Amandla Stenberg sobre protagonista negra em Mentes Sombrias: “É poderoso”
Mentes Sombrias chegou aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (16)
A gente já viu muita franquia com meninas como protagonistas, mas Mentes Sombrias, de Jennifer Yuh Nelson, é a primeira liderada por uma atriz negra. Amandla Stenberg faz Ruby, uma garota com poderes especiais que precisa fugir das autoridades e se junta a um grupo de adolescentes formado por Liam (Harris Dickinson), Zu (Miya Cech) e Chubs (Skylan Brooks) para tentar sobreviver. Amandla conversou com a CAPRICHO em Los Angeles sobre cachos, girlpower e a força dos jovens.
CH: Esta é uma potencial franquia liderada por uma garota negra. Por que acha legal ter uma protagonista assim?
AMANDLA: Isso foi muito empolgante para mim. A personagem é forte, especialmente a maneira como ela ganha força mais para o final do filme. Gosto de histórias que mostram o crescimento das garotas, não apenas seus poderes natos. Ela tem momentos de insegurança e dúvida e precisa encontrar sua voz. Isso foi muito legal. Fora que foi uma surpresa, quando me ofereceram o papel, de saber que eles estavam procurando diversidade. Acho que sua descrição no livro é bem diferente. Pensei muito em como era poderoso ter uma garota negra neste papel porque vimos franquias parecidas com esta antes, mas não com uma protagonista negra.
CH: Há muitas meninas com cabelos encaracolados que se sentem obrigadas a alisar os fios. O que diria a elas?
AMANDLA: Meu cabelo estava curto e íamos usar os fios naturais, mas o estúdio queria que eu usasse uma peruca. Testamos várias. Tinha uma de cabelos lisos e eu disse não. Não chegamos até aqui para fazer isso! Para mim é importante ter a representação de cabelos naturais na tela. Eu mesma passei por períodos de alisamento e de odiar meu cabelo até perceber que ele é lindo. Então eu diria para elas: sei que às vezes é incômodo rejeitar o padrão de beleza que diz que seu cabelo não é bonito, que você só vale se se dobrar a esse padrão, mas isso é besteira. Simplesmente rejeite isso, abrace seu cabelo natural e defina seu próprio padrão de beleza.
CH: Você e Harris Dickinson têm uma química excelente. Como foram os testes para conseguir o papel?
AMANDLA: Fizemos com vários atores, mas dois segundos depois de Harris entrar pela porta, eu falei: “É este!”. Pude ver que ele era legal, inteligente, engraçado, real, pé no chão…. Tivemos uma química imediata e viramos amigos instantaneamente.
CH: Do que você mais gosta na personagem?
AMANDLA: De suas nuances. Ela tem sentimentos de perda e se odeia às vezes, mas ainda assim mantém um amor pelas pessoas à sua volta. No fim do filme, descobre quem é e que papel precisa ter.
CH: No filme, os adolescentes têm de lutar por suas vidas, mas na vida real muitas vezes eles não são levados a sério – e, no entanto, muitos têm participado de lutas importantes, como os estudantes que perderam 17 amigos e professores quando um atirador invadiu sua escola na Flórida e agora brigam por maior controle de armas…
AMANDLA: Definitivamente o filme faz paralelos com a realidade, com os jovens encontrando sua voz, usando as armas que têm à sua disposição, enfrentando sistemas de governo em que não acreditam. E esse é um aspecto importante da nossa história e o grande atrativo para mim. Porque temos ferramentas à disposição que nos permitem nos organizar e disseminar informação muito rapidamente. E isso aterroriza principalmente aqueles que estão no poder e têm visões diferentes.
CH: Você é uma jovem começando sua carreira num momento especial para mulheres em Hollywood. Quanto progresso ainda precisa ser feito?
AMANDLA: Ainda precisamos de muito progresso, com certeza! Claro que é fantástico tanta ênfase em tornar o ambiente de trabalho seguro para as mulheres, mas a interação de homens e mulheres ainda é complicada no ambiente de trabalho, e é toda a cultura que precisa mudar. Eu não enfrentei muitas situações desagradáveis, mas grande parte do meu trabalho tem a ver como meu corpo vai ser consumido pelo olhar masculino, o que muitas vezes é complicado, porque distrai. Gostaria de ver isso mudar para que não tenhamos apenas mulheres com que queremos fazer sexo na tela. Que possamos vê-las por suas outras qualidades.
CH: E igualdade no pagamento?
AMANDLA: Isso é fundamental e ainda estamos longe. Também precisamos ter mais diretoras. Há essa ideia de que elas não existem – mas elas existem, sim. Já tive várias discussões com produtores homens em que disse que eles precisavam trabalhar mais com diretoras, e eles responderam: “onde elas estão?”. E eu apresento uma lista. É um clube do bolinha, um produtor é amigo do ator que é amigo do diretor. O que estamos vivendo agora é incrível porque as mulheres estão começando a cultivar esse tipo de relação entre elas.