de exatas como a escolhida por Hanna são ocupadas por meninas e mulheres. No mundo, só 28% ocupam esses espaços. Ah, e quando olhamos para a ocupação feminina de vagas em engenharia e produção industrial o percentual é menos díspar: 21,6% no Brasil, e, 27% ao redor do mundo (mesmo assim, bem distante do ideal, né?).

hana lima
Imagem do momento em que Hana ganha uma de suas medalhas. Puro orgulho! Acervo pessoal/Reprodução

Antes mesmo de pesquisar sobre o processo, ela conta que só pensava no quão deveria ser difícil aprender inglês e fazer os exames de proficiência na língua – mas houve quem a empurrasse pra frente.

“Eu comecei a considerar essa possibilidade quando vi os meus amigos de olimpíada aplicando e aprendi sobre os programas de mentoria gratuita”, lembra. Foi aí que, no final do Ensino Médio, ela fez uma aplicação para um programa chamado “Prep Estudar Fora”, da Fundação Estudar. Lá, ela foi treinada para fazer os testes padronizados, de inglês, de atividades extracurriculares, de descrição dos prêmios, e a famosa entrevista para passar no concurso.

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E não pensei que ela fez tudo isso sozinha, viu? Ela teve uma mentora, seus amigos, família, escola, professores que serviram como rede de apoio pra ela chegar até lá. “Tanto apoio fez o processo ser melhor, mas não significa que foi fácil. Acho que nunca vai ser fácil, já que é muito difícil saber o que a universidade está buscando em um determinado ciclo. Mas você nunca vai saber, se não tentar”, reflete.

Você sabia?

Existem diversas oportunidades e projetos para meninas, como o projeto Sem Parar, que provê aulas de olimpíada gratuitamente para meninas. Além disso, existem as olimpíadas para meninas, como o Torneio de Meninas na Matemática (TM2) e o Quimininas. Ou seja, existem muitas mulheres e meninas trabalhando para deixar o mundo olímpico mais acessível.

Um momento para ficar na História

Quando surgiu a oportunidade de sair de Manaus (AM) e estudar em Fortaleza (CE), em um estado distante e desconhecido, ela teve medo. Mas o sonho de representar o Brasil na IChO era maior e ela decidiu arriscar. Participar de uma seletiva para uma Olimpíada internacional em meio à pandemia era um desafio ainda maior, mas ela persistiu.

Após anos de esforço e dedicação em uma outra cidade, ela finalmente conseguiu se classificar para a competição. É como se a vida dissesse: “sim, é possível”. Mesmo em meio às adversidades, ela encontrou seu caminho e mostrou que, com perseverança e determinação, desafios podem ser superados.

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“Mais uma vez, eu sinto a sensação do ‘é possível’. E espero que consiga devolver parte do que recebi nessa jornada para o Amazonas: inspiração, conhecimento e desenvolvimento pessoal”, diz. “Essa história me lembra de que mesmo com dificuldades e limitações, “é possível” com perseverança, dedicação e um pouco de sorte. Eu encontrei meu caminho indo pra outro estado, quem sabe, nos próximos anos, não surgirá uma jovem talento na região Norte que representará o Brasil com ainda mais garra e determinação?”

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