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Mulheres inspiradoras da moda: Zuzu Angel, a primeira estilista do Brasil

Ela ganhou fama internacional usando elementos nacionais e foi a primeira designer de moda brasileira a fazer desfile protesto enfrentando a ditadura militar

Por Nuta Vasconcellos| Fotos: Divulgação e Reprodução Atualizado em 24 ago 2016, 14h35 - Publicado em 22 mar 2016, 18h00

Depois de contar as histórias de Vivienne Westwood, Ashley Graham e Petra Collins, chegou a vez de colocar uma brasileira na lista! A escolhida foi Zuzu Angel, que fez história nas décadas de 1960 e 1970. 

A estilista foi a primeira a ganhar esse título no Brasil – e também foi a primeira brasileira a ter reconhecimento internacional, estampando matérias no famoso jornal americano The New York Times e no francês Le Monde

Mineira, Zuleika de Souza Netto, nascida em 1923, fez história com o nome de Zuzu Angel. Suas criações, com cores tropicais e materiais nacionais, praticamente deram início ao que a gente chama de “identidade da moda brasileira”. Ela inovou ao utilizar pedras brasileiras, bambu, madeira, conchas e chita (aquele tecido de algodão estampado com flores) em roupas.

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Antes dela, os criadores brasileiros praticamente só imitavam o que viam nas passarelas internacionais ou faziam somente peças sob medida. Zuzu levou personalidade e qualidade à roupa feita industrialmente em série e assinada por um estilista da moda, o que chamamos no mercado de prêt-a-porter. 

Nos anos 70, Zuzu já tinha uma loja que fazia grande sucesso em Ipanema, bairro descolado da zona sul do Rio de Janeiro. E, mais uma vez, se mostrou inovadora ao ser a primeira estilista nacional a divulgar sua grife colocando uma etiqueta do lado de fora das roupas, um bordado de anjinho que acabou se tornando a sua marca registrada.

Uma forte característica do seu trabalho era a liberdade. Em 1967, Zuzu desenvolveu a coleção chamada “Fashion and Freedom” (em português, “Moda e Liberdade”) e um dos conceitos dela era libertar a mulher do uso do sutiã.

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Ela viveu o auge da opressão da ditadura militar no país e sofreu muito nesse período. Em 1971, seu filho Stuart, que fazia parte da luta armada contra os militares, desapareceu. Depois disso, Zuzu passou a usar a moda como forma de expressão e protesto. As estampas tropicais deram lugar a pássaros engaiolados, tanques, balas de canhão, pombas da paz e, claro, seus anjos. Na apresentação dessa coleção, a designer surgiu toda vestida de preto, com uma corrente de crucifixos na cintura e um pingente de anjo no pescoço. Nascia assim, o primeiro desfile protesto feito por uma brasileira.

Zuzu morreu em 14 de abril de 1976 em um suposto acidente na saída do Túnel Dois Irmãos, na estrada da Gávea, no Rio de Janeiro. Uma carta descoberta vinte anos depois provou que ela se sentia ameaçada.”Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos mesmos assassinos do meu amado filho.” Apesar da morte prematura, seu legado para a moda será eterno. Em 2003, ela foi tema de desfile do SPFW pelas mãos de outro mineiro, Ronaldo Fraga. Zuzu ganhou uma exposição em São Paulo, em 2014, e um filme, chamado Zuzu Angel, dirigido por Sérgio Resende.

Zuzu sempre será sinônimo de uma mulher determinada, talentosa e que sempre acreditou nos seus sonhos. Certeza que você ficou inspirada! Não ficou?

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