Chimarruts é reggae com muito chimarrão
"Graças à internet, a nossa música chegou em lugares que a distribuição não alcançava", disse o vocalista Rafael Machado, da banda Chimarruts, em entrevista para a CAPRICHO.
Como a banda começou?
Rafael Machado (vocalista): Nós começamos em 2000, tocando na rua. Uma coisa que rola muito em Porto Alegre é todo mundo se reunir nos parques para tocar violão, tomar chimarrão, conversar… Então, a banda surgiu nesse ambiente. E, logo no primeiro ano, já gravamos um disco.
Eu assisti a alguns shows da Chimarruts no Youtube e vi que a galera sabe cantar todas as músicas…
Tati Portella (voz e backing vocal): Pois, é… Foi trabalho de formiguinha mesmo, de divulgação, com mala cheia de CD, indo de rádio em rádio, batendo de porta em porta, de amigos nossos botarem no colégio na hora do recreio… A gente foi inserindo a música aos poucos.
Nê (flauta, sax, gaita e voz): A primeira vez que a gente foi para Curitiba, a gente ficou, de favor, na casa de uma amiga nossa, por uma semana. E a gente foi fazendo esse trabalho de levar CD, levar adesivo…
E como foi gravar o primeiro CD?
Nê: Quando a gente começou a querer gravar o nosso disco, a gente não tinha grana, às vezes, nem para pagar um ônibus. Então, o que todo mundo falou? Que a gente era louco, que a gente nunca ia gravar um CD independente. Daí começamos a juntar cachê de 15 reais, 70 reais, a gente foi juntando graninha por graninha. A gente não comprava nem um cachorro-quente.
Tati, como é ser a única mulher da banda?
Tati Portella: E acho os guris muito parceiros. Nós somos amigos, irmãos. São 20 homens viajando e só eu de mulher. Mas eu não acho nem um pouco constrangedor. Os guris também não me deixam em nenhuma saia justa, sabe? Na hora em que tem que trabalhar, vamos todo mundo trabalhar.
Mas você dá uma de moleca junto com eles?
Tati Portella: Dou uma total de moleca! Eles brincam, às vezes, me chamando de “Tatão”. Mas não tem como você ficar toda bonequinha no meio de uma cambada de marmanjo. Tem que entrar no clima!
Vocês a protegem se acontece alguma coisa?
Nê: É que a Tati se vira muito bem. Outro dia mesmo o trompetista nosso foi jogar uma almofada em alguém e acertou na Tati. Ela já botou o respeito nele ligeirinho! Ela sabe se virar bem. (risos)
Por que vocês deram o nome de Chimarruts para a banda?
Rafael Machado: Porque a gente queria um nome que dissesse, de uma vez só, de onde a gente vem e qual é o som. A gente ficou matutando um tempão até chegar em Chimarruts: chimarrão, porque a gente é do sul, e roots, porque a gente é uma banda de reggae.
Vocês são muito comparados com o Natiruts?
Tati Portella: Eu acho que mais pelo nome, que é muito parecido.
Rafael Machado: Mas, quando a gente começou, não era Natiruts, era Nativus.
Tati Portella: E eles foram os primeiros do reggae brasileiro a explodir. Mas nosso estilo musical é muito diferente.
Nê: Acho que a maior diferença é que a gente faz um trabalho legal com flautas de bambu, resgatando a cultura latino-americana. Isso é uma coisa que, no reggae aqui no Brasil, só vai ter na Chima (apelido carinhoso da Chimarruts). O Natiruts serviu muito de influência para a gente. Todo mundo que curte e toca reggae tem que agradecer ao Nati, ao Cidade Negra e à Tribo de Jah, que são os grandes ícones do reggae. Graças a eles, as vovós do Brasil conheceram o reggae, não só os adolescentes e jovens.
Como vocês encaram a fama?
Rafael Machado: Não dá para deixar de viver. O nosso trabalho tem essa evidência toda, mas a gente tem que aprender a gostar disso, já que faz parte, para se tornar uma coisa prazerosa. A gente não se vê como celebridade. Nós somos artistas conhecidos e ponto.
E onde vocês vão chegar?
Nê: Muito longe. Muito, muito muito.