CPM22: eles vendem discos falando de amor
A banda CPM 22 vendeu 270 mil cópias de seus dois CDs já lançados falando sem vergonha de um assunto até então difícil no rock: o amor

– Apa, vai sair uma banda nova aí que vai estourar. Anota o nome: CPM 22.
– E o que você tem com ela pra fazer essa propaganda toda?
– O guitarrista é meu namorado. Mas juro que eles são bons. Vão pegar, mesmo.
O diálogo acima foi travado na recepção da MTV, em meados de 2001. Eu, já editora de música da CAPRICHO, e Letícia Zioni, então assessora de imprensa da emissora. Claro que a opinião da Lê era suspeita mulher apaixonada é capaz de achar o namorado bom em qualquer coisa, certo? Mas desde aquele dia, cada vez que eu ouço que o CPM 22 ganhou um disco de ouro, cada show lotado que eu vejo da banda, cada carta de leitora se dizendo fã deles que recebo, lembro da Letícia.
Hoje o CPM 22 é uma das bandas mais tocadas nas rádios de rock brasileiras. Seus clipes estão entre os mais pedidos na MTV. Eles fazem cerca de três shows por semana. Somados, seus dois CDs já venderam 270 mil cópias. “Mas a única diferença do Badauí de anos atrás para o de hoje é a falta de tempo para jogar bola, andar de skate e viajar com a turma”, diz Matheus Ferreira, 26 anos, há 15 anos amigo do vocalista. “De resto, ele é o mesmo.”
Nesta entrevista, a banda fala das mudanças na vida deles, de rock e de preconceitos.
Li uma vez que a banda fez tudo certo na hora certa e teve a felicidade de cruzar com as pessoas certas. O que são esses certos todos?
O que a gente fez de mais certo, eu acho, foi manter o mesmo pensamento desde o início. Isso foi fundamental. Mas rolou muita sorte, claro. Chegamos nas mãos certas na hora certa de tudo: da banda, do mercado, da gravadora para onde a gente foi.
Vocês faziam shows para mil pessoas e hoje tocam em festivais para 40 mil. Qual é a diferença?
Ao tocar para mil você tem uma proximidade incrível com o público. Toca um acorde e tem a resposta na hora. Sente o calor, os caras puxando a sua bermuda… Num show grande tem a distância, mas arrepia ver 40 mil pessoas pulando com a sua música. Quando você toca para mil, sabe que aquelas mil são fãs. Com 40 mil você não enxerga as caras, tem uma responsa de atingir todo mundo, de fazer a pessoa que foi ao festival ouvir outra banda prestar atenção no seu som.
Vocês já tocaram na mesma noite que Rouge, Daniela Mercury, Ivete Sangalo… É melhor tocar com outras bandas de rock?
A gente já tocou num festival com Daniel e Chiclete com Banana. É legal também. Quando os outros artistas são de estilo diferente, tem um desafio a mais, de fazer o público deles ouvir e curtir a nossa música.
Vocês se negariam a tocar na mesma noite que um determinado artista?
Nunca. Qualquer banda para a gente é banda. A gente respeita muito o trabalho de cada um, por mais diferente que seja do nosso. Já entramos no palco depois do Zeca Pagodinho.
Em 2000, ainda independentes, vocês fizeram uma turnê com uma banda californiana (LagWagon) e uma argentina (Fun People). Artista gringo tem alguma coisa de diferente?
O tamanho [risos]. Os caras eram bem grandes. Acho que a maior diferença é o profissionalismo, independentemente do tamanho da banda. A gente viajou com bandas underground que funcionam de um jeito superprofissional.
Todo mundo falava inglês?
Eu e o Portoga éramos os intérpretes. A gente trocou várias idéias. Mas a gente ensinou muita coisa para eles também. Servimos de guia. Os caras iam para churrascarias e a gente apontava qual carne era a boa… [risos]
Uma vez o Rodolfo disse que tinha parado com a maconha e que viu que compor sem estar chapado não era a mesma coisa. Vocês concordam?
Eu não fumo mais antes de shows. A voz muda demais, a maconha seca tudo.
Mas e na hora de compor?
O mito da maconha no rock é mais ou menos como o do álcool no samba. O Dudu Nobre, por exemplo, não bebe e faz ótimos sambas. Para falar de emoção e passar uma emoção, não acho que alguém precise de drogas. Elas te deixam mais sensível, mais relaxado, mas não aconselho ninguém a usar.