Nova era, novas regras. Rouff.
Escutar as gêmeas Okereke é sempre uma aula. Cada fala delas carrega uma vivência coletiva, afinal, as artistas não só movimentam o mundo do rap, como transformam os caminhos de muita gente — o da jornalista que escreve este texto, inclusive — seja por meio da moda, da beleza ou de suas músicas.
Entrevistá-las e tentar transmitir a você, leitor e leitora da CAPRICHO, a transformação que elas provocam no mundo é uma baita responsabilidade para mim e, por isso, essa entrevista de capa vai ser um pouco diferente do que você, aí do outro lado, está acostumado.
Enquanto eu te conto quem são as meninas que mudaram a autoestima das jovens da periferia, as “it favelas”, eu também vou trazer um pouco da minha perspectiva, algo que não é tão comum assim no jornalismo, já que estamos aqui para te conectar com os artistas e não falar por eles.
É, eu sei o que você está pensando. É muito daora ver a dupla Tasha & Tracie na capa desta edição impressa. No dia da sessão de fotos que compõem essa edição, meu posto Rouffer (título dado à fanbase das gêmeas) se uniu ao meu posto de repórter. A convite da CH, bati um papo com as rappers sobre referências, planos de futuro e claro, música e moda.
Na nossa conversa, Tracie me contou que tudo começou com propósito mesmo — mas acabou fugindo um pouco do controle, e isso foi ótimo. “A gente queria atingir pessoas iguais a nós e, no fim, a gente acabou inspirando vários projetos, várias pessoas a fazerem coisas novas. Isso é uma coisa muito especial para a gente”.
E “bota” especial nisso. Um pouco antes da circulação desta revista, as gêmeas — que são do signo de gêmeos – estavam prestes a embarcar em sua primeira turnê europeia, lançar novo álbum e se consagrar como embaixadoras da Adidas para a América Latina. E isso é resultado de um trabalho e tanto.
Filhas de mãe brasileira, pai nigeriano, as artistas contam que sempre tiveram um objetivo maior do que “só aparecer”, elas desejavam criar formas de fortalecer a autoestima de pessoas negras — e a sua própria. “Quando nossa história não é contada, nada muda”, resumiu Tracie.
O mais importante são as nossas escolhas. A gente sempre quis, de certa forma, fortalecer pessoas de quebrada.
Tracie
Seus trabalhos são cheios de referências culturais, para além de artistas como Tupac ou o estilista Dapper Dan, elas citam em suas músicas figuras como a escritora Carolina Maria de Jesus, Peter Tosh, e até mesmo, “Amina”, uma rainha da terra de Zazzau, ao norte da Nigéria – e, spoiler, o nome dela é título do próximo single que vem por aí.
E só o que consegui “tirar” delas sobre o novo álbum foi que “a gente está aprendendo a viver fora do estado de alerta, de sobrevivência” pontuou Tasha. “Ele mostra nossa evolução. Vai compactar tudo o que a gente passou. Se alguém não entendeu Rouff e Diretoria, talvez entenda agora.”