13RW: “Precisamos mostrar o imperfeito na TV”, diz Christian Navarro
Ao lado de Ross Butler (Zach) e Miles Heizer (Alex), ator falou sobre a segunda temporada de 13 Reasons Why
Além de mostrar o outro lado na história de Hannah (Katherine Langford) e as consequências do que aconteceu com Jessica (Alisha Boe), a segunda temporada de 13 Reasons Why trará uma mensagem muito importante: precisamos criar melhor os nossos garotos.
Porque, no final das contas, foi exatamente o machismo e a cultura do estupro, muito presente nos colégios americanos, que fizeram com que Hannah se matasse, que prejudicou permanentemente a vida de Jessica e, de uma forma indireta, fez com que Alex (Miles Heizer) tentasse se matar, imitando a atitude da amiga, algo mais comum em nossa sociedade do que se pensa. Infelizmente.
Ano passado, a CAPRICHO foi até o set de filmagens da série da Netflix e conversou com boa parte do elenco. Entre eles, Ross Butler, Christian Navarro e Miles Heizer:
CAPRICHO: Como seus personagens evoluíram na segunda temporada?
Christian Navarro: No final da primeira temporada, dá pra ver o Tony aceitando que ele faz parte de uma comunidade, deixando de ser um cara isolado. Agora, realmente embarcamos em uma jornada, vendo ele se abrir, permitindo ser amado. Ele se entregou muito ao amor pelo Clay, pela Hannah e pelo ex na série durante a primeira temporada. Agora podemos o ver numa posição em que está tudo bem ser amado, e esperamos que até o fim da temporada ele possa aceitar melhor o senso de comunidade, que ele pode fazer parte dessa comunidade.
Ross Butler: Ao fim da temporada, Zach está dividido entre manter o status ao lado dos amigos do time e fazer o que ele acha que é o correto. Então, cinco meses depois, ele teve tempo de lidar com tudo que aconteceu com a Hannah e seus amigos, após ouvir as fitas. Agora ele está mais confiante em fazer o que é certo para sua família, que é sua prioridade, ao invés de proteger seus amigos.
Miles Heizer: Obviamente eu não estou morto, eu sobrevivi. (risos) Tudo começa cinco meses após essa tentativa de suicídio, que com certeza vai ser uma grande parte de sua jornada neste ano, tentando lidar com isso e descobrir qual foi a causa que o levou a fazer algo como isso.
Quando um suicídio acontece, é muito comum aparecerem casos copiando e, no caso do Alex, foi isso que aconteceu com ele?
MH: Claro que o Alex estava lidando com muitas coisas, mas obviamente o fato da amiga dele ter se matado é algo que contribuiu para ele agir desta forma, e com certeza é algo que merece ser explorado.
Você fez muita pesquisa sobre o tema, de casos de tentativas de suicídio?
MH: Sim, mas também a produção é muito boa conosco, nos dando material, falando com a gente, até mesmo no aspecto físico, para me mostrar como o corpo fica após algo como isso. Com certeza fizemos muita pesquisa e tivemos muita gente boa nos ajudando com isso.
A segunda temporada vai lidar muito com o bullying, slut-shaming e outros assuntos pesados. O quão próximos vocês ficaram desses temas pessoalmente nesta temporada?
RB: Frequentar a High School nos Estados Unidos é algo que certamente muitos de nós do elenco, e alguns espectadores, certamente já passamos em nossas vidas quando éramos mais novos. E, recebendo mensagens dos fãs, ouvindo sobre suas experiências, com certeza é algo muito pessoal pra gente, muito próximo, e que merece toda essa discussão. Quando tanta gente se conecta com aquilo, é difícil saber que acontece em todos os lugares, mas também é confortante saber que todo mundo passa por isso, incluindo a gente.
CN: É uma responsabilidade. Eu tenho duas irmãs mais velhas, e ambas passaram pelo sistema educacional dos Estados Unidos. As duas assistiram à série e a facilidade delas em se identificar com alguns momentos horríveis é de partir o coração. Primeiro porque elas são minhas irmãs, e saber que eu não posso protegê-las, que isso é como são as coisas nas escolas dos Estados Unidos, realmente é de partir o coração e inaceitável. É nossa obrigação, como atores na série, de contar essas histórias, porque está acontecendo ao redor do mundo. Nós fomos ao Brasil, e percebemos que todo mundo está lidando com isso, todo mundo está vendo essas coisas acontecendo como na série e não fazendo nada, é inaceitável. Então é nossa obrigação. Como o Ross disse, a coisa mais importante de fazer uma série como essa é poder conversar com os fãs, ajudá-los, porque eles chegam em casa, após passar por um dia ruim e vão assistir 13 Reasons Why. Então temos que continuar fazendo isso na segunda temporada.
E como vocês fazem para não serem influenciados por esses temas?
MH: Na segunda temporada estamos lidando com um material bem pesado, lendo muito sobre isso, para se preparar para a série e filmar, mas o que ajuda muito é que todo mundo da equipe tenta manter as coisas leves o suficiente. No set, as coisas não são tão tristes como vocês viram, com todos os pôsteres contra suicídio espalhados pelos corredores, é bem intenso. Eu diria com certeza tem um efeito, mas você tem que ter um bom sistema de suporte pra quando você sair daqui.
