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Em 2024, queremos realizar o sonho de ver meninas e mulheres na política

Em 2020, Brasil registrou recorde de candidaturas femininas nas prefeituras e câmaras municipais. Mas apenas 12% foram eleitas.

Por Dandara Medeiros, da Girl Up Brasil* Atualizado em 29 out 2024, 18h00 - Publicado em 30 dez 2023, 16h52
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stou chegando na reta final de 2023 com um sentimento de vazio. Isso porque eu cultivei a esperança de um Brasil muito mais comprometido em combater as desigualdades, com mais mulheres trans no poder e menos na prostituição, com mais mulheres negras criando projetos de lei e não sendo vitima da violência nas periferias. 

O atual governo nos deu esta esperança ao subir a rampa do Palácio do Planalto em janeiro de mãos dadas a representantes de minorias políticas. Ali, tentou transmitir uma mensagem clara: povos indígenas, mulheres negras, pessoas com deficiência e a juventude não seriam esquecidos. Mas não é bem o que temos visto na prática nos últimos meses.

Mulheres em ministérios estratégicos foram alvo das primeiras crises no governo, mais tarde outras foram desligadas de seus cargos em pastas e substituídas por membros do chamado “Centrão” e vimos a corte do STF (Supremo Tribunal Federal) agora com apenas uma mulher. 

Eu acredito que precisamos de mais meninas como eu na política. Mais de nós pensando e construindo políticas públicas, que nos protejam nos espaços públicos e privados, que garantam igualdade salarial e paridade de direitos. 

Não queremos sentar na cadeira da exceção, mas da regra

Em 2024 teremos eleições municipais e as promessas me preocupam muito, assim como a baixa representação da juventude feminina e de mulheres como um todo. 

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Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que comanda das eleições no Brasil, registramos um recorde de candidaturas femininas em 2020, na disputa pelas prefeituras e câmaras municipais. 

Fazer política a princípio pode parecer algo difícil e dar um certo medo, mas esse pensamento só vem justamente por nós não estarmos ocupando, pensando e fazendo ela. 

Mas olha só: isso não garantiu a eleição de mais mulheres. Dados oficiais mostram que apenas para 12,2% das prefeituras foram eleitas mulheres. Na eleição de 2016 esse número foi de 11,57%. Vimos um crescimento, mas que ainda é insuficiente. 

É muito importante que as leis assegurem a participação feminina no processo eleitoral e não só isso, mas que elas também ocupem as cadeiras através de vagas afirmativas – as chamadas cotas. Afinal, não é nada fácil transitar em um ambiente hostil e majoritariamente masculino.

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Minha busca é pelo afeto

Encontrei inúmeros desafios ao buscar uma maior incidência política para impactar a minha comunidade. Só foi possível transitar nestes espaços sendo uma jovem mulher trans e negra, porque outras mulheres estão fazendo política junto comigo. É nelas que encontro força e apoio para seguir em frente. 

Em um país tão diverso como o Brasil, onde as realidades se diferem a cada metro quadrado, mulheres negras, indígenas e transsexuais estão em categorias ainda mais invisibilizadas no cenário político atual. A maneira que encontrei para mudar isso, foi estar mais presente na política, entender como ela funciona e como  se manifesta no meu dia a dia, me mobilizando com outras mulheres,  estando presente em assembleias e participando de coletivos aliados à causa.

Nada sobre nós sem nós 

Quando converso com outras jovens sobre o interesse de seguir uma carreira política a maior preocupação delas é com a sua segurança e de suas famílias, pois mesmo nesses espaços ditos “democráticos” nossos corpos, sexualidade, raça, cultura e religião são diariamente atacados e violentados. 

Ouvi-las me faz recordar da minha primeira grande ação como ativista, onde criei com outras meninas uma campanha que pressionava o poder público por mais segurança para nós mulheres no transporte público chamada “Segurança Delas”. Mas sempre que tentamos pressionar, nunca éramos levadas a sério por sermos “novas demais para fazer política”, e quando fazíamos ações presenciais sempre éramos desaprovadas ou xingadas.

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Queremos poder olhar para política como uma ferramenta de transformação social, que seja um espaço para toda forma de ser mulher, que nossas individualidades, cultura, costumes sejam preservadas e respeitadas e que possamos fazer uma política com afeto antes de tudo. 

Na próxima eleição quero poder ver mulheres sendo protagonistas das suas histórias, fazendo política com afeto, determinação e pluralismo de ideias

O ano de 2022 foi o ano com o maior alistamento eleitoral jovem da história, sendo que quase metade das meninas brasileiras de 16 e 17 anos solicitaram o seu título de eleitor, mostrando uma maior participação e preocupação de meninas com o futuro político do nosso país. 

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