Continua após publicidade

Como a Coreia do Sul e o K-pop vêm repensando a visibilidade LGBTQ+

Parada do Orgulho LGBTQ+, idols engajados, músicas e até um coral ativista estão ajudando a causa a crescer no país

Por Gustavo Balducci Atualizado em 29 jun 2019, 10h00 - Publicado em 29 jun 2019, 10h00

No mês do Orgulho LGBTQ+, preparamos um novo especial para falar sobre como a Coreia do Sul e o K-pop vêm repensando a visibilidade e a luta pela causa dentro de sua cultura historicamente conservadora, mas que agora procura meios de se abrir para o debate.

MOSTRE SUA CARA

O Seoul Queer Culture Festival levou orgulho e muito brilho para as mais de 140 mil pessoas que ocuparam as ruas da capital, Seul, entre os dias 21 de maio e 1º de junho. Entre turistas e locais, figuras ainda pouco presentes na sociedade conquistaram seu devido destaque, como as drags queens e os ativistas, que portavam cartazes com mensagens significativas e reflexões importantes. A 20ª edição da Parada LGBTQ+ na Coreia foi catalogada como a maior da história, segundo os organizadores.

View this post on Instagram

Hi! Unicorns! 👋🏼 Thank you! Unicorns! 🦄 서울퀴퍼문화축제! 네온밀크와 함께해주신 모든 여러분들! 진심으로 감사드리고 또 감사드립니다! 💛🦄 @neonmilk #neonmilk #네온밀크

A post shared by Nana Youngrong Kim / 나나영롱킴 (@nana_youngrongkim) on

View this post on Instagram

gentle reminder ❤️🧡💛💚💙💜 Seoul Queer Culture Festival #35mm #prideparade

A post shared by M.athéa (@mistymountainhop) on

Continua após a publicidade

Todos os anos, o K-pop desempenha um papel considerável dentro da parada. O evento deste ano, que aconteceu no dia 1º de junho, contou com músicas animadas do Girls’ Generation, Mamamoo e 2NE1 durante todo o desfile no centro da cidade. O rapper Jerry. K cantou Parade, música dedicada ao evento.

View this post on Instagram

#서울퀴어문화축제 #서울퀴어퍼레이드 불러주셔서 감사합니다!! #공중부양

A post shared by 제리케이 | JERRY.K (@jerrykmusic) on

DENTRO DO K-POP

Em 2018, nós preparamos um super dossiê para entender melhor como a causa LGBTQ+ vem sendo construída no país e, principalmente, como ela está presente dentro do K-pop.

Mostramos que alguns exemplos já começaram a brilhar por lá, como o cantor Holland, de 23 anos. Primeiro idol assumidamente gay, ele se lançou para a indústria questionando os diversos tabus que existem dentro da cena. Neverland, seu primeiro single, fala abertamente sobre sua sexualidade e seu desejo de escapar para um lugar melhor. No mv, o músico vive uma doce história de amor ao lado de outro garoto.

Continua após a publicidade

A estreia, ainda polêmica para o olhar conservador da sociedade coreana, foi parar nos trending topics do Twitter e deu espaço para Holland levantar outras críticas sobre a falta de apoio da indústria e pouquíssimas referências LGBTQ+ no entretenimento, além de ter criado uma base sólida de fãs internacionais que se comoveram com a causa e seguem até hoje apoiando o jovem muso.

A coragem de ser transparente com seus sentimentos e liderar a representatividade no K-pop continua gerando ótimas recompensas. Ainda em 2018, Holland apareceu em primeiro lugar na Dazed 100, uma lista seleta dos personagens mais importantes do ano, segundo a plataforma gringa. Em março de 2019, o cantor também conseguiu lançar seu primeiro mini-álbum, HOLLAND, através de um financiamento coletivo no qual o fandom arrecadou cerca de 108 mil dólares, atingindo 217% de sua meta original na campanha. Agora, Holland se prepara para começar uma turnê internacional e encontrar seus apoiadores fora do seu país de origem.

Além de Holland, outros idols estão tentando abrir espaço em suas músicas e atitudes para dar luz ao tema. Já contamos sobre como as cantoras Amber e CL sempre abordaram a causa LGBTQ+ em suas entrevistas. Sunmi recentemente chamou atenção nas redes sociais e atingiu o #1 nos TTs mundiais após posar com uma bandeira de arco-íris enrolada em seu corpo e declarar que tem “muitos lados diferentes” enquanto se apresentava em Amsterdã, na Holanda. O multitalento Jo Kwon se montou de Beyoncé durante uma performance para a TV coreana e sempre dá ótimos closes em sua conta do Instagram, muitas vezes usando salto alto. A diva BoA foi a primeira representante do k-pop a se apresentar no San Francisco Pride Festival, lá em 2009. E Tiffany Young, ex-integrante do Girls’ Generation, escreveu em 2018 uma carta aberta agradecendo o imenso apoio que sempre recebe de pessoas LGBTQ+ e dizendo que as manifestações nas Paradas do Orgulho só confirmam anualmente como nosso mundo ainda pode melhorar e se tornar um lugar seguro para todos. Cada vez mais novas estrelas do K-pop se sentem confortáveis ​​apoiando abertamente os direitos LGBTQ+ e isso é um baita motivo para qualquer fã do ritmo se orgulhar.

