Primeira-dama, Janja quer falar de política e não sobre ‘marca de batom’

Em entrevista ao jornal O Globo, socióloga e esposa do presidente ainda rebateu acusações de que 'trabalha como se tivesse sido eleita'

Por Andréa Martinelli Atualizado em 29 out 2024, 18h09 - Publicado em 6 nov 2023, 13h30

A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, afirmou em entrevista ao jornal O Globo, que deseja ter um gabinete próprio no Palácio do Planalto e rebateu críticas de opositores e aliados ao dizer que não por ser “mulher do presidente que vou falar só de marca de batom”. É lá no Planalto que seu marido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, executa suas atividades, além de despachar com auxiliares do governo.

“Falam muito de eu não ter um gabinete, mas precisamos recolocar essa questão. Nos EUA, a primeira-dama tem. Tem também agenda, protagonismo, e ninguém questiona. Por que se questiona no Brasil? Vou continuar fazendo o que acho correto. Sei os limites. Eu quero saber das discussões, me informar, não quero ouvir de terceiros”, pontuou.

Sobre as críticas de aliados do governo, que a acusam de atuar como se ela, na verdade, também tivesse sido eleita, disse que “o povo acha que eu fico lá sentada. Minhas conversas com o presidente são dentro de casa, no nosso dia a dia, no fim de semana, quando a gente toma uma cerveja. Quando estou incomodada, eu vou lá e questiono. Não é porque eu sou mulher do presidente que vou falar só de marca de batom.”

Não é porque eu sou mulher do presidente que vou falar só de marca de batom

Janja, primeira-dama do governo Lula 3

Tanto aliados, quanto opositores do governo, acreditam que Janja extrapola os limites da atuação de uma primeira-dama e tenta influenciar decisões. O tema gerou tanto desconforto que opositores vetaram a instalação do gabinete desejado por ela no Planalto.

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Por aqui, Janja realmente foge à regra. Diferente dos Estados Unidos, país citado em sua fala, o Brasil tem um histórico de primeiras-damas com pouco protagonismo político. De modo geral, ao longo da história, o perfil é acessório, com personagens reclusas, dedicadas a atividades diplomáticas e ao cuidado com a casa ou população. Bem diferente do que Janja tem feito.

Entre as ações da primeira-dama que são criticadas, estão as lives no Instagram para divulgar a gestão do marido, em que ela convida representantes dos ministérios para participar. De modo geral, a intenção dela é trabalhar temas prioritários para o governo e torná-los mais popular, alcançando um público mais jovem por meio das redes sociais – um espaço que, ao mesmo tempo que incomoda, é visto como um trunfo.

Em entrevista ao caderno Ela, do jornal carioca, a primeira-dama ainda lamentou que “há pouquíssimas mulheres” no entorno do presidente e disse que “faz parte” do jogo a demissão de ministras do governo.

Ao longo deste primeiro mandato, pelo menos três mulheres já saíram de cargos d tomada de decisão: Daniela Carneiro, ex-ministra do Turismo, Ana Moser, ex-ministra do Esporte, além da presidente da Caixa, Rita Serrano. Suas demissões foram estratégicas para o governo acomodar aliados da base do chamado “centrão” no Congresso.

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