Nova era, novas regras. Rouff.

Muito além do rap, Tasha & Tracie usam estilo e voz para fortalecer meninas da quebrada — e construir um império com identidade.

por Bruna Nunes Atualizado em 11 jul 2025, 17h15 - Publicado em 11 jul 2025 13h00

Nova era, novas regras. Rouff.

E

scutar as gêmeas Okereke é sempre uma aula. Cada fala delas carrega uma vivência coletiva, afinal, as artistas não só movimentam o mundo do rap, como transformam os caminhos de muita gente — o da jornalista que escreve este texto, inclusive — seja por meio da moda, da beleza ou de suas músicas.

Entrevistá-las e tentar transmitir a você, leitor e leitora da CAPRICHO, a transformação que elas provocam no mundo é uma baita responsabilidade para mim e, por isso, essa entrevista de capa vai ser um pouco diferente do que você, aí do outro lado, está acostumado. 

Enquanto eu te conto quem são as meninas que mudaram a autoestima das jovens da periferia, as “it favelas”, eu também vou trazer um pouco da minha perspectiva, algo que não é tão comum assim no jornalismo, já que estamos aqui para te conectar com os artistas e não falar por eles.

Tasha e Tracie posando para foto juntas com os rostos encostados

Continua após a publicidade

É, eu sei o que você está pensando. É muito daora ver a dupla Tasha & Tracie na capa desta edição impressa. No dia da sessão de fotos que compõem essa edição, meu posto Rouffer (título dado à fanbase das gêmeas) se uniu ao meu posto de repórter. A convite da CH, bati um papo com as rappers sobre referências, planos de futuro e claro, música e moda.

Na nossa conversa, Tracie me contou que tudo começou com propósito mesmo — mas acabou fugindo um pouco do controle, e isso foi ótimo. “A gente queria atingir pessoas iguais a nós e, no fim, a gente acabou inspirando vários projetos, várias pessoas a fazerem coisas novas. Isso é uma coisa muito especial para a gente”.

E “bota” especial nisso. Um pouco antes da circulação desta revista, as gêmeas — que são do signo de gêmeos – estavam prestes a embarcar em sua primeira turnê europeia, lançar novo álbum e se consagrar como embaixadoras da Adidas para a América Latina. E isso é resultado de um trabalho e tanto.

Continua após a publicidade

Filhas de mãe brasileira, pai nigeriano, as artistas contam que sempre tiveram um objetivo maior do que “só aparecer”, elas desejavam criar formas de fortalecer a autoestima de pessoas negras — e a sua própria. “Quando nossa história não é contada, nada muda”, resumiu Tracie.

O mais importante são as nossas escolhas. A gente sempre quis, de certa forma, fortalecer pessoas de quebrada.

Tracie

Seus trabalhos são cheios de referências culturais, para além de artistas como Tupac ou o estilista Dapper Dan, elas citam em suas músicas figuras como a escritora Carolina Maria de Jesus, Peter Tosh, e até mesmo, “Amina”, uma rainha da terra de Zazzau, ao norte da Nigéria – e, spoiler, o nome dela é título do próximo single que vem por aí.

E só o que consegui “tirar” delas sobre o novo álbum foi que “a gente está aprendendo a viver fora do estado de alerta, de sobrevivência” pontuou Tasha. “Ele mostra nossa evolução. Vai compactar tudo o que a gente passou. Se alguém não entendeu Rouff e Diretoria, talvez entenda agora.”

Publicidade

ELAS DÃO O NOME

T

asha me contou que, lá atrás, elas eram vistas como “doidinhas”. “Todo mundo achava que a gente acreditava demais em algo que era muito distante para alcançarmos. Hoje, a gente criou um nicho, o nosso nicho Tasha e Tracie.” E é sobre ele que quero conversar.

Esse nicho citado por ela foi criado nas ruas da Zona Norte da cidade de São Paulo — e não é de hoje. As gêmeas, que hoje têm 29 anos, começaram esse corre todo lá atrás, na adolescência.

Fotografia: Isabelle Índia; Assistente de fotografia: Pâmela Anastacio, Gabriel Moreira Ferreira, Natasha Soares; Tratamento: Phelipe Mortosa; Styling: Pedro Moura; Produção de moda: Bruno Correia, Vanessa Cordeiro, Deise Nicolau, Luara Marcondes; Beleza: Steyce Borges; Assistente de beleza: Sthefdoll, Regis Jua, Ayo Marques; Vídeo: João Fonseca; Agradecimentos: Pix 6 Estúdios, Adidas e Mc Donald’s.
Fotografia: Isabelle Índia; Assistente de fotografia: Pâmela Anastacio, Gabriel Moreira Ferreira, Natasha Soares; Tratamento: Phelipe Mortosa; Styling: Pedro Moura; Produção de moda: Bruno Correia, Vanessa Cordeiro, Deise Nicolau, Luara Marcondes; Beleza: Steyce Borges; Assistente de beleza: Sthefdoll, Regis Jua, Ayo Marques; Vídeo: João Fonseca; Agradecimentos: Pix 6 Estúdios, Adidas e Mc Donald’s. Isabelle Índia/CAPRICHO
Continua após a publicidade

Elas perceberam que o que buscavam para si poderia impulsionar muitas outras jovens. É dessa fonte que nascem projetos como o Expensive $hit, um blog de moda e cultura sob a ótica negra e periférica que chegou até Dapper Dan, um dos maiores estilistas norte-americanos, conhecido por unir moda e hip-hop; o coletivo MPIF (Mulher Preta Independente De Favela) e, claro, os projetos musicais.