Continua após a publicidade

RM, líder do grupo BTS, também já é conhecido por suas declarações importantes. Uma das mais emblemáticas foi seu discurso emocionante na Assembleia Geral da ONU em 2018. Presente junto a grandes líderes globais, Namjoon foi porta voz do grupo e discursou sobre a importância do protagonismo de cada indivíduo, independente de quem é, de onde veio, da cor de pele ou de sua identidade de gênero.

Muito antes da fama deslanchar, RM já havia feito um outro comentário valioso sobre isso no começo de sua carreira. Numa postagem via Twitter, ele recomendou a faixa Same Love, do duo Macklemore & Ryan Lewis, e acrescentou: “Essa música é sobre o amor entre pessoas do mesmo sexo. É bom quando você escuta sem prestar atenção nas letras, mas melhor ainda se você fizer. Eu recomendo.”

Durante a turnê Love Yourself: Speak Yourself, o integrante V foi outro que fez um gesto fofo ao longo de uma live com Jungkook, quando indicou Me Chame Pelo Seu Nome, um filme de romance gay aclamado pela crítica, para os armys. No vídeo, Taehyung comenta que o longa é o seu favorito e que a trilha sonora é uma verdadeira obra de arte. Pouco tempo depois, o idol soltou nas redes sociais do grupo um vídeo no qual aparece tocando uma das músicas originais do filme no piano.

Continua após a publicidade

Sob o título de grupo mais misterioso e lúdico do K-pop, o LOONA trouxe para o cenário muito mais do que conceitos interessantes e música fresca. O girlgroup chama atenção pelo objetivo de não atender a um público específico, mas criar música que possa ser apreciada por todos. “Queremos ir além de gênero, raça e nacionalidade”, declararam em uma entrevista para a MTV. O último single, Butterfly, é exatamente sobre isso. Ao intercalar cenas de dança contemporânea com momentos de empoderamento entre mulheres de várias etnias, o mv criou um elo de inspiração para que seus fãs ganhassem voz.

MERECEM DESTAQUE

Além dos idols e dos singles do K-pop, outros ativistas emprestam sua voz para o tema. É o caso do G-Voice, um coral formado inteiramente por homens gays que luta pela representatividade na música. O grupo, fundado em 2003, é chamado de “K-Pop dos direitos humanos” por abordar temas da vida gay dentro da sociedade coreana em suas composições. Atualmente, o coral dá apoio para muitos membros, e muitas vezes é o primeiro ou até mesmo único contato para pessoas que não são aceitas na sociedade por causa de sua sexualidade.

Continua após a publicidade

Já o youtuber Cheolsoo retrata sua história de descoberta e seu cotidiano ao lado do namorado, Jangho, no seu canal de vídeos, criado em 2015. O jovem deseja construir um elo solidário para que outros gays também se sintam livres para falar sobre suas inseguranças e sua opção sexual. Com vídeos com perguntas e respostas e entrevistas de rua – nas quais quase sempre Cheolsoo pergunta aos moradores do bairro suas opiniões sobre a comunidade LGBTQ+ –, o canal já conta com milhares de inscritos e vídeos que ultrapassam 1 milhão de visualizações. Ah, se quiser assistir, muitos conteúdos contam com legenda em inglês, espanhol e até português, viu?

A LUTA CONTINUA

Em maio deste ano, Taiwan se tornou o primeiro país da Ásia a legalizar o casamento gay. A festa foi celebrada por centenas de pessoas que se reuniram do lado de fora do Parlamento enquanto esperavam a votação terminar. Embora o governo sul-coreano ainda não reconheça o casamento entre pessoas do mesmo sexo e também não existam leis aprovadas contra discriminação e homofobia, uma recente pesquisa encomendada pela Gallup, uma empresa de opinião, descobriu que pessoas entre os 20 e 30 anos são a favor do casamento homoafetivo na Coreia, enquanto a maioria das pessoas acima dos 40 anos se opõe.

Mesmo que seja difícil crescer em um país onde sexualidade é um tabu ou sem grandes exemplos para encorajar as pessoas a mostrar quem realmente são, a comunidade LGBTQ+ sul-coreana vem ganhando novos aliados e fazendo a causa caminhar para uma nova perspectiva.

Continuamos esperançosos e resistentes.

Publicidade