Blog da Galera: por dentro do SPFW e da estreia de Isaac Silva no evento
A Taya Nicaccio, da Galera CH, foi conferir a apresentação do estilista e bateu um papo com ele sobre representatividade na moda e muito mais!
Oi, meninas! Tudo bem com vocês? Aqui é a Taya Nicaccio. No dia (18), fui ao São Paulo Fashion Week N48 e dessa vez foi diferente, pois fui conferir uma grande estreia que rolou no último dia do evento, a do estilista Isaac Silva.
O primeiro desfile do Isaac no SPFW foi incrível, fiquei admirada do começo ao fim. Assim que entrei na sala onde a apresentação ocorreria, me deparei com um clima superagradável e leve, com um cheirinho bem gostoso que tomava conta do ambiente. O aroma vinha das laterais da passarela, onde folhas de arruda e sal grosso estavam localizados. Ao final do evento, podíamos levar alguns ramos para casa como lembrança.
E foi assim que a apresentação de Isaac Silva começou: com um vídeo mostrando sua trajetória de desfiles até a sua estreia no SPFW. Com o tema “Acredite no seu Axé”, o estilista desenvolveu uma coleção incrível, com referências religiosas e peças trabalhadas nos detalhes delicados, que incluíram búzios, pedrarias, transparência e muito brilho. Vale ressaltar que todas as roupas eram brancas, fazendo uma reverência a Oxalá.
Ao final do desfile, Isaac Silva foi aplaudido de pé e ovacionado pela plateia. Todos estavam superanimados, inclusive os modelos que saíram da passarela com muita dança e um sorriso no rosto.
Saiba mais sobre o estilista nesta entrevista que fiz com ele:
Tayane: Me conte um pouco mais sobre a sua trajetória em São Paulo até a sua chegada ao SPFW. Como você encarou o preconceito?
Isaac: Minha trajetória foi feita com muito amor e determinação. Fui criado num ateliê de costura de uma grande amiga da família [Morena] e tenho boas lembranças da infância no seu pequeno ateliê no interior da Bahia, onde nasci. Aos 14 anos, fui morar em Salvador, a capital baiana. Lá fiz meu colegial e uma formação em design e gestão de moda. Fiz todos os cursos que pude fazer: desenho de moda, modelagem, corte e costura. Todos que eu pudesse pagar ou que fossem gratuitos. Logo, me mudei para São Paulo e fui me inserindo no mercado e vendo o quanto aqui ele é elitista e branco. Me fortaleci para mudar este sistema.
Tayane: Venho acompanhando o seu trabalho há um tempo e vejo que você diz com frequência “Acredite no seu axé”. Para você, o que essa frase representa?
Isaac: Representa o que a marca é. O axé vem do Axé Music, dos anos 1980/1990, que vem da palavra Orubà ASÈ, que quer dizer energia, poder, força e determinação. Devemos acreditar em nós sempre!
Tayane: Agora vamos falar um pouco mais sobre o casting dos seus desfiles. Eu não vejo aquele padrão eurocêntrico, pelo contrário, vejo muitos modelos negros, homens, mulheres e diferentes tipos de corpos.
Isaac: Sempre achei cômico nossos desfiles e castings, nunca gostei desta representação. Então, quis fazer da minha maneira real, ser verdadeiro, quero que as pessoas se vejam nos modelos reais e saibam que elas podem, sim, estar em uma passarela.
Tayane: Além disso, acompanhei o seu desfile de perto e a plateia estava repleta de pessoas negras. Como você encara essa mudança no público do evento?
Isaac: Tenho um público de amigos e clientes que, em sua maioria, são pessoas negras. Amei saber que meu povo preto foi me prestigiar. Me senti muito querido.
Tayane: Quais são os seus novos projetos e que dica você daria para quem quer seguir no ramo da moda?
Isaac: Meu plano é receber todo mundo na loja física da marca, que fica na rua Jaguaribe, número 384, em Santa Cecília, São Paulo. Minha dica é estudar, conhecer e pesquisar sobre nosso Brasil.
A moda ainda precisa de grandes transformações, mas são mudanças como as que o Isaac falou – e fez – que farão a diferença. O desfile do estilista irá abrir muitas portas, não só no SPFW, mas em todos os lugares. Temos que ver todos os tipos de corpo sempre. O meu intuito com essa matéria é, de alguma forma, despertar em você a discussão de alguns pontos importantes, como a diversidade no mundo da moda e o racismo que estão inseridos de maneira evidente no nosso dia a dia. As coisas podem estar mudando, mas as pessoas ainda são racistas. Está nas nossas mãos construir um futuro diferente, onde caibam todos nós.
Beijinhos da garota do blog,