CH Entrevista: The Last Dinner Party, uma banda de rock de girls girls

Falamos com a jovem banda inglesa que fez bonito no C6 Festival sobre a primeira vez delas no Brasil, queerness, os BRITs e até labubus!

Por Juliana Kataoka 27 Maio 2025, 19h00

The Last Dinner Party não é um girl group — mas é uma banda de rock formada por garotas amigas das garotas. Jovens, sim. Estilosas? Também. Mas se você achou que elas destoariam do line-up 30+ do C6 Festival, pensou errado. Bastou subir ao palco para conquistar os tios com sua mistura de rock alternativo, influências dos anos 70, glam rock e um toque de teatralidade que remete a Kate Bush, Fleetwood Mac, Queen e David Bowie. Pensa comigo: pra quem tem no currículo que já abriu pros Rolling Stones, qualquer desafio é fichinha!

Pouco antes de se apresentarem no C6 Festival, a CAPRICHO conversou com o quinteto. Falamos sobre a primeira visita delas ao Brasil, a conexão com o público, queerness e esse jeito bem pé no chão que vivem esse início de carreira meteórico. Animadas, gente como a gente, um dia antes do show, elas passearam pela Vila Madalena — e a gente viu dos stories a elas dançando em roda ao som de artistas do Beco do Batman (alguém disse coven?) e o resgate ágil de uma caipirinha prestes a cair de uma mesinha.

Sim, elas finalmente estavam aqui para atender ao icônico pedido de “Come to Brazil”, que os fãs deixavam nos comentários desde os primeiros meses da banda. “Foi muito no começo que a gente começou a ver isso nas redes. Parecia um sonho distante. E agora estamos aqui! É surreal”, contou Lizzie, a baixista. E pelo post delas no Instagram dizendo que foi inesquecível. A expectativa delas pelo público brasileiro era alta — e acho que cumprimos o requisito. Ufa!

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Muito dessa conexão intensa com o público foi estabelecida através da forte estética da banda: os fãs abraçaram alguns dos signos que se repetem com mais frequência e passaram a comparecer às apresentações com corsets, fitas de cetim, flores vermelhas, criando por meio desses itens um certo senso de comunidade e elas comentaram sobre isso.

“Quando começamos, queríamos criar um espaço em que as pessoas vissem os nossos shows como uma ocasião para se arrumar, se expressar, usar coisas que talvez tivessem medo de usar”, explicaram. “É muito legal que isso tenha virado uma tradição: se você vai a um show da Dinner Party, você se arruma. E aí conhece outras pessoas vestidas como você. Isso é muito especial.” Abigail, a vocalista, ainda brincou: “Agora o público se veste melhor que a gente! Eu olho da plateia e penso: caramba, tá incrível. Preciso me esforçar mais.”

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É curioso ver como elas comentam algumas das maiores conquistas da carreira — como o dia em que venceram o BRIT Awards, um dos maiores prêmios da música britânica. “A gente estava correndo de um lado pro outro, se apresentou, sentou na mesa por dois minutos e de repente ganhou. Foi um sonho. E o mais maluco é que todas aquelas pessoas que estavam na plateia — artistas incríveis, que a gente admira tanto — estavam ali assistindo a gente. Foi muito surreal”, Lizzie conta.

Talvez o ponto mais delicado da conversa — e aqui delicado no sentido de algo tratado com cuidado e carinho, justamente por ser importante para elas — tenha sido sobre a relação com o público queer. É algo que atravessa a formação do grupo, as músicas, as referências visuais e, naturalmente, a base de fãs. Quando questionadas sobre essa conexão, Abigail respondeu na vulnerabilidade, deixando claro o quanto esse retorno ainda a surpreende e emociona.

“Não escrevemos pensando em um tipo específico de pessoa”, explicou. “Só conseguimos escrever sobre nós mesmas, sobre o que vivemos. Então é sempre um choque quando uma música toca alguém dessa forma. É especial demais quando alguém diz que uma palavra ou verso fez com que se sentisse menos sozinho, mais seguro ou compreendido. Porque a gente sabe como é se emocionar com música também. A gente também já esteve nesse lugar, de se apoiar numa canção em momentos difíceis. E nunca dá para prever quando algo que você escreve vai ter esse impacto. A gente só escreve o que precisa escrever.”

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O grupo bebe de muitas fontes criativas — a própria apresentação recente do BRIT Awards foi uma homenagem a Twin Peaks e ao universo de David Lynch. Quando perguntamos sobre as obsessões do momento, recebemos várias respostas, que apontam para caminhos bastante diferentes — e interessantes — para onde a banda pode seguir (ou não) em seus próximos passos.

Aurora, a tecladista, citou o folclore — na bagunça, alguém mencionou inclusive o disco da Taylor Swift! — mas ela explicou melhor: folclore europeu, vampiros! Também mencionaram cowboys — depois de uma viagem aos Estados Unidos, agora estão obcecadas por Johnny Cash! E como tinham acabado de voltar do Japão, perguntei se alguém estava obcecada por Labubus. Emily, também guitarrista, engajou: “Acho eles fofos! Eu gosto do Boo Boo. Não tenho um, mas queria.”

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E talvez esteja aí o segredo do encanto da The Last Dinner Party: por trás do visual dramático, das letras intensas e da pose de rockstars de uma outra época no palco, o que encontramos na conversa é um grupo de amigas, dispostas a serem vulneráveis, obcecadas por coisas bonitas, pelo poder da música de nos conectar — e até bichinhos de pelúcia! E mais do que isso: um grupo que divide o microfone igualmente — juro, cada uma respondeu pelo menos uma pergunta como se tivesse sido combinado. É esse tipo de atitude que deixa a cena do rock mais interessante: garotas amigas das garotas, fazendo bonito no palco — e a gente está aqui pra tudo isso!

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