“Acho que o mais importante nisso são as nossas escolhas, porque a gente sempre quis, de certa forma, fortalecer pessoas de quebrada. É um trabalho que a gente faz de impor respeito, de ensinar às pessoas como trabalhar com pessoas como nós, de falar alguns nãos, que faz parte”, aponta Tracie.

O nicho, gradualmente, foi se transformando em um “império”. Enquanto, durante a pandemia, elas criavam clipes caseiros direto de um celular, hoje elas são entendidas como it girls — ou seja, inspirações para outras meninas — e elevam o patamar da cena do rap e feminina no Brasil.

A gente tem uma marca, a gente tem estúdio, a gente tem vários braços de um império.

Tracie
Publicidade

E VAI MAIS LONGE AINDA

Um dos projetos mais importantes nesse quesito, por exemplo, é o estúdio EHXIS. Ele é pensado para fortalecer novos artistas periféricos e jovens; lá, elas compartilham conhecimento e criam quase que um laboratório cujo objetivo é ensinar a fazer música e clipes de forma autoral e com pouco recurso, mas com algo essencial: respeito aos artistas desde a concepção das ideias até o contrato estipulado.

“A gente fez uma engrenagem girar sozinha, tanto o nosso trampo quanto o das pessoas à nossa volta são meio que autossustentáveis”, resumiu Tasha. “Às vezes, o que as pessoas chamam de panela é realmente fazer o dinheiro girar. Isso é parte de um império também. A gente tem uma marca, a gente tem estúdio, a gente tem vários braços de um império”, explicou Tracie, destacando as iniciativas.

Tasha & Tracie
Tasha & Tracie Isabelle Índia/CAPRICHO

Para Tasha, essas iniciativas se resumem a algo que todo mundo passa por algum momento na vida: a necessidade de entender quem se é, moldar a própria identidade e vê-la representada. “Existem várias narrativas de pessoas negras, e a nossa, na época que a gente começou, não era tão representada. Hoje eu já vejo mais.”

Tento fazer o que eu queria ver, o que eu queria assistir. E se eu quero ver isso, outras pessoas também vão se identificar.

Tasha
Continua após a publicidade

Leia a entrevista completa abaixo:

CAPRICHO: Vocês desbravaram muitos caminhos e conquistaram muito espaços. O que significa para vocês serem reconhecidas no lugar em que estão hoje, como artistas e empresárias?  

Tasha: Mano, eu acho muito da hora, porque quando a gente começou, era algo muito distante pra gente. Eu sempre falo isso, né? Que a gente era meio que ‘as doidinhas’. Então, eu fico muito feliz. Tipo, ninguém acreditava de verdade, e hoje, eu acho que faz de luz mesmo, porque a gente criou um nicho, né? Eu acho, tipo, um nicho nosso, nicho Tasha e Tracie. 

Tracie: É, eu acho que… É, pra gente é muito legal, porque a gente… Desejávamos bem menos, assim. A gente queria atingir pessoas iguais a nós e, no fim, a gente acabou inspirando vários projetos, várias pessoas a fazerem coisas novas. Várias minas e tal, então isso é uma coisa muito especial.

Lá atrás, vocês falavam sobre a construção de um império. O que essa ideia significa hoje?

Tracie: Cara, eu acho que, de certa forma, a gente fez isso, e eu acho que as pessoas talvez entendam daqui a um tempo. O império, ele é muito sobre ter várias pessoas, e é isso que a gente faz. Às vezes o que as pessoas chamam de “panela” é realmente fazer o dinheiro girar. Isso é parte de um império também, a gente tem uma marca, a gente tem estúdio, a gente tem vários braços de um império, e eu acho que o mais importante nisso são as nossas escolhas, porque a gente sempre quis, de certa forma, fortalecer pessoas de quebrada. É um trabalho que a gente faz de impor respeito, de ensinar às pessoas como trabalhar com pessoas como nós, de falar alguns nãos, que faz parte. 

Continua após a publicidade

Tasha: Sim, eu acho que a gente está na construção, mas que a gente já criou várias coisas. A gente fez uma engrenagem girar sozinha, que tanto o nosso trampo quanto das pessoas à nossa volta são meio que autossustentáveis com as coisas que a gente tem. Hoje a gente tem câmeras para poder fazer os nossos videoclipes dos nossos artistas, a gente tem a nossa loja, que também emprega outras pessoas. Então a gente está nesse começo aí, de fazer os nossos serem autossuficientes.  

+_CHEGOU ATÉ AQUI? Leia a versão completa do texto na edição impressa de JULHO/25 de CAPRICHO no GoRead, a maior banca de revistas digital do Brasil, ou compre na banca mais próxima da sua casa.

Publicidade