CN: Acho que isso começa e termina com a gente, porque nós nos ajudamos muito. Às vezes gravamos uma cena que é trágica e todo mundo está em lágrimas e quando fala “corta!”, todos rimos e temos bons momentos. Isso faz com que tudo fique mais fácil pra chegarmos todos os dias e possamos nos comprometer 100%. Porque eu sei que o Mles vai estar ali pra mim, que o Ross vai estar ali pra mim, a Katherine. Isso significa muito.
Os novos episódios vão mostrar o outro lado do que aconteceu com a Hannah. O que vocês podem contar pra gente sem entregar tantos spoilers?
CN: Eu fiquei muito animado em poder saber que poderíamos explorar muito mais do Tony. Porque, na primeira temporada, o Tony era apenas uma ideia, vimos apenas flashes dele, e agora finalmente vamos poder vê-lo como um ser-humano. Isso me deixou muito animado, e com certeza vai responder muitas perguntas que ficaram em aberto na primeira temporada.
RB: Todos os personagens tinham segredos e que agora serão revelados, muitos segredos pessoais, que coincidem com a primeira temporada. Então as pessoas vão poder voltar para a primeira temporada, juntar os pontos e dizer, “oh, agora faz sentido porque isso aconteceu”. Os roteiristas realmente fizeram um bom trabalho em fazer essas duas temporadas conectadas. E, vendo os acontecimentos pela nossa perspectiva, vai poder mostrar novos pontos de vistas das coisas ditas pela Hannah e outros que ela não necessariamente falou. Vamos poder ver a perspectiva completa de toda a história.
Atualmente na TV temos muitas séries voltadas para adolescentes, e muitas delas retratam esse período de uma forma meio boba, o que não acontece em 13 Reasons Why. Os assuntos são retratados de uma forma mais realista e pesada. Pra vocês, como jovens talentos, qual a importância de fazer parte de uma série como essa, com tantos adolescentes se identificando com os personagens?
MH: Me sinto muito sortudo por fazer parte dessa série, porque, como você falou, é uma série bem mais madura, mais realista, porque os adolescentes estão falando todo tipo de coisas horríveis, algo que geralmente é excluído de muitas séries de TV e filmes. E acho que 13 Reasons Why fez um bom trabalho em mostrar como é realmente usar palavrões, exatamente como as pessoas fazem quando elas são adolescentes. Acho que é muito legal poder fazer parte dessa série, mostrar todas essas coisas.
CN: Acho que muitas séries de TV, especialmente as que são voltadas para o público jovem adulto, estão cheias de estereótipos. Eu não assistiria a essas séries, mas veria a nossa, porque os personagens são multifacetados, eles cometem erros, eles não têm medo de cometer erros, não são perfeitos. Agora, mais do que nunca, precisamos mostrar o imperfeito na TV, em filmes, em livros que estamos lendo, porque essa é a maioria do mundo, pessoas que não são perfeitas. Não sou o típico astro de TV, não sou alto, sou um porto-riquenho do Bronx [bairro de Nova York]. Então, se eu posso fazer, algum garoto de South Boston pode também. Isso importa muito mais do que qualquer coisa, porque eu era aquele garoto sentando em casa, e eu não tinha alguém como eu, não tinha um porto-riquenho baixinho na TV. Então, se eu puder estar ali pra inspirar alguém, isso é o que importa.
Sobre o Alex, você acha que ele se sente culpado por estar vivo? Ele está feliz por ter sobrevivido?
MH: Acho que é mais uma mistura de emoções. Ele está lidando muito com a perda de memória e confuso, por causa do dano que ele causou em seu cérebro. Isso é algo que com certeza vamos ver nessa temporada. Culpa por sua família, por fazê-los passar por tudo isso, mas também tentando entender todos os sentimentos pelos quais ele estava passado.
Na cena que assistimos, deu pra ver que o Alex está usando um andador, debilitado fisicamente por causa da tentativa de suicídio. O quão fisicamente desafiador pra você foi isso?
MH: Agora já estou bem acostumado, nem penso muito mais nisso. Mas no começo tive o acompanhamento de um fisioterapeuta, me encontrei com alguns profissionais durante a filmagem da temporada. Também tive o contato com algumas pessoas que tiveram danos cerebrais. Claro que no começo foi estranho, mas agora está muito mais fácil.
No final da primeira temporada tivemos a mensagem de que os garotos precisam ser melhores, principalmente na forma como eles tratam as garotas. Pensando nisso, o quanto os garotos mudaram?
CN: Sinto que não consigo responder isso sem entregar muita coisa, mas eu posso te dizer, do fundo do meu coração, que estou muito orgulhoso. Tive um professor de atuação que dizia, “90% uma coisa, 10% outra coisa”. E todos os personagens são 10% uma coisa, e 90% outra coisa. O que fizemos esse ano foi pegar 10% de cada personagem da série, e invertemos essa conta. Pessoas que vocês pensavam que eram irrecuperáveis, ou os que mais conseguiriam redenção. Os garotos se tornaram homens, acho que é a melhor maneira de responder isso. Todos os garotos da série viraram homens no final dessa temporada. As pessoas estão tomando decisões.
Viraram homens bons?
CN: Sim, homens bons. Quase não acreditei quando li a primeira vez.
* A CAPRICHO viajou à Califórnia a convite da Netflix.