Mais que um gênero musical, rap é sobre herança, identidade, luta e futuro

Os jovens são hoje os maiores consumidores do estilo musical: "O rap está no sangue. A gente vive ele no dia a dia", conta Maryllin Peres, de 18 anos

Por Bruna Nunes Atualizado em 30 out 2024, 15h48 - Publicado em 8 jul 2022, 15h09
Fetsival Cena 2k22
O festival de rap CENA 2k22 reuniu mais de 100 mil jovens Cena 2k22/Henrique Cabral/Divulgação

Os jovens constituem atualmente a maior parte do público do rap, e a prova viva disso são os eventos em que o gênero musical é destaque. Recentemente, por exemplo, aconteceu em São Paulo o CENA 2K22, maior festival de rap do país, e a CAPRICHO esteve presente.

Além de irem para acompanhar os shows e verem ao vivo os artistas do momento, os adolescentes usam a arte, a moda e o esporte, todos alinhados ao cenário rapper, para expressar suas personalidades, seus estilos de vida e compartilhar vivências. Ou seja, a ocupração desses espaços pode ser explicada por três palavras: identificação, representatividade e herança.

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“O rap pode conduzir o jovem a uma apropriação de si, o que oferece uma repercussão para além da criminalidade, ao instigá-lo a ter responsabilidade sobre a sua vida”, expõe a pesquisadora Cláudia Yaísa Gonçalves da Silva, que focou sua tese de mestrado no Instituto de Psicologia da USP em entender como o rap atua no processo de amadurecimento juvenil.

O rap é para todos  

Engana-se quem pensa que música é só sobre acordes, composições e indicações ao Grammy. Na realidade, o cenário musical é constituído por uma série de elementos, que vão muito além dos musicais. Música é arte, identidade e representatividade, e assim é o rap. “O que me chama mais a atenção no gênero é o fato dos artistas cantarem as realidades deles, os sonhos deles. Eu, enquanto mulher preta, me identifico demais com as coisas que eles cantam“, revela Fernanda Salles, de 20 anos, que compareceu ao CENA 2K22 e conversou com a CH.

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Nascido nas periferias, por muito tempo o rap, como era de se imaginar, foi marginalizado. Hoje, em compensação, consegue atingir o Brasil todo e furar bolhas, conquistando inclusive fãs que não estão inseridos na realidade que escutam e cantam.

Assim como o funk, o rap consegue trazer uma perspectiva diferente da vida dessas pessoas e inspirar jovens a não aceitarem a caixinha que a sociedade os colocam, e assim os incentiva a correr atrás de seus objetivos.

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O estilo também é a representação do movimento hip-hop, e carrega em suas letras muitas histórias e reflexões sobre diversos aspectos sociais, como racismo, violência policial e desigualdade. Com o crescimento de mulheres e LGBTs na cena, também aborda questões de gênero, homofobia, e machismo. “Hoje em dia, todo jovem quer algo para se dintificar, e o rap traz muito isso, a realidade”, conta Alanys Santos, de 17 anos.

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O rap é pura herança 

O gênero musical sempre teve letras carregadas de críticas sociais. Para a comunidade preta, essas composições são importantes ferramentas de ensino, especialmente para os jovens, que aprendem sobre direitos, potências e luta.

“O tom de denúncia que está nas letras e na musicalidade, que faz desse rap um gênero musical politizado e engajado, certamente tem potencial para estimular nos jovens estudantes possíveis processos identitários. Em sua riqueza, complexidade, diversidade cultural, as múltiplas identidades afro-brasileiras estão expressas nas canções aqui analisadas. Pela luta, pelas denúncias contra o preconceito e contra todas as formas de desigualdade, em contraposição ao abandono e ao desleixo do poder público e de grande parte da sociedade civil em relação à população pobre e das periferias, estas canções podem afetar os estudantes, muitos deles também jovens da periferia, jovens afrodescendentes brasileiros”, explica o mestre em História Sandro José Celeste em dissertação publicada em fevereiro de 2019, intitulada “Ensino de História, canção e identidades afro-brasileiras: o rap como possibilidade”.

“O rap sempre esteve presente na minha vida, veio dos meus pais, passou de geração em geração”

Yonara Santiago, 16 anos
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Então, desde que estourou no Brasil, lá na década de 80, o rap nacional vem sendo passado de geração para geração, de Racionais a Sabotage, Criolo, Emicida, Rael, Djonga, Xamã, Negra Li, Karol Conka, Flora Mattos, Drik Barbosa e Tássia Reis. “O rap está no sangue. Quando a gente nasce, a gente já escuta nossos pai ouvindo, e é nossa realidade. A gente vive no dia a dia o rap“, conta Maryllin Peres, de 18 anos, que também participou do CENA 2k22, que, inclusive, teve uma forte presença de artistas femininas: “Eu vim pelas meninas. Acho que foi o primeiro festival que eu vi tanta mulher junta assim”, celebrou a adolescente Bruna Guimarães.

@capricho A CH passou pelo #FestivalCena e conversou com as meninas que estavam por lá. Conta aí o que você mais curtiria do festival!👇 #cena2k22 #rap #trap #EntretêNews ♬ som original – Capricho

Porque “rap é compromisso, não é viagem”. E se música é terapia… “O rap é minha casa”!

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