Continua após publicidade

A juventude que se identifica e leva a dupla Tasha & Tracie bem mais longe

CAPRICHO conversou com as irmãs que estão transformando o rap nacional e ao mesmo tempo elevam a autoestima de meninas pretas e de jovens da periferia

Por Bruna Nunes Atualizado em 7 nov 2024, 18h01 - Publicado em 29 ago 2022, 06h00
Foto da irmãs Tasha e Tracie se apresentando em um palco com luzes azul
Marcos Issa/Argosfoto/Divulgação

Não tem como discutir com essa informação: as gêmeas Tasha e Tracie Okereke são um dos principais nomes da cena atual do rap nacional. “Hoje, as pessoas gostarem como gostam [do nosso som] é gratificante”, agradece Tracie em entrevista à CAPRICHO que, para completar a fala da irmã, revela que nem sempre foi assim. “A gente acreditava nisso, tipo, oito anos atrás, só que todo mundo zoava a gente.”

E “zoava” por vários motivos: o estilo delas é inovador, diferente do que o meio do rap está acostumado. E isso vai desde as roupas que vestem – e que é chamada hoje de “estética Tasha & Tracie” de tão única – até o som que elas produzem. “No começo a gente fez muitos trabalhos na moda e a gente era camelô e passava às vezes num shopping e tinha um banner enorme com a nossa foto, mas a gente tava tendo que trampar”, lembra Tracie.

E o caminho delas é longo: ser jovem, vir da periferia, trabalhar como camelô e ainda conseguir fazer a diferença no mundo da moda e em um universo majoritariamente masculino, o do rap.

As paulistanas de 27 anos nasceram e cresceram no Jardim Peri, Zona Norte de São Paulo. E o sobrenome “Okereke” não é artístico, elas são filhas de mãe brasileira e de pai nigeriano – e fazem questão de honrar suas origens. Além de rappers, elas começaram com um blog na internet, são diretoras de arte, DJs e já fizeram trabalhos até como modelos. Aqui na CH, a gente já te contou um pouco sobre a trajetória delas.

Elas já se destacavam em seus trabalhos relacionados à moda, mas explodiram para o Brasil inteiro com as letras das suas músicas, que levantam a autoestima de meninas pretas e dos jovens da favela. Elas se veem nas coisas que a gente relata”, diz Tasha. O EP “Diretoria”, lançado recentemente, já ultrapassou a marca de 20 milhões.

Em conversa com a CAPRICHO, as irmãs falaram sobre o reconhecimento de seus fãs, sobre o processo para chegarem no lugar de sucesso e reconhecimento e como é, mesmo tão jovem, já serem referência para uma geração.

Continua após a publicidade

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por POPline 🎧 (@portalpopline)

Leia a entrevista completa:

CAPRICHO – Com o que vocês acham que as meninas que escutam o som de vocês mais se identificam?

Tracie: Eu acho que com a linguagem de periferia… É uma coisa que antes a gente achava que só o pessoal de São Paulo iria se identificar mais, mas acaba sendo no Brasil todo, né? Eu acho que a linguagem de periferia mesmo, porque são várias minas de vários tons diferentes, vivências diferentes e quebradas diferentes.

Tasha: Isso, e acho que as problemáticas que a gente cresce junto também. São coisas que elas se identificam, que elas se veem nas coisas que a gente relata.

Qual parte vocês mais gostam no trampo que têm realizado?

Tracie: Cara, eu acho que quando o público canta assim, quando cê vai num lugar que as pessoas tão super empolgadas, né? E todo mundo sabe todas as letras, é muito bom. E quando a gente termina um projeto, né?

Continua após a publicidade

Tasha: A reação do público é a melhor parte.

Vocês são referência pra muita gente (tanto para quem é fã, tanto pra quem está no corre), mas e as referências de vocês? Quais são? 

Tracie: A gente tem muita referência, na moda, no rap, SPfunk, Racionais… A gente não tem um nicho assim, não é só coisa de rap, mas música que se ouve na periferia, né? Tipo, desde o forró, pagode, etc

Tasha: Em resumo, tudo o que a  periferia veste e escuta que também contempla a gente, tá ligado?

A “estética Tasha e Tracie” realmente virou uma coisa, né? Até virou trend e etc. O que vocês acham quando veem os fãs pegando as manias de vocês? 

Tasha: A gente acreditava nisso, tipo, oito anos atrás, só que todo mundo zoava a gente, na verdade. As pessoas não se viam em outras pessoas e sempre acreditamos e andamos por aí. Antes de sermos famosas ou de fazermos música até, muita gente já via a gente andando pelo centro trabalhando e a gente ouve de muitas pessoas que a gente era referência pra elas assim, tipo só de vista, né?

Continua após a publicidade

Tracie: Isso é muito legal. Hoje, as pessoas gostarem como gostam é gratificante. E sobre as manias, é engraçado, né? Até fãs mais novas, né? Tipo, tem trend no TikTok que a gente nem entende, mas achamos o máximo! Porque somos um pouco mais velhas que alguns fãs, né? Então, são pessoas da nossa geração e mais novas que a gente, isso é legal porque estamos influenciando e atingindo várias pessoas.

Levando em consideração toda a experiência de vocês, o que vocês aconselham as jovens que estão entrando nesse processo agora?  

Tracie: Não é fácil, mas a gente tem que se manter em movimento e isso é importante. Às vezes, estamos num momento em que a gente não consegue fazer o que é necessário pra chegar no nosso sonho, mas tem que se movimentar.

Tasha: Muitas vezes eu acho que a gente, mulher, é incentivada a priorizar muitas outras coisas quando a gente está se desenvolvendo e usam muito a culpa pra isso, quando entramos em relação e outras coisas assim. Então, acho que a gente tem uma inclinação muito grande de deixar de lado um pouco os nossos sonhos pra viver outras paradas. 

Tracie: No começo, fizemos muitos trabalhos na moda e a gente era camelô e a gente passava às vezes num shopping e tinha um banner enorme com a nossa foto, mas a gente tava tendo que trampar. Então, acho que o conselho que a gente dá é: Às vezes, o que você pode fazer pelo seu sonho é o mínimo. Às vezes é comprar uma revista que te inspira pra ler ali, às vezes é só se vestir bem, e às vezes é só levantar e ir trabalhar. Sem querer, sabe? Sem ter energia. Mas tem que acreditar, tem que focar, tem que escrever, tudo que você quer.

Como enfrentar o machismo na cena? 

Tracie: Eu acho que é no bastidor que a gente muda isso, não é tanto a gente a ter que fazer sucesso, os números tal, mas é a nossa equipe que tem que se impor e tem que brigar e tem que ensinar que a gente merece um bom tratamento. 

Continua após a publicidade

Tasha: É, é se posicionar, mudar desde o tratamento

Playlist Tasha & Tracie

Em uma brincadeira musical com as cantoras, pedimos que cada uma escolhesse uma música para diferentes situações e olha só como ficou:

CH: Uma música para elevar a autoestima?  

Tracie e Tasha:  Diretoria 

CH: Uma música para incentivar quem está no corre?  

Tracie: Flo Jo

Tasha:  Agouro

Continua após a publicidade

CH: Uma música que seria importante para vocês, quando eram adolescentes?

Tracie e Tasha: Cachorras Kamikaze

As artistas foram uma das apostas do festival “Ecoando” do Amazon Music Brasil. A proposta do festival é dar ainda mais força para os talentos que estão se destacando no cenário musical nacional. Dá uma olhada no trabalho delas e curta o som:

Arrasaram, né? <3

Publicidade