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Você podia ter ensinado o Alan a pôr um fim na morte, Severo

'That's mean, Severus.'

Por Isabella Otto Atualizado em 17 ago 2016, 18h21 - Publicado em 14 jan 2016, 19h40

Não sei por onde começar. Já faz uns quinze minutos que estou olhando para o arquivo em branco no bloco de notas. Hoje eu acordei, me arrumei para o trabalho, abri o guarda-chuva e pensei: “nossa, hoje o tempo está tão Londres!”. Durante o caminho até o metrô, fui pensando nisso enquanto escutava minha playlist do Ed Sheeran. Assim que entrei no vagão e me sentei, percebi que havia esquecido meu livro em casa. Resolvi então pegar meu celular e ver se tinha alguma mensagem nova. Foi quando descobri que o Alan Rickman havia morrido.

Minha primeira reação foi negar. A internet sempre inventa umas mortes falsas e não era possível que um dos meus atores favoritos da vida, e da saga Harry Potter, tivesse nos deixado. Assim? Do nada? Não, não, não. Dei um Google e percebi que a morte estava sendo noticiada por vários veículos de comunicação. Câncer. 69 anos. Era real.

O choque foi tão grande que eu comecei a chorar disfarçadamente, para que ninguém notasse. É claro que algumas pessoas que estavam sentadas perto de mim no vagão começaram a me observar com um olhar desconfiado. Mas eu estava tão triste que nem liguei. Talvez, agora, eu saiba por onde começar este texto.

Eu tinha onze anos quando ganhei uma promoção da locadora perto de casa e recebi de prêmio um VHS ( clique aqui e veja o que é esse tal de VHS ) de Harry Potter e A Pedra Filosofal . Fiquei animada (1) porque eu nunca ganho absolumante nada em promoções e (2) porque lembro ter amado o nome do filme. Foi assim que eu descobri o universo de J.K. Rowling. Foi um caminho sem volta. Fui atrás dos livros, comecei a comprar revistas e álbuns de figurinhas ilustrados, a montar a minha coleção potterhead . Como era menor de idade, e não ganhava mesada, me virava como podia: imprimia imagens que achava na internet, pedia coisas de Harry Potter de presente para meus pais, avisava o dono da locadora que gostaria de ficar com os pôsteres de divulgação, caso ele fosse jogá-los fora algum dia.

Se você se identificou com esse breve relato, acredito que tenha sentido tanto a morte de Alan Rickman quanto eu senti. Não importa se você, “after all this time”, continua não sentindo nada além de desprezo por Severo Snape, personagem interpretado pelo ator britânico na série. Não há como negar que Rickman deu ao bruxo um lado humano . Em 2011, o britânico concedeu uma entrevista ao jornal italiano La Repubblica e revelou que sempre soube o destino de Snape. “Quando recebi o papel, liguei para a Sra. Rowling, pois precisava de alguns vestígios, algum plano de fundo para o personagem. Caso contrário, não poderia interpretá-lo de verdade”, contou Alan. Tal preocupação com seus personagens foi o que o transformou em um dos atores mais respeitados da Inglaterra e do mundo.

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A carga dramática que Rickman deu a Snape é inquestionável! Lembro-me de ficar tentando decifrar o professor de poções, em A Pedra Filosofal . De desconfiar que, lá no fundo, ele não era realmente mau, em A Câmara Secreta . De sentir que ele guardava algum ressentimento muito forte, em O Prisioneiro de Azkaban . De ter certeza de que eu, definitivamente, gostava dele, em O Cálice de Fogo . De ter pena dele, por alguma razão que até então eu não sabia, em A Ordem da Fênix . De começar a juntar as peças do quebra-cabeça e a entender parte do mistério, em O Enigma do Príncipe . De chorar de pena, de tristeza, de orgulho, de saudade, de gratidão, em As Relíquias da Morte . Severo Snape despertou em mim, e ainda desperta, um mix de sentimentos. E coisa tão bela não seria possível sem Alan Rickamn . Às vezes, o destino é realmente maravilhoso…

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… Mas, às vezes, ele é cruel. Ele foi cruel com Snape, com Alan e com nós, fãs, na manhã desta quinta-feira, 14. Quando assistimos a uma adaptação nos cinemas e, depois, lemos o livro novamente, é meio que inevitável não se lembrar dos rostinhos dos atores que deram vida aos personagens no filme. Ou, no caso, nos filmes. Principalmente quando a interpretação te convence. Alan Sidney Patrick Rickman foi um excelente ator e convenceu não uma, mas diversas vezes, nos mais diferentes filmes, dando vida aos mais diferentes personagens . E parece que, agora, pensando por esse lado, eu consigo ouvir aquela voz dramática, com aquele sotaque inglês carregado, dizendo que é para eu “virar na página 394” e fazer uma maratona de Harry Potter, porque o legado que ele deixou é para sempre. “Always”, como diria Severo Snape.

Que levantemos a nossas varinhas ! Hoje, agora eu vejo, até o clima está prestando uma homenagem ao britânico…

Nox.

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