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Estranha Forma de Vida e a representação masculina no faroeste

Dirigido por Pedro Almodóvar, o curta mostra o reencontro de dois amantes vividos por Pedro Pascal e Ethan Hawke

Por Arthur Ferreira Atualizado em 29 out 2024, 18h15 - Publicado em 4 out 2023, 18h31

O que vem à sua mente quando pensa em filmes de faroeste? Existe um senso comum que pode logo trazer a ideia de cenas de tiroteio, perseguições em cavalos ou o casal composto por uma donzela em perigo salva pelo herói, ou melhor, cowboy. Existem, claro, os filmes que procuram romper com esse conceito, como é o caso de Estranha Forma de Vida, assinado por Pedro Almodóvar. O curta-metragem do diretor deixa alguns clichês do gênero para trás, não só ao retratar um romance homoafetivo, mas principalmente por dar camadas mais profundas a masculinidade de seus cowboys.

Estrelada por Ethan Hawke e Pedro Pascal, a narrativa gira em torno do reencontro de dois amantes que não se veem há 25 anos e lidam com uma situação um tanto quanto incômoda. É que Jake, personagem de Hawke é o xerife de Bitter Creek e se surpreende com a visita do rancheiro Silva, interpretado por Pascal, e os dois vivem uma noite de conversas e reconciliação.

Tudo certo até aí! O problema surge na manhã seguinte, quando Jake começa a desconfiar das intenções de Silva. Afinal, ele voltou para cidade por ele ou para salvar o filho, que está sendo procurado por assassinato?

As inspirações e conceitos de Almodóvar

Introduzir o relacionamento homoafetivo em um gênero conhecido pelas representações masculinas extremamente viris e rústicas por si só já é raro de se ver, né? Na entrevista transmitida durante a sessão, logo após o filme, Almodóvar conta que se inspirou no premiado O Segredo de Brokeback Mountain (2005), que, apesar de abrir portas, trouxe uma relação homoerótica um pouco mais implícita em sua narrativa. Isso inspirou o diretor a trazer sua própria versão do romance rural, dessa vez mais focado na intimidade do casal.

A sensualidade e o erótico estão muito presentes por aqui, afinal, estamos falando do Almodóvar. A relação íntima dos dois personagens vai muito além de cenas que dão a entender algo, mas também está nos pequenos detalhes. Sem precisar de muita nudez e se apoiando em nuances, o diretor consegue expressar muito bem a vontade e a paixão. Isso fica perceptível em vários detalhes, como o enquadramento focado no olhar ao corpo do outro, na forma como eles se referem ao passado, a maneira como se vestem enquanto se encaram na manhã seguinte do reencontro.

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Além disso, um dos pontos principais é o grande contraste entre as duas personalidades. Enquanto Silva é um homem emotivo, sensual e que tenta amolecer o coração do xerife, Jake é inseguro e reprimido, talvez por ser uma figura importante em uma cidade pequena. Essa relação é representada de maneira muito sensível e honesta, desencadeando em diálogos curtos, mas profundos. Os dois cowboys vão contra o estereótipo clássico do homem rural machão, que não demonstra seus sentimentos e que só se importa com o confronto armado.

Toda essa linguagem melodramática traz um ar diferente dos filmes de faroeste já conhecidos e, ao mesmo tempo, entrega elementos clássicos, como cenas de perseguição e de tiroteio. Talvez a estranha forma de vida em questão seja justamente uma sociedade em que o desejo e a paixão são resolvidos de forma brutal, assim como o final desse curta-metragem.

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Além de Pascal e Hawke, Estranha Forma de Vida também conta com as participações de Manu Ríos, José Condessa, Jason Fernández, Sara Sálamo, Pedro Casablanc, Daniel Rived e George Steane no elenco. Esse é o segundo curta-metragem em inglês de Almodóvar, sendo o primeiro A Voz Humana, lançado em 2020 e protagonizado por Tilda Swinton.

Estranha Forma de Vida está em exibição nos cinemas e chega ao MUBI no dia 20 de  outubro.

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